Arouca em Casa

Arouca em Casa

Dizem que quem nada espera vê o caminho da felicidade de uma forma mais clara. Talvez haja uma ponta de verdade nessas palavras.
Conheço o Tiago Pinho apenas de vista. Não sei sequer se alguma vez tínhamos falado. O convite para participar no “Arouca em Casa” chegou através do Messenger. Esperava-me uma semana intensa de aulas na universidade (os meus colegas de Mestrado poderão confirmar) com entregas e apresentações de trabalhos onde em algumas das noites o meu encontro com a cama foi já para lá das 5h da manhã. Mesmo não conhecendo pessoalmente o Tiago custou-me bastante recusar o convite. Felizmente, aconteceu esta segunda edição e tive direito a novo convite. Agora sim, um pouco mais folgado nos meus estudos, pude responder de forma positiva e, assim, dar o meu pequeno contributo para uma causa que é bastante maior.
O tempo entre o convite e a atuação era de apenas alguns dias pelo que era urgente decidir o que iria ser apresentado. Mesmo assim perdi alguns dias apenas a pensar no que teria levado o Tiago a fazer-me o convite. Depois, foi deixar-me levar pelo delicioso processo de preparação da atuação.
Há mais de vinte anos, quando ainda morava com os meus pais, era frequente trazer os amigos lá a casa para me ouvirem ao piano, “obrigando-os” a reagir às minhas primeiras criações que registei com especial carinho. Lembro também a tarde em que um amigo do peito se sentou comigo ao piano no dia em que cheguei com o meu primeiro songbook dos Queen. Muito bom quando os primeiros acordes de “It’s a Hard Life” começaram a soar...
Foi assim que se começou a decidir na minha cabeça aquilo que iria ser a minha meia hora no “Arouca em Casa”. Não seria um concerto mas, isso sim, uma espécie de conversa com alguns amigos. Uma troca de memórias. Das boas, claro! Resolvi começar pelas da infância prometendo a mim mesmo que não tocaria o Dartacão; parecia-me demasiado óbvio. Foi um ótimo exercício de “coração e amizade” a seleção desses primeiros temas. Infelizmente, alguns acabaram por não resultar tão bem numa primeira abordagem ao piano e acabaram por ficar fora do alinhamento.
Depois quis de alguma forma transmitir um pouco do que têm sido as minhas noites (é quando consigo tempo livre) neste período de quarentena. Em boa hora decidi procurar a novela “Pedra sobre Pedra” para rever com a Odete. Têm sido serões deliciosos. Nem sequer dá qualquer trabalho pois os episódios estão todos disponíveis no daylimotion ou no youtube. Tudo é tão teatral que acaba por ser como que um verdadeiro workshop na arte de representar: Murilo e Pilar estão soberbos; Cândido Alegria deixa saudade; o Sérgio Cabeleira e aquele modo particular de falar merecem a minha vénia; o talento do Adamastor e o Carlão é enorme; o “retratista” Jorge Tadeu é hilariante; as tropelias da delegada (“delegado é meu marido”) e o seu marido Queirós que viria a dar apelido a um bom amigo na Banda de Arouca deixam saudades; e, claro, a bela Marina Batista que vivia um amor secreto com o Leonardo Pontes aviva em mim as melhores memórias possíveis. Tudo isso volta a colocar-me nos corredores do velho liceu junto de gente de quem nunca larguei a mão. Estava decidido, uma das canções a apresentar teria de ser dessa novela. Optei pelo tema do Murilo e da Pilar. Faz-me lembrar um tempo em que vivia também um amor em segredo. De tal forma que nem o “objeto” desse amor o sabia. Mas quem é que nunca transportou um amor em segredo?! E depois, raios... A Marina Batista até “envelheceu” bastante bem. Mas não digam isso à Odete! Bem, adiante...
Uma viagem pelas memórias através do instagram e do facebook não poderia seguir em frente se o Carlos Paião não tivesse parte ativa. A forma como constrói as letras ensina mais do que vinte telescolas. Aqui a dificuldade em decidir o “vinho do porto” esteve relacionada com o excesso de oferta por parte do compositor.
Depois era também necessário abraçar os amigos do teatro de quem já sinto tanta falta. Felizmente havia também muitas boas músicas para escolher. O regresso aos palcos há-de estar para breve.
Para finalizar optei pela “Festa da Vida” numa escolha um bocadinho egoísta pois é uma canção que me diz muito. Ou talvez não seja assim tão egoísta, exatamente pela mesma razão.
Felizmente deu ainda para satisfazer um desejo do meu filho Tiago com o “Ti Manel das Cebolas” e houve ainda tempo para o meu original “Avião de Papel” de 2007 e que, para os curiosos, podem consultar a letra e ouvir aqui (com desafinações).
Queria agradecer a todos pelas palavras simpáticas que me dispensaram. Desculpem as várias falhas, sobretudo no instagram, durante a transmissão. Peço ainda desculpa pois, como percebo pouco de tecnologia e nunca tinha feito um direto no instagram, acabei por perder todos os comentários que lá deixaram. Assim, foi-me impossível ver o que escreveram. Mas os do facebook já os reli vezes sem conta. Obrigado a todos. Em especial aos que tiveram a ousadia de me mimar com mensagens privadas. Há uma em especial que me tocou muito. Quando for grande eu é que quero ser como tu.
Abraços e beijinhos e muito obrigado por terem proporcionado uma noite assim a um pobre homem como eu.
Para os curiosos deixo o alinhamento da noite.
Até sempre.

Vitinho
Era uma vez... o espaço
O Maestro da Charanga
Super Fantástico
Fábulas da floresta verde
Entre a serpente e a estrela (da novela Pedra sobre Pedra)
Vinho do Porto (Carlos Paião)
Ser Ator
Ti Manel das Cebolas (Popular)
A Festa da Vida (cantada pelo Carlos Mendes na Eurovisão em 1972)
What a Wonderful World

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