tag:blogger.com,1999:blog-88977457239909628912024-03-13T15:17:17.597+00:00Avião de PapelMiguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.comBlogger316125tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-27277536697561081192023-10-05T16:46:00.002+01:002023-10-05T16:54:38.198+01:00O reencontro – 10.º B (1991/92) e 11.º B (1992/93)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpBX3II5KdZj6epr48kRVrTjxCX_qALPHXLmyVrcVphDmuRK3Dqwx9Lasx9rJrtDq71Ig1QNFbMEs7FTPYZCxaOImWIIxVn6HV-BURgIqwoiEAEeDkAj2TvnjK9JZHqZCg1HtPJC-L5fju6ewT-s7BPpEiXyeL2GVaDB5t2cTHk4ob5btCRhlwzbaIOUUm/s4938/316%20-%2010B%20-%20Foto%201.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3930" data-original-width="4938" height="255" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpBX3II5KdZj6epr48kRVrTjxCX_qALPHXLmyVrcVphDmuRK3Dqwx9Lasx9rJrtDq71Ig1QNFbMEs7FTPYZCxaOImWIIxVn6HV-BURgIqwoiEAEeDkAj2TvnjK9JZHqZCg1HtPJC-L5fju6ewT-s7BPpEiXyeL2GVaDB5t2cTHk4ob5btCRhlwzbaIOUUm/s320/316%20-%2010B%20-%20Foto%201.png" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFHhxK-fQh379jPXsoNb-6SsKfkBUiwRK635sLWDflHlHhnNat6uruWRULxNRJ4KRwi_PduUN-Gnawu2FtztyW456rpvHaYkJY2-63v78eXMn89dbATU8L7HEYImkNoFPZngbyGsEdUMwort0nQlcDD5qq-Fgl2_DZMvyAfOfdFHa19abhe1sSCFHPdg1M/s2480/316%20-%2010B%20-%20Foto%202.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1874" data-original-width="2480" height="242" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFHhxK-fQh379jPXsoNb-6SsKfkBUiwRK635sLWDflHlHhnNat6uruWRULxNRJ4KRwi_PduUN-Gnawu2FtztyW456rpvHaYkJY2-63v78eXMn89dbATU8L7HEYImkNoFPZngbyGsEdUMwort0nQlcDD5qq-Fgl2_DZMvyAfOfdFHa19abhe1sSCFHPdg1M/s320/316%20-%2010B%20-%20Foto%202.png" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlRY28uKswRnTVoOLfv55O2D1BJDsFBn49KFimoT-zRIJJd-i2G1Ne4Cf-0ec1Y3Xrxx5AnkgW6SMRt8WUmvqQ2i4GcRsWsoDZlHD1rXl53sQKpNv1uuZRtqqdOUtpgy2bQ7n2KPue8ejrkpy5pSMcub4XGy5z4x1jQ82IylOSy1uBHJQGRAAlzhI7TRXh/s1162/316%20-%2011B%20-%20Foto%203.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="878" data-original-width="1162" height="242" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlRY28uKswRnTVoOLfv55O2D1BJDsFBn49KFimoT-zRIJJd-i2G1Ne4Cf-0ec1Y3Xrxx5AnkgW6SMRt8WUmvqQ2i4GcRsWsoDZlHD1rXl53sQKpNv1uuZRtqqdOUtpgy2bQ7n2KPue8ejrkpy5pSMcub4XGy5z4x1jQ82IylOSy1uBHJQGRAAlzhI7TRXh/s320/316%20-%2011B%20-%20Foto%203.png" width="320" /></a></div><div style="text-align: left;"><span style="text-align: justify;">8h da manhã.<br /></span><span style="text-align: justify;">A minha mais velha, a Rita, acaba ainda de lavar os dentes e o Tiago vai enfiando os últimos livros na mochila enquanto ouço o som do motor do carro da minha irmã a aproximar-se. O mais novo, esse, tem a sorte da escola ser ainda próxima de casa e de começar um pouco mais tarde.</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both;">Enquanto aceno à minha irmã e os vejo perderem-se no horizonte fico sempre a matutar porque não preferem ir de autocarro. Talvez não saibam como era no nosso tempo. Um dia hei-de dizer-lhes que a minha escola começava muito antes de entrar no recinto. Não sei se eles vão acreditar, mas vou dizer-lhes que começava ao som do rádio. Isto já depois de ter subido ao combro do campo junto à serração da Barroca porque os camiões ocupavam a estrada dificultando a passagem. E o tempo era precioso demais para se perder pois o autocarro parecia andar sempre regulado para aparecer 1 minuto antes da minha chegada à paragem e que era quase sempre feita a correr. Mas o início do ritual diário tornava-se oficial já em pleno autocarro, sempre apinhado de gente, ao som do “Despertar” apresentado pelo António Sala e pela Olga Cardoso. Dessa forma, estava oficialmente aberto mais um dia de aulas.</div><div class="separator" style="clear: both;">Os meus 10.º e 11.º anos foram particularmente felizes porque não pertenci a uma turma. Pertenci, isso sim, a uma família. Das que se dão bem, saliente-se. Éramos muito unidos. </div><div class="separator" style="clear: both;">Vendo as coisas de forma mais lúcida e a esta distância temporal, sei que era com estes que gostaria de voltar a pisar o campo de futebol ou a dar uso às enxadas da escola em mais uma aula de Produção Vegetal. Era com estes que eu gostaria de voltar a planear as mais imprevisíveis formas de usar “copianços” nos testes ou de me sentar no bufete a jogar uma suecada. Com estes, sempre estes, voltaria a amar a mesma menina em segredo com a cumplicidade das colegas da carteira da frente. Voltaria a fazer tudo desde que fosse novamente com estes.</div><div class="separator" style="clear: both;">Passaram 30 anos.</div><div class="separator" style="clear: both;">Algumas destas caras nunca mais as tinha visto. Mas o dia 4 de agosto de 2023 ficou na história. O dia do reencontro. Dos abraços apertados. Um a um fomos chegando ao local previamente combinado. A cada chegada abria-se um par de braços e rasgava-se um sorriso. Dos grandes. Porque esse tempo estava lá longe, mas as boas memórias eram mesmo aqui ao lado.</div><div class="separator" style="clear: both;">A Amélia continua com a voz meiga e um olhar a lembrar a outra Amélia, a dos “olhos doces” cantada pelo Carlos Mendes. O Carlos apenas perdeu o cabelo, o resto continua lá. Sobretudo as lembranças da sua Aprilia e das chegadas à sala de aula mesmo em cima do 2.º toque. O Nepinhas continua a trazer sempre no bolso a piada certa para dizer na hora exata. E isso dá-lhe ainda mais graça. O Neno continua a transportar consigo a bondade e o carisma próprios do líder natural desta turma. O Bruno continua a ser o amigo que todos gostaríamos de ter, mesmo que o cabelo já comece a aparecer, aqui e ali, pintado de branco. A Rosário continua como se o tempo não tivesse passado por ela o que acaba por não ser muito justo já que o espelho, a mim, está sempre a devolver-me uma quantidade enorme de rugas... Eheheh! Mas, adiante... O Freitas era uma das presenças mais aguardadas da noite por ser, de todos, aquele de quem menos sabíamos. E 30 anos não são 30 dias. O timbre da sua voz é inconfundível. Com ele trouxe-nos histórias fenomenais de uma vida preenchida pelos vários cantos do mundo. Nome de código: “Miami Beach”... Ahahah! O Pedro Alexandre continua mais reservado, mas sempre a alinhar com tudo o que se decide fazer. O outro Pedro, o Cereja, sempre bem disposto. A justificar ter sido também um dos principais impulsionadores deste reencontro. O Vítor trouxe também as suas histórias de vida tendo sido um prazer enorme revê-lo passado tantos anos. O Paulo continua também com a sua forma inspiradora de ser e relembrou alguns episódios que estavam já um pouco turvos na minha memória, nomeadamente na disciplina de Francês. Bons tempos. E, claro... Todas as turmas têm de ter uma Teresa. Nós temos duas. Até nisso nos destacamos. A alma, o riso e muito do que aconteceu neste jantar, tem o selo das duas Teresas. Sou um privilegiado.</div><div class="separator" style="clear: both;">O jantar foi bem regado, cheio de boa disposição e com muitas aventuras novas a juntar a tantas outras dos tempos do liceu. Correu tão bem que no fim do repasto ainda houve tempo para visitar o “Cheiro Verde” para a rodada final. Todos concordamos em repetir a dose lá para dezembro ou janeiro, se possível também com alguns dos que não conseguiram estar presentes neste primeiro reencontro.</div><div class="separator" style="clear: both;">Voltei para casa de coração cheio. Continuamos uma família. Há tanto de bom para contar aos meus filhos. Talvez eles passem a preferir o autocarro.</div><div class="separator" style="clear: both;">Há um filme de 1986 onde o Richard Dreyfuss, na parte final, diz a seguinte frase: “Nunca mais tive amigos como quando tinha 12 anos. Mas será que alguém tem?”</div><div class="separator" style="clear: both;">Vem mesmo a propósito. Encontramo-nos no próximo jantar.</div><div class="separator" style="clear: both;">Até já.</div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">Miguel Brandão</div></div>Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-9882098759227121652022-12-10T09:55:00.001+00:002022-12-10T09:55:43.799+00:00Portugal - Marrocos e a minha 4.ª classe<p style="text-align: justify;"> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_nCVRFRE2ebisb1DllRa8VlxEioZTRpW1jj7dARKyjFffCyL-74Zk8vvK4UKwptR_O_dlVRXXQtkux1nZvNgXYSC_RAjpn5a_KGxWCVNgk9vb1RVizFnJVrK8SzQ6TlSpWehHz00-wfRa1EJ0BCuNa7qYq0m237xqbbStFtLPT86XaaVeQVwVRR5_vw/s4157/315%20-%20Portugal%20Marrocos%201986.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4157" data-original-width="3156" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_nCVRFRE2ebisb1DllRa8VlxEioZTRpW1jj7dARKyjFffCyL-74Zk8vvK4UKwptR_O_dlVRXXQtkux1nZvNgXYSC_RAjpn5a_KGxWCVNgk9vb1RVizFnJVrK8SzQ6TlSpWehHz00-wfRa1EJ0BCuNa7qYq0m237xqbbStFtLPT86XaaVeQVwVRR5_vw/s320/315%20-%20Portugal%20Marrocos%201986.png" width="243" /></a></div><br /><p></p><div style="text-align: justify;">Hoje, às 15h00, Portugal e Marrocos encontram-se no Campeonato do Mundo de futebol para decidir quem irá jogar as meias-finais. Assim que este encontro ficou decidido, assaltou-me uma memória de infância que partilhei com o meu pai. Na verdade, a primeira vez que me recordo de um Portugal - Marrocos corria o ano de 1986 e tratava-se de um encontro decisivo para a passagem da fase de grupos do Mundial de 1986 realizado no México. Nessa altura era apenas a segunda participação de Portugal num torneio tão importante, mas, como hoje, Portugal era favorito. Mesmo assim, acabaria por ser eliminado depois de uma inesperada derrota por 3-1, nada valendo o tento apontado pelo Diamantino, um dos meus ídolos de infância.</div><div style="text-align: justify;">Mas não é esta a memória que quero partilhar convosco. O que vos queria dizer é que em 1986 eu andava pela 4.ª classe e o meu professor da escola primária era precisamente o meu pai. No dia seguinte à derrota de Portugal com Marrocos, o meu pai escreveu no quadro o título de uma composição para todos os alunos fazerem. E ao voltar para a secretária vinha com um sorriso muito particular (e que me é muito familiar) estampado no rosto. O título era: "Portugal-Marrocos".</div><div style="text-align: justify;">Há dias, ao contar este episódio ao meu pai ele já não se recordava. Eu disse-lhe que ia procurar os meus cadernos da escola primária pois tinha a certeza absoluta de tal memória. Pois bem, é a foto dessa composição, do meu caderno de 1986, que hoje vos deixo. Até eu estava bastante curioso para perceber o que tinha escrito. Quando levei o caderno ao meu pai ele ficou admirado por eu ainda ter na minha posse, em forma escrita, tão doces lembranças. E sorriu enquanto eu lhe ia lendo a minha composição. Acabei por não lhe dizer, mas enquanto procurava o caderno sem saber ainda se seria bem sucedido (apenas na questão de encontrar o caderno, porque a memória, para mim, era bastante clara) só me assaltava um pensamento que repetia para mim vezes sem conta: "quase que podia jurar que a composição foi escrita numa quinta-feira". Escusam confirmar. Eu próprio já o fiz. Sim, foi numa quinta-feira.</div><div style="text-align: justify;">Um dia ainda hei-de perceber como é que o meu cérebro arquiva estas memórias de infância tão boas. Ainda bem que o faz.</div><div style="text-align: justify;">Aqui fica o texto. Não vale rir.</div><div style="text-align: justify;">Se quiserem ver com a minha caligrafia original basta clicar na imagem.</div><div style="text-align: justify;">E boa sorte a todos para o jogo de hoje, às 15h00.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i>Redacção</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Portugal-Marrocos</i></div><div style="text-align: justify;"><i><br /></i></div><div style="text-align: justify;"><i>Portugal -1- Marrocos - 3 -.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Quem marcou o golo de Portugal foi Diamantino. Portugal teve dois penaltys roubados. Havia um jogador muito perigoso do Marrocos que se chamava Bouderbala. O número 17 do Marrocos marcou os dois primeiros golos e o número 9 marcou o terceiro. Eu acho que o Sousa foi o que jogou melhor na equipa Portuguesa. Adeus Mundial 86.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Rossas, 12 de junho de 1986</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Rui Miguel Soares Brandão</i></div>Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-45918529298971554212022-07-14T18:15:00.001+01:002022-07-14T18:27:06.243+01:00Houve um tempo...<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGAFNlNXVQnnWC_idDjGeVnLp5ZQHjwHPej_X-uvtZ8gXj6eXnqoPUUFJ2j8mnUSWa0655S2mxHmNSccQKMYQiKUxKyTlcVrkVlTKv9l5F6EPJ6-Sfw6O_Rd3f6too-P4ub5CpNjnj37_PiIEbUR_HCUcnANaQOF0F-mshvDONGcRgblpYvzpoMq_Mxg/s1470/314%20-%20Pedro%20-%20Pala%CC%81cio%20de%20Cristal.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1123" data-original-width="1470" height="244" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGAFNlNXVQnnWC_idDjGeVnLp5ZQHjwHPej_X-uvtZ8gXj6eXnqoPUUFJ2j8mnUSWa0655S2mxHmNSccQKMYQiKUxKyTlcVrkVlTKv9l5F6EPJ6-Sfw6O_Rd3f6too-P4ub5CpNjnj37_PiIEbUR_HCUcnANaQOF0F-mshvDONGcRgblpYvzpoMq_Mxg/s320/314%20-%20Pedro%20-%20Pala%CC%81cio%20de%20Cristal.png" width="320" /></a></div><p style="text-align: left;"></p><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que eu era pequenino.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que os amigos eram mais do que os dedos das mãos.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que o recinto da escola primária tinha todas as brincadeiras à nossa espera.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que existia um grupo coral dos mais pequeninos.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que havia o teatro dos mais pequeninos.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que havia o Grupo Cultural e Recreativo de Rossas a ensaiar na casa do Sr. Ferraz.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que se cantavam os Reis.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que existiu um orfeão em Rossas.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que se jogava futebol no campo do parque.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que havia um clube de vídeo.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que se gravavam os videoclips do Top +.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que se jogava bilhar no Cheiro Verde.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que se faziam chamadas da cabine telefónica junto ao sítio das "regueifeiras".</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que se aprendia música onde agora é a biblioteca municipal.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que o meu pai tinha um toyota corolla e o teu pai uma renault 4L.</div><div style="text-align: justify;"><div>Houve um tempo em que existiu um grupo de jovens.</div><div>Houve um tempo em que se cantou em festivais.</div><div>Houve um tempo em que se cantava no grupo coral mais crescido.</div></div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que o liceu era uma segunda casa.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que se andava de bicicleta.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que se jogava Commodore Amiga.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que se apanhava o autocarro das 8h20 para S. J. da Madeira para comprar jogos.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que se ia ao Porto ao cinema.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que se passavam as tardes de férias (como a de hoje) na serra com os amigos.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que os amigos já não eram mais do que os dedos das mãos.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que deixaram de ser precisas as duas mãos.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que deixei de olhar para as mãos.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que, por opção, deixei de crescer.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que a amizade era feita de presença.</div><div style="text-align: justify;">Houve um tempo em que a amizade era feita de pertença.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Tudo tem um tempo. Este é o de te dar aquele abraço como faço todos os anos.</div><div style="text-align: justify;">Este é o tempo. Enquanto as forças não me faltarem, nunca passará.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Poderia dar-te um abraço daqui até à Holanda.</div><div style="text-align: justify;">Permite-me que me estique um bocadinho mais. Um abraço apertado, daqui até à infância.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Schmeichel (eu lá saberei porquê)</div>Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-3390453709672208212021-07-22T18:50:00.001+01:002021-07-22T18:50:13.636+01:00D'Artacão e os Três Moscãoteiros - 29 de julho nos cinemas<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyVOlAkQQ53kqsoMlSuOKCFGcNjD0zFe6BKd554H3Us4qAK3TuiRB4rQHbn_271KR5nMAUkU9iRMyB9PaMt54vxdRl8cDYjJ83oMy-Xd4BzcbG1EZLoDil6iZDZbkCtp12C_ErHb-8kxMB/s1901/313+-+Dartaca%25CC%2583o.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1901" data-original-width="1419" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyVOlAkQQ53kqsoMlSuOKCFGcNjD0zFe6BKd554H3Us4qAK3TuiRB4rQHbn_271KR5nMAUkU9iRMyB9PaMt54vxdRl8cDYjJ83oMy-Xd4BzcbG1EZLoDil6iZDZbkCtp12C_ErHb-8kxMB/s320/313+-+Dartaca%25CC%2583o.png" /></a></div><p></p><div style="text-align: justify;">No próximo dia 29 de julho vai estrear nos cinemas portugueses um filme do D'Artacão.</div><div style="text-align: justify;">Andava ainda na escola primária quando o D’Artacão aterrou na RTP1. Na altura, fui alertado para a qualidade da série pelo Eduardo, meu grande amigo de infância. Os episódios passavam aos sábados ao início da tarde, precisamente no mesmo horário em que o meu pai abria a biblioteca escolar para todos os meninos que quisessem requisitar livros para ler em casa. Uma das vantagens de ser filho de um professor foi ter conseguido que o meu pai alterasse o horário de atendimento para que assim eu e todos os meus amigos pudéssemos ver o nosso novo herói sem prejuízos das nossas leituras extracurriculares.</div><div style="text-align: justify;">Lembro-me de sofrer verdadeiramente com todo o desenrolar da história. Qualquer armadilha ou imprevisto quase me fazia chorar tal era a minha identificação com os heróis da série. Quem não se lembra do colar de pingentes de diamantes, do Falcão Azul (adorei o episódio em que apareceu; a voz do António Feio ainda ressoa no meu cérebro), ou daquele episódio em que após várias provas D’Artacão quase se tornou Moscãoteiro (fiquei tão triste quando não conseguiu)?!</div><div style="text-align: justify;">No antigo quiosque de baixo comprei algumas saquetas (poucas, pois os meus pais nunca foram de alimentar esses pequenos vícios) onde vinham uns autocolantes circulares, uma chiclete e ainda um pequenino boneco pela modesta quantia, creio, de 5$00. Lembro-me do meu amigo Eduardo ter ido a minha casa num fim de tarde apenas para me mostrar um soldado que lhe tinha saído numa das carteiras. Que memórias tão boas. Na verdade, esta série, para além de toda a nostalgia, recorda-me muito a turma de alunos da minha mãe, em particular os bons amigos Eduardo e Paulo Daniel. Motivo mais do que suficiente para querer ver este filme que estreia já no próximo dia 29 de julho.</div><div style="text-align: justify;">Quem não sente já saudade do Pom, do Mordos, do Dogos, do Arãomis, do Richelião, do Conde de Rocãoforte (mais conhecido como Bigode Preto), do Senhor de Treville, da Julieta, do Rofty ou do Widimer?</div><div style="text-align: justify;">Pelo que vejo na internet, a banda sonora composta por Guido e Maurizio de Angelis está ainda mais refinada, superiormente interpretada por uma belíssima orquestra.</div><div style="text-align: justify;">Vou preparar as pipocas e já venho.</div><div style="text-align: justify;">Mais alguém com saudades de um filme assim?</div>Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-57225974790474342002021-07-21T08:40:00.004+01:002021-07-22T18:50:30.707+01:0045 Anos - My Back Pages<p><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/V_Df39PjkwA" title="YouTube video player" width="560"></iframe></p><div style="text-align: justify;">Quando eu era pequenino, havia uma coisa a que os adultos chamavam infância. <br />Em casa, o ídolo de sempre era o meu irmão. Com ele jogava à bola no corredor de casa, mesmo levando uns ralhetes da minha mãe. Ou fazíamos autênticas finais europeias onde os jogadores eram peças de xadrez e as balizas feitas de pequenos legos. Aprendi a explorar a capacidade inventiva. As minhas irmãs também me mimavam muito por ser o mais novo pelo que as minhas memórias são as melhores possíveis. Era o tempo da cassete com música da Banda Musical de Arouca que a minha irmã Isabelita colocava no gravador ou da leitura apressada da revista “Juvenil” que chegava pelo correio para a minha irmã Cristina. Gostávamos de fazer muito em conjunto. Uma das partes preferidas da casa era a gaveta onde o meu irmão guardava as cadernetas de cromos que, de vez em quando, me autorizava a consultar na sua ausência. Lá se viam os ídolos da equipa principal do Benfica, o Ruy o Pequeno Cid ou os aviões saídos dos invólucros das chiclas “Pirata”. Era o tempo dos serões à volta da fogueira, a confraternizar, sentado no colo da minha mãe ou a jogar à bisca dos três com o meu pai. Rezava-se o terço e depois via-se a telenovela, o Poirot, o Raio Azul, os Soldados da Fortuna ou o 1,2,3 onde esperávamos com alguma ansiedade as rábulas do saudoso Fininho e ficávamos a torcer pelo Arnaldo e pela Rosete enquanto o Carlos Cruz dizia o célebre “e ainda”...<br />Felizmente, o recinto da escola primária era ali mesmo ao lado. Era lá que se juntavam amigos de todos os lugares da freguesia ao final do dia. Era o tempo dos treinos para as corridas da Festa de Nossa senhora do Campo. Dos lados das Senras e da Portela, chegavam a trazer estacas de madeira com pregos onde se colocava um foguete que servia de vara a transpor. Era assim que jogávamos ao salto em altura como se fôssemos autênticos atletas olímpicos. Uma forma de termos ali mesmo ao pé o Fernando Mamede, a Rosa Mota ou o Carlos Lopes que nos faziam ficar colados ao pequeno ecrã. Ainda trago na memória os arcos que adornavam os dias de festa e que eram deixados junto ao muro da escola com cerca de uma semana de antecedência. Para nós isso era ótimo pois funcionavam como um verdadeiro escorrega.<br />Era também o tempo da mudança de casa (a distância, felizmente, era mínima) e das finais europeias do meu Benfica, aí já no ciclo preparatório, onde vivi o meu primeiro amor, com troca de bilhetinhos, cuja interlocutora ainda hoje me desperta uma enorme afeição.<br />Depois haveria de chegar a adolescência e também o ZX Spectrum e o Commodore Amiga. Memórias inapagáveis de bons amigos e de deliciosos momentos passados em frente a um monitor. Num dos aniversários os meus pais compraram-me uma bicicleta, que ainda existe e que ainda hoje guardo como um dos presentes preferidos.<br />Era o tempo dos ensaios de teatro, do grupo coral dos mais pequeninos, do grupo de jovens e das aulas de piano em São João da Madeira aos sábados.<br />Depois vieram tempos muito difíceis na universidade atenuados pelas memórias únicas da minha primeira namorada. Primeira e última, acrescente-se. A verdade é que já vamos em 25 anos e eu continuo a apaixonar-me todas as manhãs.<br />Vieram ainda idas em conjunto a França, à Alemanha, a Espanha, entre passeios, atividades e festivais com amigos que jamais esquecerei.<br />Depois vieram os filhos. O melhor que me poderia acontecer. A quem tento deixar o exemplo, mesmo não tendo o engenho. E que anseiam por um pai que consiga passar mais tempo em casa. Será, de coração, a minha próxima missão.<br />Os tempos mudaram. As responsabilidades aumentaram. Talvez por isso é que Deus nos põe esses novos desafios quando já estamos nos 45. Para sermos capazes de os concretizar.<br />Hoje festejo 45 anos de gratidão. Já não tenho a força da juventude para tocar várias violas ao mesmo tempo. Que eu saiba discernir o pouco que ainda serei capaz de dar. A inspiração chega através do Bob Dylan e de uma canção que ouvia muito na minha adolescência: “My Back Pages”.<br />Aqueles dois versos não me saem da cabeça. São eles a minha motivação.</div><div style="text-align: justify;"><br /><i>“Ah, but I was so much older then<br />I’m younger than that now”</i><br /><br /></div><div style="text-align: justify;">Um abraço sentido a todos os meus amigos. Obrigado por esta linda viagem.</div><div style="text-align: justify;"><br />Miguel</div>Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-49610801038022798052021-07-14T20:00:00.005+01:002021-07-14T22:47:39.487+01:00A estrada velha<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQ2KOdIktQEoMDQMr1m-gXJ6cCQJoJC0ocN0vxa2bhgpdewamSZQiTscIgnndeBPLmhfo867zs_WuQFcoYo7Asc-djgj6Z7uWl2pH59OWHah8-DHEwvPzKGof88v6okAPF4Iw5XDGaoYL0/s2048/311+-+A+estrada+velha.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1307" data-original-width="2048" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQ2KOdIktQEoMDQMr1m-gXJ6cCQJoJC0ocN0vxa2bhgpdewamSZQiTscIgnndeBPLmhfo867zs_WuQFcoYo7Asc-djgj6Z7uWl2pH59OWHah8-DHEwvPzKGof88v6okAPF4Iw5XDGaoYL0/s320/311+-+A+estrada+velha.png" width="320" /></a></div><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">As lições ou exemplos de vida que nos são deixados pelos pais nem sempre se apresentam na primeira pessoa. Muito menos de forma direta. Aparecem nas entrelinhas dos que sabem estar atentos. Nunca falei com o meu pai sobre algo que deixou em mim e que recordo (e uso) frequentemente na minha vida. Tem a ver com as idas ao Porto durante a minha infância. Não foram muitas as viagens mas, sempre que nos deslocávamos ao Porto, o meu pai escolhia sempre a estrada velha. “Por São João era melhor”, insistia eu repetidamente. Mas o meu pai escolhia sempre ir pelo fundo do concelho passando por Lourosa. Pelo caminho, ao volante do saudoso toyota corolla branco, ia apontando casas de colegas seus ou da minha mãe e recordando histórias da sua juventude no mesmo percurso que nessa altura era percorrido pela Feirense até ao Seminário de Vilar. Só alguns anos mais tarde interiorizei o valor deste gesto. As idas eram ao Porto, mas as viagens eram sempre ao passado, aos amigos que sabemos já não rever, aos lugares e às pessoas onde, a certa altura e num certo tempo, deixámos o melhor de nós mesmos.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Estás de parabéns, Pedro. Esta é a forma que hoje escolhi para te abraçar.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">A variante é o caminho de todos os dias para o trabalho, mas hoje queria dizer-te que vim pela estrada velha. Há coisas que estão diferentes. Há lugares mais arranjados e passeios e parques a tornar o caminho mais bonito. Há mais carros e, vê lá tu, até as pessoas parecem mais. Há ainda muito de bom para apreciar e onde nos podemos perder. Mas não me sai da cabeça as vezes que vínhamos dos ensaios da banda no carro do meu pai, tanto os da tarde como os da noite. Há muita amizade escrita ao longo desses 7 km de estrada num tempo onde ainda éramos pequenos e os outros é que estavam obrigados a ser grandes.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Hoje não me vou alongar, amigo. Bem sabes que escreveria 100 páginas de um só fôlego para festejar este dia. Não vai ser o caso. Queria apenas que soubesses que vim pela estrada velha. Foram 10 minutos. Foram mais de 40 anos. É uma eternidade.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Hei-de ser criança até o dia em que a morte me levar.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Parabéns.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><i>Two roads diverged in a wood, and I</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><i>I took the one less traveled by,</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><i>And that has made all the difference.</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="white-space: pre;"> </span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span> </span><span> </span><span> </span><b><i>The Road Not Taken, Robert Frost</i></b></div></div>Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-7783183243424430342021-05-24T11:30:00.002+01:002021-05-24T11:30:14.694+01:00Filho, não trazes, por acaso, uma faca?<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYaoTGE_s0EYb1pHL8KB2h8B1vWnRX7In30SpTT7PjnJeBjqGZoteUaLrmPmDpswrwswK2o41JA2cZdA2bOkUaD7lf6Ai3FgyFNh9T3Tcn938Z4cxU0LEv0EKZ1vNjHS_mQ6E5OG7J9DUY/s1687/310+-+80+Anos+Ma%25CC%2583e.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1400" data-original-width="1687" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYaoTGE_s0EYb1pHL8KB2h8B1vWnRX7In30SpTT7PjnJeBjqGZoteUaLrmPmDpswrwswK2o41JA2cZdA2bOkUaD7lf6Ai3FgyFNh9T3Tcn938Z4cxU0LEv0EKZ1vNjHS_mQ6E5OG7J9DUY/s320/310+-+80+Anos+Ma%25CC%2583e.png" width="320" /></a></div><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Olá mãe.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Hoje estás de parabéns. São 80 anos, uma idade bonita, a condizer contigo.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">O dia amanheceu bem cedo e, à hora habitual, lá estava eu juntamente com os meus irmãos para te ajudarmos a levantar e te darmos o pequeno-almoço. Um ritual que se repete já perdido no tempo e que hoje em tudo foi igual. Ou por outra, quase tudo... Porque ao despedir-me, mesmo sem que ninguém notasse, toquei um bocadinho mais na tua mão.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Foi guiado por essa mão que entrei pela primeira vez na escola primária onde me apresentaste os amigos Eduardo e Paulo Daniel. Não eram uns meninos quaisquer. Eram amigos bons que se tornaram pessoas boas cujo percurso vou acompanhando à distância e que me fazem constantemente lembrar de ti.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Foi também guiado por essa mão que saía de casa aos domingos pouco depois das 7h da manhã a caminho da igreja. Quando comecei a tocar os primeiros cânticos, nas manhãs de inverno, carregavas tu os livros para que pudesse conservar as minhas mãos quentinhas dentro dos bolsos e não me atrapalhar quando chegasse a hora de tocar. Nos dias de hoje, a cada domingo que passa, de cada vez que abro os livros para tocar na igreja, lembro-me constantemente de ti.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Agarrado a essa mesma mão fui tantas vezes à feira na vila quando ela ainda se fazia por outros locais bem diferentes dos de hoje. As calças eram o produto mais requisitado mas ficam na memória aquelas chuteiras da marca “Rei” para usar no recém-criado torneio de futebol do parque. A cada dia 5 e 20, quando chego à vila para trabalhar na Academia e levo mais tempo a estacionar porque há feira, nesses segundos enquanto procuro estacionamento, lembro-me constantemente de ti. Sempre.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Agarrado a essa mesma mão que tantos mimos me dispensou, fui, pela primeira vez, a um ensaio de teatro. Os papéis eram passados por ti, lembras-te? Tudo à mão e com caneta azul e vermelha. Tenho todos organizados numa gaveta como quem guarda o melhor de nós mesmos. E a cada ensaio, a cada nova peça, lembro-me constantemente de ti. Se ainda conseguisses discernir as coisas com naturalidade estou certo que ficarias feliz de saber que atualmente sou o presidente do GCRR.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Essa tua mão levou-me ainda vezes sem conta nas visitas que fazias às tuas irmãs a Sinja e à Lomba onde consigo ainda ver-te com um xaile bege que usavas com frequência. Numa altura em que os marcos dos hectómetros ainda estavam todos intactos, por vezes largavas-me a mão e eu corria até ao próximo marco para me sentar nele à tua espera enquanto vinhas ao meu encontro a sorrir. Sabes, de cada vez que ligo o pisca do carro para regressar a casa, lembro constantemente essas pequenas corridas de 100 metros.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Foi ainda essa tua mão que me salvou a vida naquele dia 17 de julho de 1991 quando pensava que cada respiração iria ser a última. E tu deste-me de novo à luz nesse novo parto que moldaria a minha vida para sempre.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Gostava de conseguir recordar contigo todas estas memórias e tantas outras que trago comigo. Bem sei que já não te recordas quem sou nem sequer do meu nome. Mesmo assim, há dias em que venho para casa com um sorriso maior, como aquele em que chamaste pela Isabelita. Gostamos muito de te ter connosco.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Neste dia tão especial trago-te um texto do antigo livro de leitura da escola primária, lembras-te?</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b><i>Filho és, pai serás</i></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><i>Há muito tempo, num país distante, um homem, vendo que o seu pai já era velho e não podia trabalhar, resolveu livrar-se dele.</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><i>Assim, num certo dia de Inverno, pegou numa manta e numa broa e convidou o pai a acompanhá-lo até ao cimo de um monte.</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><i>Chegado lá, o filho disse ao pai que não o podia alimentar e que, por isso, ali o deixava.</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><i>O pai, de lágrimas nos olhos pela tristeza de se ver assim tratado pelo filho, ainda teve forças para lhe perguntar:</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><i>- Filho, não trazes, por acaso, uma faca?</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><i>- Para que a quer, meu pai?</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><i>- Olha, filho, lembrei-me de cortar esta manta e esta broa ao meio para que leves uma parte para casa.</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><i>- Para quê, pai? – perguntou o filho, intrigado com a atitude do velho.</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><i>- É para o teu filho te dar quando fores velho como eu e já não puderes trabalhar...</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><i>O filho olhou o pai e, compreendendo a lição que este lhe dera, chorou de arrependimento e trouxe-o de novo para casa onde o tratou com carinho até à hora da sua morte.</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Cá em casa não são precisas facas, mãe. Todos os dias te colocamos uma mantinha sobre o corpo para que passes o dia mais quentinha e confortável.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Em tempos, na minha meninice, costumava perguntar-te:</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">- E se eu não fosse desta casa?</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Respondias-me que eu era teu filho e que, por isso, tinha de ser desta casa. Eu insistia com frequência e tu acrescentavas que se eu não fosse desta casa me ias buscar onde eu estivesse. Como eu não era fácil de convencer lembro-me de perguntar:</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">- E se tu não soubesses o caminho?</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Dizias-me que sabias os caminhos todos e que me ias buscar onde eu estivesse porque eu era desta casa.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Hoje passas os teus dias sentada num cadeirão e sou eu que quero dizer-te que se tu não fosses desta casa era eu que te ia buscar onde quer que tu estivesses.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Gosto muito de ti e quero passar todos os dias contigo a encher o saco velho da memória. Porque há-de chegar o dia em que terei de o abrir e será muito melhor encontrá-lo bem cheio.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Obrigado por me teres levado sempre pela mão.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Um dia hei-de voltar a deixar-me ir por onde me levares. Hoje pode muito bem ser esse dia.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Gosto muito de ti. Gostamos. Mesmo que já não saibas quem nós somos. Mas nós sabemos bem quem tu és. E isso faz toda a diferença.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Tenho muitas saudades do teu colo.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Parabéns.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Do teu filho mais novo,</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Miguel</div></div>Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-9593010097371747132021-04-19T11:33:00.002+01:002021-04-19T11:33:23.887+01:00A terra dos sonhos<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhabP9N2UNbUwpBBuur1GC9eraGF_mAknENwJ9Vtg_tJgJKZtPfmHsgztyHQx7NGOyfJ58YEbyJuoPAT6CTJyNalXI6UsVq8-4GNGp3FB8oaUuwQ4g-8WRyjpCdlvxyZBS6GIZA4Yk6FsZc/s1557/309+-+Obrigado+Sima%25CC%2583o.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1035" data-original-width="1557" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhabP9N2UNbUwpBBuur1GC9eraGF_mAknENwJ9Vtg_tJgJKZtPfmHsgztyHQx7NGOyfJ58YEbyJuoPAT6CTJyNalXI6UsVq8-4GNGp3FB8oaUuwQ4g-8WRyjpCdlvxyZBS6GIZA4Yk6FsZc/s320/309+-+Obrigado+Sima%25CC%2583o.png" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="text-align: left;">Diz o Jorge Palma que “na terra dos sonhos podes ser quem tu és”.</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Confesso que nem nos melhores sonhos imaginava algo assim. É por isso que digo constantemente que ainda bem que há gente que é muito melhor do que nós. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Em Rossas, ali bem junto à escola primária, num tempo em que as portas das casas ficavam abertas durante o dia, havia uma casa pequenina. A entrada era feita pela parte de trás, onde umas escadas rosadas davam acesso a uma cozinha. Ao fundo dessas escadas foram muitas as vezes que ergui a canastra à tua avó depois de ela trazer sardinha da boa.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Ontem, enquanto fazias a tua atuação de consagração, com o troféu nas mãos, lembrei-me disso e de um dia em particular quando era aluno do ciclo preparatório. O teu pai precisava de sair do ciclo para resolver algo no centro da vila (com o conhecimento da tua avó), mas não tinha a respetiva autorização para sair do recinto da escola. O plano haveria de sair da minha cabeça. Tirei o meu cartão da carteira e copiei exatamente o que lá estava escrito trocando, obviamente, os nomes: “Autorizo que o meu educando...”, etc, etc... Não sei se o teu pai ainda guarda esse cartão mas, embora com o nome da tua avó, são a minha letra e a minha assinatura que estão lá. E foi assim que o plano teve sucesso e o teu pai foi, nesse dia, em plena tarde, ao centro da vila.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Há quem diga que “o Homem nunca é tão grande como quando está de joelhos” e essa foi a imagem mais marcante da noite: ver o teu pai de joelhos. Emociona, muito além da forma como cantaste. Sabes que na minha meninice, a maior parte de nós tinha por Arouca o mundo inteiro. Passados tantos anos o teu pai (e a tua mãe, restante família e amigos, certamente) escancarou-te as portas do mundo. O mais que um pai pode desejar para os seus filhos é que estes sejam muito melhores do que eles foram.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Tu és grande, Simão. Obrigado por me teres emocionado na noite de ontem. Se continuares assim, embora não seja nada fácil, vais ser ainda maior que o teu pai.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Um abraço.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Miguel</div><p></p>Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-12712089983095713142021-04-16T19:45:00.010+01:002021-04-16T19:49:26.723+01:00O Chalana e o Simão<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZ-06GtKaXrcgnRlT_9cMAmSeLZvWmj12gXzX8siNLUvCFN0nZFS4cF2XkflSA6v5pTGNW40GNsoCUJp1_lIH3Mi6QUqPnpuy1q_HxwxWmH7i7us5ThMe8YQLTP1qVmYcg6l2jzxjSjroQ/s1595/308+-+Chalana+e+Sima%25CC%2583o.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1141" data-original-width="1595" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZ-06GtKaXrcgnRlT_9cMAmSeLZvWmj12gXzX8siNLUvCFN0nZFS4cF2XkflSA6v5pTGNW40GNsoCUJp1_lIH3Mi6QUqPnpuy1q_HxwxWmH7i7us5ThMe8YQLTP1qVmYcg6l2jzxjSjroQ/s320/308+-+Chalana+e+Sima%25CC%2583o.png" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Olá Simão.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Imagina um tempo em que eu era mais pequenino. Ainda mais novo do que tu.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Em Rossas, o edifício da escola primária estava diferente do que vemos hoje. No recinto do recreio, os postes das balizas eram pedras colocadas no chão e a bola (quando existia) era quase sempre de borracha. As equipas eram feitas depois de um par ou ímpar entre dois colegas. Podes não acreditar mas, nesse campo, joguei vezes sem conta com o Chalana, não sei se já ouviste falar... Claro que não era mesmo o meu grande ídolo de infância, aquele que aos domingos à tarde o Ribeiro Cristóvão relatava na Rádio Renascença e que fazia as delícias dos adeptos do Benfica. Era o outro, o meu colega de escola primária e que viria ainda a ser da minha turma também no primeiro ano do ciclo preparatório. Era assim que chamávamos ao teu pai nessa altura. Porque embora pequeninos, queríamos ser grandes. E a sê-lo, escolhíamos os melhores. Por isso nos intervalos corríamos e brincávamos como se o Benfica (ou o Porto e o Sporting, conforme as preferências de cada um) estivesse todo nos nossos pés. O Ribeiro Cristóvão nunca esteve em Rossas mas poderia ter feito relatos de autênticas finais se tivesse visto o Quiquinho, o Pedro do Neca e o do Selmo, o Eduardinho ou eu e o teu pai. Havia habilidades para todos os gostos.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">O tempo passa por nós num piscar de olhos. Hoje trabalho na Academia de Música e o teu pai já foi até Presidente da Junta de Freguesia. Vamo-nos encontrando aqui e ali, trocamos dois dedos de conversa, umas risadas e voltamos ao nosso dia-a-dia e às nossas obrigações.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Gostei de ver o teu pai na televisão. E enquanto cantavas eu ia lembrando todas as pequenas histórias da minha meninice em que o teu pai também era protagonista.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Tens o talento natural para estar num palco. Não só no fado mas também na representação. A tua performance e a tua postura só pode encher os arouquenses de orgulho. Claro que os concursos são o que são... Só um levará o prémio embora eu tenha visto e ouvido lá vários vencedores. Naquele palco passaram muitos meninos e meninas com talento bem acima da média. Mas nós gostamos dos que são nossos. E tu, agora és nosso. É por isso que embora não considere que sejas o candidato mais forte gostava muito que ganhasses. Por tudo o que escrevi acima.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Se num jogo de futebol tivesse de escolher entre o teu pai e o verdadeiro Chalana para jogar pela minha equipa a escolha era óbvia: seria o teu pai. Porque é isso que fazemos com os amigos, com aqueles a quem queremos bem. Porque no fim do jogo o Chalana continuaria a ser o Chalana, mas o teu pai continuaria a ser meu amigo.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Para mim, hoje, diria que és o Carlos do Carmo assim mais ou menos como o teu pai é o Chalana.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">E embora isso seja o menos importante, gostava muito que ganhasses. Quanto mais não fosse, para ver o teu pai a sorrir na televisão e poder lembrar os meus filhos que tive o prazer de ser seu amigo no longínquo tempo da minha escola primária.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Um abraço.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Miguel</div><p></p>Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-55014009406598041292020-11-20T17:45:00.002+00:002020-11-20T17:46:24.882+00:00Evocando a Palmirinha da Póvoa<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnYUPtYL7KPb-q0YEsKvU-iplK6ltrXcpxe251qZfmuJ5xBQg37DcQARVuez2tZg38b-d4XiD9_1ujA6PuwS07M-EG75VTI4_vpAiIpbmaF0E3xqaqHy60QPQPFQCnaHDq6eYfPJZsua3x/s2048/307+-+Palmirinha.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1630" data-original-width="2048" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnYUPtYL7KPb-q0YEsKvU-iplK6ltrXcpxe251qZfmuJ5xBQg37DcQARVuez2tZg38b-d4XiD9_1ujA6PuwS07M-EG75VTI4_vpAiIpbmaF0E3xqaqHy60QPQPFQCnaHDq6eYfPJZsua3x/s320/307+-+Palmirinha.jpg" width="320" /></a></div><div style="text-align: justify;">Hoje o telefone tocou. Por coincidência, ao mesmo tempo que o som do sino da igreja entrava pela casa dentro. Do outro lado estava uma voz amiga a cumprir o triste dever de me informar da partida da "Palmirinha da Póvoa".</div><div style="text-align: justify;">Era ainda uma criança quando conheci a Palmirinha. Foi pela mão da minha mãe (literalmente) que cheguei ao meu primeiro ensaio de teatro. A peça, da qual já não recordo o nome e que seria protagonizada apenas por crianças, nunca viria a chegar a cena. Mas a Palmirinha, felizmente, não deixaria de continuar a tentar. A acreditar. Por várias vezes a receita repetia-se. Lançava-se as sementes à terra. Uma nova peça ficava na calha. Até que chegou uma altura em que as sementes começaram a dar fruto.</div><div style="text-align: justify;">Sob a orientação da Palmirinha entrei em vários espetáculos de teatro. Primeiro em participações em pequenos números, entreatos ou cançonetas e, um pouco mais tarde, em pequenos papéis nas peças de teatro protagonizadas pelos atores mais talentosos que Rossas tinha na altura. Foi assim que comecei, "amparado" pelo Fernando Antunes, pelo Fernando do Souto, pelo Fernando Pinho, pelo Zé Mário, pelo Arménio, pela Isabelita, pelo Alexandre, pelo Zé António, pelo Mário, pela Carmo ou pela Vira. Tudo isto ao lado dos amigos da minha idade como o Tono, o Pedro, o Rui, o Sérgio ou a Belinha. A minha mãe fazia o ponto e a Palmirinha era a encenadora. Parecia ter sempre a resposta certa para todas as dúvidas de "representação". É um talento com que se nasce e a Palmirinha trazia-o com ela como quem leva uma criança pelo colo.</div><div style="text-align: justify;">Era ainda muito novo para perceber os sacrifícios que a vida nos obriga a fazer. Com os pais doentes e uma vida de trabalho, a Palmirinha era quase sempre a última a chegar aos ensaios. Era já com os atores a contracenarem que entrava pela porta, apressada, tirando os livrinhos de uma pequena saquita que sempre a acompanhava. Os dedos das mãos mostravam bem as marcas duras de uma vida de trabalho. Na década de 90 desentendemo-nos. Tivemos visões diferentes daquilo que poderia ser o futuro do Grupo Cultural e Recreativo de Rossas, associação da qual sou o atual presidente e de que a Palmirinha, sócia n.º 4, para além de primeira encenadora, foi fundadora. Uma das principais, acrescente-se.</div><div style="text-align: justify;">Carreguei comigo durante bastante tempo o fardo de ver a Palmirinha afastada do mundo do teatro. Embora sempre para o mesmo lado e mais ou menos à mesma velocidade, o mundo dá muitas voltas. Foi assim que ainda no tempo em que o Mário Soares presidia ao GCRR se falava em homenagear a Palmirinha. Um responsabilidade que herdei aquando da minha primeira eleição a 22 de outubro de 2017. Nessa altura, Palmirinha, voltámos até a ensaiar um orfeão. Criámos a revista "APARTE" que fiz com que os exemplares lhe chegassem às mãos. Recordo, agora com saudade, a noite em que me telefonou a agradecer o gesto e se teria de pagar alguma assinatura. O que eu me ri com isso, Palmirinha. Tentei explicar-lhe que a honra estava do nosso lado ao poder oferecer-lhe algumas memórias escritas em papel. Creio que foi a primeira vez que falei consigo a dar-lhe conta da intenção de lhe fazermos uma homenagem. Chegámos a ter encontro marcado em sua casa para eu lhe explicar o que estaríamos a pensar fazer. Levaria a Vira comigo para falarmos mais à vontade. Infelizmente, a Palmirinha haveria de ter o AVC no decorrer dessa semana e as coisas esmoreceram. Lembro-me que nesse telefonema, antes de desligar, me recomendou: "nunca deixes o grupo desviar-se daquilo para o qual foi criado: cultura e recreio". Eu sorri e respondi: "fique descansada. Não esqueço".</div><div style="text-align: justify;">Honra me seja feita, se há algo que repito constantemente nos nossos espetáculos e nos nossos ensaios é que devemos honrar os que nos precederam. Os que sonharam antes de nós.</div><div style="text-align: justify;">Quem ajuda a fundar uma associação e dá movimento ao teatro, à cultura e ao recreio durante tantos anos, com tanta dedicação e envolvendo tanta gente, não deveria partir assim, de forma apagada e quase solitária.</div><div style="text-align: justify;">Hoje o sino tocou.</div><div style="text-align: justify;">Por esta altura a Palmirinha estará já em cena, num outro sítio, a preparar um novo espetáculo juntamente com o Sr. Brandão da Seca, a Celestinha da Portela ou o Sr. Silva dos Carreiros.</div><div style="text-align: justify;">Por momentos, lembro as palavras de um texto escrito na extinta Defesa de Arouca que evocava o saudoso leiloeiro "Galo". Dizia esse texto que quem vive assim não deveria partir desta forma. Deveria, isso sim, morrer no fim de um verso ou no refrão de uma canção. Acrescento eu: "e com uma ovação de pé".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><b>Miguel Brandão</b></div><div style="text-align: center;">Sócio n.º 9 e atual Presidente do Grupo Cultural e Recreativo de Rossas</div><p></p>Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-29842246233182362722020-09-20T03:53:00.010+01:002020-09-20T11:10:32.107+01:00JMJ 1997 - Paris<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiS_QgW2f5Ks7pfP-ZqDseEKeiizz1TU5i7u-ehKKhwDZrourZ1PuAA_LTlZcYuZ4kBt_2bRxdZjQRnsIx1kv6m9MyqhLZFiDxwKRhRffrse0Ik7QvdE8J43GEcZAewClyp8U2pVKfOQbhb/s2048/306+-+JMJ+1997+-+Animais+do+Mar.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1053" data-original-width="2048" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiS_QgW2f5Ks7pfP-ZqDseEKeiizz1TU5i7u-ehKKhwDZrourZ1PuAA_LTlZcYuZ4kBt_2bRxdZjQRnsIx1kv6m9MyqhLZFiDxwKRhRffrse0Ik7QvdE8J43GEcZAewClyp8U2pVKfOQbhb/s320/306+-+JMJ+1997+-+Animais+do+Mar.png" width="320" /></a></div><div style="text-align: center;"><b><br /></b></div><div style="text-align: left;"><b>Carta aberta aos amigos que participaram comigo nas JMJ de Paris - 1997</b></div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">Em agosto de 1997 participei nas Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) que se realizaram em Paris. Foram 10 dias em que me desprendi de tudo o que conhecia para ir ao encontro de Deus. O que é mais intrigante é que o fiz praticamente na companhia de gente que não conhecia. Foi com eles que vivi 10 dos melhores dias da minha vida. O coração parecia arder-me por dentro, de tal forma que, cada vez que recordo, ele parece ainda estar em brasa.</div><div style="text-align: justify;">Esta semana resolvi levar tudo mais longe e desatei a procurar o que ainda tivesse guardado e que me pudesse transportar para esses dias. Chorei muito, acreditem. Tudo o que encontrei ajudou a avivar o que trazia na memória e, sobretudo, no coração. O padre Misael hoje, na homilia, chamou-lhe <i>Kairós:</i> aquele momento em que damos de caras com Deus. Esta semana deixei que Ele me levasse pela mão e o resultado está nestas linhas.</div><div style="text-align: justify;">Quando os meus pais me deram a permissão para ir às JMJ sabia apenas que teria o Tono (o meu melhor amigo, grande Rambo) e o Nuno como companheiros de jornada. Depressa se juntaram alguns aventureiros de Arouca que passaria a conhecer melhor nesses 10 dias. Se a memória não me atraiçoa éramos 13: o padre Nuno, eu, o Tono, o Nuno, a Xani, a Cláudia, o João, o Francisco, o Luís, a Márcia, o Fernando, a Goreti e a Isabel.</div><div style="text-align: justify;">Antes de seguirmos em direção a Paris era necessária uma paragem mais a sul de França numa cidade chamada Agen. Por aí estivemos 4 ou 5 dias em que cada um dormiu numa família que lhe calhou em sorte. Nunca falei tanto francês na minha vida. À minha espera estava uma família linda, cheia de bondade, a quem nunca conseguirei agradecer o tanto que me deram em tão pouco tempo. Felizmente, o meu "francês" não era muito enferrujado e conseguíamos comunicar. Como jackpot, o facto de terem um piano em casa, embora pouco lhe tenha tocado pois parava lá pouco tempo. Felizmente, tínhamos o tempo bem organizado e preenchido com muitas atividades. E há tantas histórias que merecem ser eternizadas. Espero estar à altura...</div><div style="text-align: justify;">Quem caiu logo no "goto" de toda a malta foi o Fernando que, nas palavras dele, de francês, só sabia dizer "je" e "oui". O que nós nos ríamos. Ele bem tentava mas só lhe saía "oh la la" e "tinonite". De tal forma que passamos apenas a chamá-lo assim durante todas as JMJ. A primeira noite foi a tal em que fomos lançados às feras, individualmente. No dia seguinte, todos queriam contar as suas peripécias de como se tinham saído a falar francês. Ainda ouço a gargalhada que soltei quando o Fernando contava que ao explicar à sua família que fazia jazigos eles ficaram a pensar que o pai dele tinha morrido. Delicioso. Lembro-me também do Nuno dizer que morava com o "vinte e cinco". Na realidade, chamava-se Vincent mas, como era parecido com vingt-cinq...</div><div style="text-align: justify;">Numa das manhãs, Fernando, trouxeste duas bicicletas e fomos dar uma volta. Parámos depois na tua família e o teu "pai" deu-nos um aperitivo que eu queria beber mesmo antes de se juntar água.Ai se não eras tu, lembras-te? Tivemos uma festa nessa noite e o teu "pai" só te dizia com aquele sotaque francês impecável: "Ó Fernandô, tu estás fodidô"... Ahahah! Mas olha que eu não estava muito melhor. Eles nem sequer deixavam tocar em água. Foi aí que conhecemos a Nini, quando já vínhamos embora. Vimos que era portuguesa pela camisola. Estava um bocadinho deslocada e tentámos animá-la logo ali. Foi assim que no dia seguinte já tínhamos uma nova amiga na viagem de autocarro e que trazia também a irmã: a Milu. Um jackpot. Gente boa e que nos fez ser maiores quando pensávamos que o limite já há muito estava ultrapassado.</div><div style="text-align: justify;">Fomos visitar uma espécie de cave onde ofereciam um vinho no final. Repetimos várias vezes. Ainda estou a ver o padre Nuno a dizer ao garçon que o servia: "isto é a pior coisinha que vocês têm aí, não é?!" e ele, sem perceber nada, lá respondia: "Oui, oui"! E nós sempre a rir. Ahahah.</div><div style="text-align: justify;">Lembro ainda o Jean a quem, em jeito de brincadeira, ensinámos as palavras-chave: obrigado, sim, não, c@r@lh&, filh@ da p&&& e Son-go-ku.</div><div style="text-align: justify;">Um dos momentos altos foi a criação dos "MAMAR: Movimento dos Animais do Mar" que teve direito a hino e tudo. Os dois primeiros versos foram da autoria do Tono (grande Rambo) usando a música do Dragonball. O resto ficou por minha conta...</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Animais do Mar</div><div style="text-align: justify;">Bolas de Berlim</div><div style="text-align: justify;">Apalpam as gajas</div><div style="text-align: justify;">E elas a mim</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Animais do Mar</div><div style="text-align: justify;">Sempre a mamar</div><div style="text-align: justify;">Mesmo que digam</div><div style="text-align: justify;">Que estás-me a estorvar</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Animais do Mar</div><div style="text-align: justify;">Nas suas lambretas</div><div style="text-align: justify;">Andam sem mãos</div><div style="text-align: justify;">Para as pôr na tetas</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Animas do Mar</div><div style="text-align: justify;">Só podem ser</div><div style="text-align: justify;">Já estão na cama</div><div style="text-align: justify;">Prontos para o amanhecer</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Depois haveríamos de seguir para Paris onde tantas outras histórias haverá para contar. A começar pelas cerca de 15 torneiras que tinha para o banho e que demorámos aí um quarto de hora para saber como se ligava... Ahahah! Lembras-te, Francisco?! Tenho saudades de nos juntarmos aos grupos de seis com senhas para comermos a fantástica ração de combate.</div><div style="text-align: justify;">Foi a primeira vez que vi a Torre Eiffel. Dizia "J-865 avant 2000".</div><div style="text-align: justify;">Tenho saudades das canções que aprendi e que cantávamos no metro, por exemplo.</div><div style="text-align: justify;">Quem não se lembra de estar a "assar sardinhas" e do Tico-tico (grande Jorge com a viola. Ainda tentei encontrá-lo pela net mas sem sucesso) ou do Vitó que tinha uma gaita. Já para não falar no "Et ils sont, et ils sont, et ils sont phénoménaux".</div><div style="text-align: justify;">Lembro-me de andar na Roda Gigante quando ninguém acreditava e do Nuno ser expulso do Louvre por ter ido para a água. Levaram-no por uma porta e ele entrou por outra. Excelente.</div><div style="text-align: justify;">Lembro-me das canções brasileiras cantadas pelo padre Nuno. Algumas foram aproveitadas para cantarmos em coro como o "Tum, tum, tum, bateu" ou a "Maria" e a "Romaria" da Elis Regina. E que delícia eram os fados do padre Pedro.</div><div style="text-align: justify;">Num dos dias em Paris tivemos uma festa à noite onde me "estraguei" todo (para variar). Foi quando fizeram um jogo em que tínhamos de cantar sempre que nos tocavam nas costas. Fiquei em terceiro lugar mas dei alto show. De tal forma que mesmo não tendo ganho, no dia seguinte todos me davam os parabéns.</div><div style="text-align: justify;">Lembro ainda com muita saudade a Alice, a nossa guia em Paris. De uma bondade difícil de igualar.</div><div style="text-align: justify;">Francisco, lembras-te de termos "pedido emprestado" uma fotografia de uma rapariga na casa onde dormimos só para dizermos aos nossos colegas que tínhamos "engatado" uma rapariga?!... Ahahah! Inolvidável.</div><div style="text-align: justify;">No meio de tanta brincadeira houve lugar para muitos momentos de partilha, de amizade, de encontro, de ressurreição. Ficaram na minha memória as conversas com a Nini e a Milu (muitas saudades) de quem recebi duas cartas já depois das JMJ terem terminado. Sim, ainda tenho tudo bem guardado numa daquelas gavetas em que só eu estou autorizado a mexer.</div><div style="text-align: justify;">No <i>Longchamp</i> foi o êxtase. Lembram-se de gritarmos por Timor quando o Papa João Paulo II chamou por Portugal?</div><div style="text-align: justify;">Depois... Bem, depois o tempo estava a chegar ao fim. A frase "infelizmente amanhã temos que ir embora" ainda hoje rasga cá por dentro.</div><div style="text-align: justify;">Guardo muitas destas memórias no pequeno diário verde que escrevi nesses dias. Assim é mais fácil transportá-las na memória e no coração.</div><div style="text-align: justify;">Foram 10 dos melhores dias da minha vida. Obrigado a todos.</div><div style="text-align: justify;">Para quando um reencontro?</div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><b>Miguel Brandão</b></div><div style="text-align: justify;"><i>(um verdadeiro Animal do Mar)</i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>"Há dias que são mais dias que os outros porque os enchemos de paz e alegria".</b></div>Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-21388399293483566192020-05-02T19:43:00.003+01:002020-09-21T18:22:23.897+01:00Arouca em Casa<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhc-CQN7k6bXLbnI3S3G-IXAinA1lw9hHFgPl5C-7LmLDwe30WvY9SaAptpvavv8EEgeQyTkjqBf3YZZQxJmKz35bi6uls1qKXzMvwMN7d_rsAzPg5Pun9k7Zpv3EswfIRwViMxihfmaRzj/s1600/305+-+Arouca+em+Casa.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1164" data-original-width="1600" height="232" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhc-CQN7k6bXLbnI3S3G-IXAinA1lw9hHFgPl5C-7LmLDwe30WvY9SaAptpvavv8EEgeQyTkjqBf3YZZQxJmKz35bi6uls1qKXzMvwMN7d_rsAzPg5Pun9k7Zpv3EswfIRwViMxihfmaRzj/s320/305+-+Arouca+em+Casa.png" width="320" /></a></div>
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<b>Arouca em Casa</b></div>
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<br /></div>
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Dizem que quem nada espera vê o caminho da felicidade de uma forma mais clara. Talvez haja uma ponta de verdade nessas palavras.</div>
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Conheço o Tiago Pinho apenas de vista. Não sei sequer se alguma vez tínhamos falado. O convite para participar no <b>“Arouca em Casa”</b> chegou através do Messenger. Esperava-me uma semana intensa de aulas na universidade (os meus colegas de Mestrado poderão confirmar) com entregas e apresentações de trabalhos onde em algumas das noites o meu encontro com a cama foi já para lá das 5h da manhã. Mesmo não conhecendo pessoalmente o Tiago custou-me bastante recusar o convite. Felizmente, aconteceu esta segunda edição e tive direito a novo convite. Agora sim, um pouco mais folgado nos meus estudos, pude responder de forma positiva e, assim, dar o meu pequeno contributo para uma causa que é bastante maior.</div>
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O tempo entre o convite e a atuação era de apenas alguns dias pelo que era urgente decidir o que iria ser apresentado. Mesmo assim perdi alguns dias apenas a pensar no que teria levado o Tiago a fazer-me o convite. Depois, foi deixar-me levar pelo delicioso processo de preparação da atuação.</div>
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Há mais de vinte anos, quando ainda morava com os meus pais, era frequente trazer os amigos lá a casa para me ouvirem ao piano, “obrigando-os” a reagir às minhas primeiras criações que registei com especial carinho. Lembro também a tarde em que um amigo do peito se sentou comigo ao piano no dia em que cheguei com o meu primeiro <i>songbook</i> dos Queen. Muito bom quando os primeiros acordes de “It’s a Hard Life” começaram a soar...</div>
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Foi assim que se começou a decidir na minha cabeça aquilo que iria ser a minha meia hora no <b>“Arouca em Casa”</b>. Não seria um concerto mas, isso sim, uma espécie de conversa com alguns amigos. Uma troca de memórias. Das boas, claro! Resolvi começar pelas da infância prometendo a mim mesmo que não tocaria o Dartacão; parecia-me demasiado óbvio. Foi um ótimo exercício de “coração e amizade” a seleção desses primeiros temas. Infelizmente, alguns acabaram por não resultar tão bem numa primeira abordagem ao piano e acabaram por ficar fora do alinhamento.</div>
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Depois quis de alguma forma transmitir um pouco do que têm sido as minhas noites (é quando consigo tempo livre) neste período de quarentena. Em boa hora decidi procurar a novela “Pedra sobre Pedra” para rever com a Odete. Têm sido serões deliciosos. Nem sequer dá qualquer trabalho pois os episódios estão todos disponíveis no <i>daylimotion</i> ou no <i>youtube</i>. Tudo é tão teatral que acaba por ser como que um verdadeiro workshop na arte de representar: Murilo e Pilar estão soberbos; Cândido Alegria deixa saudade; o Sérgio Cabeleira e aquele modo particular de falar merecem a minha vénia; o talento do Adamastor e o Carlão é enorme; o “retratista” Jorge Tadeu é hilariante; as tropelias da delegada (“delegado é meu marido”) e o seu marido Queirós que viria a dar apelido a um bom amigo na Banda de Arouca deixam saudades; e, claro, a bela Marina Batista que vivia um amor secreto com o Leonardo Pontes aviva em mim as melhores memórias possíveis. Tudo isso volta a colocar-me nos corredores do velho liceu junto de gente de quem nunca larguei a mão. Estava decidido, uma das canções a apresentar teria de ser dessa novela. Optei pelo tema do Murilo e da Pilar. Faz-me lembrar um tempo em que vivia também um amor em segredo. De tal forma que nem o “objeto” desse amor o sabia. Mas quem é que nunca transportou um amor em segredo?! E depois, raios... A Marina Batista até “envelheceu” bastante bem. Mas não digam isso à Odete! Bem, adiante...</div>
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Uma viagem pelas memórias através do instagram e do facebook não poderia seguir em frente se o Carlos Paião não tivesse parte ativa. A forma como constrói as letras ensina mais do que vinte telescolas. Aqui a dificuldade em decidir o “vinho do porto” esteve relacionada com o excesso de oferta por parte do compositor.</div>
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Depois era também necessário abraçar os amigos do teatro de quem já sinto tanta falta. Felizmente havia também muitas boas músicas para escolher. O regresso aos palcos há-de estar para breve.</div>
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Para finalizar optei pela “Festa da Vida” numa escolha um bocadinho egoísta pois é uma canção que me diz muito. Ou talvez não seja assim tão egoísta, exatamente pela mesma razão.</div>
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Felizmente deu ainda para satisfazer um desejo do meu filho Tiago com o “Ti Manel das Cebolas” e houve ainda tempo para o meu original “Avião de Papel” de 2007 e que, para os curiosos, podem consultar a letra e ouvir <a href="http://aviaodepapel.blogspot.com/2012/11/post-n-200-aviao-de-papel.html" target="_blank">aqui</a> (com desafinações).</div>
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Queria agradecer a todos pelas palavras simpáticas que me dispensaram. Desculpem as várias falhas, sobretudo no instagram, durante a transmissão. Peço ainda desculpa pois, como percebo pouco de tecnologia e nunca tinha feito um direto no instagram, acabei por perder todos os comentários que lá deixaram. Assim, foi-me impossível ver o que escreveram. Mas os do facebook já os reli vezes sem conta. Obrigado a todos. Em especial aos que tiveram a ousadia de me mimar com mensagens privadas. Há uma em especial que me tocou muito. Quando for grande eu é que quero ser como tu.</div>
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Abraços e beijinhos e muito obrigado por terem proporcionado uma noite assim a um pobre homem como eu.</div>
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Para os curiosos deixo o alinhamento da noite.</div>
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Até sempre.</div>
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<br /></div>
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Vitinho</div>
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Era uma vez... o espaço</div>
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O Maestro da Charanga</div>
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Super Fantástico</div>
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Fábulas da floresta verde</div>
<div style="text-align: justify;">
Entre a serpente e a estrela (da novela Pedra sobre Pedra)</div>
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Vinho do Porto (Carlos Paião)</div>
<div style="text-align: justify;">
Ser Ator</div>
<div style="text-align: justify;">
Ti Manel das Cebolas (Popular)</div>
<div style="text-align: justify;">
A Festa da Vida (cantada pelo Carlos Mendes na Eurovisão em 1972)</div>
<div style="text-align: justify;">
What a Wonderful World</div>
Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-84641701934978744772020-02-21T20:07:00.004+00:002020-02-22T09:05:06.160+00:00A prima da Odete...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIcJEvo8TfqyhS-BDm5NJbYnG3eaGSJXA6Kp8yRbBrmh2bjS7dnCpBEa5gaMCWuslUwE-IItjjpcctI3PUaSopATCHOUwPSYAJXBLvVjqVPuq6ndV-d0F443narrVOEJBOoQLOqvZFzXU9/s1600/Eu+e+a+Cati.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1156" data-original-width="1600" height="231" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIcJEvo8TfqyhS-BDm5NJbYnG3eaGSJXA6Kp8yRbBrmh2bjS7dnCpBEa5gaMCWuslUwE-IItjjpcctI3PUaSopATCHOUwPSYAJXBLvVjqVPuq6ndV-d0F443narrVOEJBOoQLOqvZFzXU9/s320/Eu+e+a+Cati.png" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Corria o ano de 1996. Quer dizer, corria não!!! Voava, isso sim! Porque o tempo não espera por ninguém. Será talvez o que vamos fazendo com ele que nos pode tornar um bocadinho mais felizes. Pelo menos é assim que vou aproveitando o pouco que extraio dos meus dias.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas, dizia eu, voava o ano de 1996. Tinha começado a namorar com a Odete há poucos dias quando conheci a Cati. Era a prima da Odete que vinha de França. As primeiras memórias que tenho são de uma sede do GCRR minúscula na antiga fábrica dos “Móveis Antunes”. E nós lá estávamos a enrolar papéis para aquela que haveria de ser a primeira tômbola do GCRR. E foi assim que tudo começou. O GCRR tem, de facto, este dom de contruir memórias de ouro para todas as pessoas que estejam atentas. Foi assim que fizemos parte do mesmo grupo de cantares onde tocávamos acordeão, um em cada lado do palco. E foi mais ou menos nessa mesma disposição que apresentamos a “Marcha dos Marinheiros”, por exemplo, em muitos dos espetáculos de teatro do GCRR. Foi nesse mesmo palco que demos vida ao Eduardo Rodrigues e à Silvana D’Abreu na famosa “Uma Bomba Chamada Etelvina” do Henrique Santana e que tanto sucesso teve enquanto esteve em cena.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eras a prima da Odete...</div>
<div style="text-align: justify;">
Passámos também por inúmeras aventuras nos saudosos encontros de jovens onde tinha tanta gente boa e de quem tenho tantas saudades. Penso muito nesses tempos. Muito mesmo! Sou um saudosista, reconheço. Ficámos em 2.º lugar, por apenas 2 pontos, naquele Festival no Palácio de Cristal em 2002 em que poderíamos perfeitamente ter ganho. Olhando agora para lá, a esta distância que é longa em tempo mas curta em gratidão (é como se ainda estivesse lá), ainda bem que não ganhámos. Foi o melhor que nos podia ter acontecido. Senão como teria surgido o fantástico “Eco do meu sim” que nos levou à vitória em 2006?</div>
<div style="text-align: justify;">
Acredito profundamente que o segredo da amizade ou das pessoas que admiramos se chama “presença”. É o estar lá, mesmo quando não interessa para nada. Ou, sobretudo, quando não se diz nada. Ou, melhor ainda, quando isso acontece. E eu estive lá, por exemplo, quando entraste para a Faculdade. Ainda me lembro da corrida que demos desde o ICBAS até à Caixa Geral de Depósitos para conseguirmos chegar antes da hora de fecho. A esta distância e com esta tranquilidade dá para rir, sabias?! E estive lá também no “durante”. Quando levava a minha vida solitária pelas ruas do Porto e almoçava sozinho na Reitoria. Cheguei a fazê-lo algumas vezes contigo. Eu cantava sozinho enquanto comia e sem me aperceber, lembras-te? Acho que era uma forma de espantar a minha solidão. E fazia-o sem me dar conta. Mas o importante é que eu estive lá nas vezes em que levaste o teu padrinho para almoçar, se bem me lembro, em alturas especiais, como o aniversário que hoje festejas. E como era bom rever o padre Zé.</div>
<div style="text-align: justify;">
Também estive lá no fim do curso. Fomos ver o Abrunhosa e, no final, deixei-te em tua casa no Burgo. Aqui já não era apenas a prima da Odete. Eras a Cati.</div>
<div style="text-align: justify;">
Na parte final do meu curso de matemática chegaste a levar-me algumas vezes para o Porto. Terá sido talvez numa dessas viagens que me deste a conhecer a “The Drugs Song” que nunca mais esqueci. Uma memória divertida que me acompanhou desde então.</div>
<div style="text-align: justify;">
Entretanto casaste e eu, mais uma vez, estava lá. O Pedro é um rapaz 100%. Foi uma honra compor aquela canção “Tu e Eu”. Terá sido a última grande canção que fiz.</div>
<div style="text-align: justify;">
Agora és a minha médica e tens já também a Eva e o Diogo que compõem de forma perfeita a família completa. Uma família que vou observando à distância tentando aproveitar-lhe o exemplo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Queria apenas dizer-te que tenho poucos amigos. Mesmo poucos. Mas são muito bons. Foste a prima da Odete. Foste a Cati. És minha amiga.</div>
<div style="text-align: justify;">
Vemo-nos logo no Baile de Carnaval. Lá está, mais uma vez, o GCRR.</div>
<div style="text-align: justify;">
Obrigado.</div>
<div style="text-align: justify;">
Um beijinho enorme de parabéns.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Miguel</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMO1rV4Op3_wILzqYt9X1Ns6gRC0TbDpvRt-OUiLWHQwRzP0-v8A0hHglBYiCOMiXTilDEy50takVxk6ArcWkS-hy87grKA3Qq0oFHsPHtLxtzoR2wUYHUcRqFulmtGE7wO0TR9fUYuicU/s1600/303+-+Ala+dos+Namorados.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="384" data-original-width="388" height="316" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMO1rV4Op3_wILzqYt9X1Ns6gRC0TbDpvRt-OUiLWHQwRzP0-v8A0hHglBYiCOMiXTilDEy50takVxk6ArcWkS-hy87grKA3Qq0oFHsPHtLxtzoR2wUYHUcRqFulmtGE7wO0TR9fUYuicU/s320/303+-+Ala+dos+Namorados.png" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Os sons voltaram à praça no dia 2 de agosto. Desta vez com a Ala dos Namorados em cartaz. Sair de casa para um concerto desta envergadura tem de obedecer a alguns pré-requisitos: com três filhos pequenos há uma lista interminável de problemas que têm de ser antecipados para irem pré-resolvidos. Foi assim que saímos de casa. Pelo caminho levei memórias de um tempo de primeira universidade onde fiz a travessia do mar de amigos até à solidão. Uma ponte muito ténue, diga-se. A Ala dos Namorados ajuda a trazer algumas das boas memórias desses dias. Havia uma canção que ouvia vezes sem conta na extinta Roma Megastore pela voz do Nuno Guerreiro. Ficava completamente embriagado pelo timbre e pelo acompanhamento ao piano que mais parecia sair de um qualquer génio inimitável, como aqueles que ouvi falar nas aulas de História da Música. De Rossas até ao centro da vila transportei essa secreta vontade de, por momentos, voltar a esses dias ao som dessa música. </div>
<div style="text-align: justify;">
Sentámo-nos nos degraus da praça. Confessei o meu segredo à Odete com as palavras: Só espero que cantem “Ao Sul”. Haveria de ser a canção que abriu o espetáculo. O que poderia desejar mais para quem pedia tão pouco? Uma noite de muitas memórias e, sobretudo, muita admiração. Sejamos francos: a Ala vive muito à custa do talento do Manuel Paulo que me conseguiu prender toda a atenção durante todo o concerto. </div>
<div style="text-align: justify;">
Obrigado Ala e obrigado Banda Musical de Arouca pelo ótimo serão. </div>
<div style="text-align: justify;">
Pelo meio ficou aquele orgulho secreto de quem ouviu sons saídos de arranjos que tiveram a minha humilde contribuição. Por isso as “Águas Furtadas”, por exemplo, pareceram ainda mais bonitas. </div>
<div style="text-align: justify;">
Desculpa Pedro não ter marcado presença no jantar. A minha vida é um caos. O Variações bem insiste em dizer-me ao ouvido: “muda de vida”... </div>
<div style="text-align: justify;">
No dia seguinte tudo voltou ao normal. Ou quase tudo... É que as notas do Manuel Paulo foram uma presença constante na minha cabeça. É bom sinal. </div>
<div style="text-align: justify;">
Até para o ano se Deus quiser, se possível, novamente na companhia de toda a família.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijL9VHVE5tBOG4Fl0Sggod0abzb7M8p2VSV7BJlBh_OeO0zevN7B5hPAnYRDYygP7CNqGR7JgMMMvW2-u_vEtbvBu-BVQIzsHXzZz5p4TDexE0glphM49UIQV1c6p5uRXEQ_Q_2bX9oryF/s1600/302+-+Professor+Albino.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1118" data-original-width="1600" height="223" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijL9VHVE5tBOG4Fl0Sggod0abzb7M8p2VSV7BJlBh_OeO0zevN7B5hPAnYRDYygP7CNqGR7JgMMMvW2-u_vEtbvBu-BVQIzsHXzZz5p4TDexE0glphM49UIQV1c6p5uRXEQ_Q_2bX9oryF/s320/302+-+Professor+Albino.png" width="320" /></a></div>
<i><b><span style="font-size: x-small;">Foto:</span></b></i><br />
<div>
<span style="font-size: x-small;"><i>Orfeão da Escola Secundária de Arouca no salão dos Bombeiros Voluntários de Arouca na primeira metade dos anos 90.</i></span><br />
<span style="font-size: x-small;"><i><br /></i></span>
<div style="text-align: justify;">
Cheguei ao antigo liceu no ano letivo de 1988/89. Diziam os papéis afixados nas janelas de um dos pavilhões que iria frequentar as aulas da turma do 7.º I. Tinha uma vida nova pela frente. As rotinas não seriam muito diferentes do ano letivo anterior: apanhar o autocarro logo pela manhã na paragem da Barroca, ir em pé, qual sardinha enlatada, a ouvir o António Sala e a Olga Cardoso no programa despertar e depois acordar para o dia no convívio com os colegas e ao som da voz dos professores que nos calhavam em sorte. Apenas o edifício era diferente, tudo o resto era parecido. Havia o bónus, claro, dos novos colegas de turma que eram sempre recebidos de braços abertos, sobretudo para jogar à bola logo pela manhã. Na hora de almoço, a fila da cantina era ainda maior mas, na companhia dos melhores amigos, o tempo pouco importa. No final do dia continuava a esperar-se no centro da vila a camioneta que nos levava de regresso a casa onde encontrávamos os tais “dois braços à nossa espera” como a Amália tão bem eternizou na “Casa Portuguesa”. E temos de ser francos: mesmo sendo geralmente bem comportado tenho de fazer aqui um reconhecimento público aos condutores dos autocarros. Deveriam ser elevados à categoria de santos tais eram as tropelias que tinham de nos aturar. Era este, assim “grosso modo”, o cenário que se poderia pintar aquando da minha chegada ao sétimo ano de escolaridade.</div>
<div style="text-align: justify;">
No liceu, o presidente do Conselho Diretivo era o querido professor Albino. Aprendi, em boa hora, a seguir-lhe o exemplo. Há aquelas pessoas que reconhecemos como modelo. Que, dentro do seu modo de vida, nos transmitem serenidade e admiração. Desde cedo o coloquei nessa “prateleira” e, diga-se a verdade, não me dei nada mal com isso. Pelo contrário: recolhi sábios ensinamentos e exemplos de vida. Claro que, sendo eu aluno, estava obviamente do outro lado da barricada. Por isso era comum entre os alunos, nos corredores, ouvir-se o carinhoso nome de “Ovo Estrelado” em lugar de professor Albino. Era o nome de código que num dia qualquer alguém se lembrou de utilizar como alcunha de tão prestigiada personagem.</div>
<div style="text-align: justify;">
Lembro-me da primeira vez que o professor Albino se cruzou comigo num dos corredores do liceu era eu um dos alunos mais pequeninos da escola e, por isso mesmo, andava ainda a descobrir as artérias do novo edifício. Deu-me um bom dia acompanhado de um sorriso ao qual retribui com um sorriso envergonhado.</div>
<div style="text-align: justify;">
Lembro-me ainda de um ano letivo em que tinha de andar “à boleia” para fazer o regresso a casa pois os horários da escola não eram coincidentes com os dos autocarros. Numa dessas vezes foi o professor Albino que nos levou (a mim e ao Bruno) tendo feito um interrogatório mais ou menos pormenorizado para averiguar porque é que estávamos a regressar dessa forma e não de autocarro mostrando-se sensível ao nosso ponto de vista. Tudo isto, creio, a bordo de um Citroen AX vermelho (perdoem-me se a memória, desta vez, me está a atraiçoar).</div>
<div style="text-align: justify;">
Durante o meu percurso pelo liceu era ainda usual as colocações de alguns professores saírem muito tarde. Havia sempre uma ou duas disciplinas que ficávamos algumas semanas ainda sem professor. Aconteceu no 10.º ano a psicologia. Foi assim que durante uns quinze dias, talvez, o professor Albino foi o nosso “stor” de psicologia. Foi nesse mesmo ano que chegou a ter uma conversa séria e responsável com a nossa turma, no início do ano letivo, pois iríamos ter a professora Laurinda a transmitir-nos os conhecimentos na disciplina de matemática. Lembro-me perfeitamente de pedir a nossa colaboração e compreensão. Confesso que nunca mais vi a professora Laurinda desde os meus tempos de liceu. Gosto de imaginar que está bem e que a vida, a partir de certa altura, terá deixado de ser madrasta com ela. É desta forma que a abraço em muitas das viagens que faço pela memória.</div>
<div style="text-align: justify;">
A recordação maior que trago do professor Albino tem a ver com o orfeão que orgulhosamente dirigia. Ainda hoje admiro a forma como esse orfeão era criado. O apelo chegava através de um aviso levado às salas pela mão das funcionárias. Todos os interessados eram convidados a dirigir-se ao edifício da cantina no intervalo maior da manhã. Era impressionante a quantidade de alunos que abdicava do tempo desse precioso intervalo para fazer parte do orfeão. À nossa espera estava o professor Albino. Os exercícios de aquecimento de voz eram feitos a correr (o tempo era escasso) e, quando esta começava a fraquejar e a tosse aparecia ele pedia-nos para tentarmos conter a tosse e engolir saliva. Parece que ajudava a “olear” as cordas vocais. Lembro-me de cantar a <i><b>“Pompa e Circunstância”</b></i> de E. Elgar ou o <i><b>“Va Pensiero”</b></i> de Verdi.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando se tem um gene mais voltado para a solidão, como parece ser o meu caso (ou para o <i>"ensimesmismo"</i> como já me disseram), há lugares, pessoas e tempos aos quais gostaríamos muito de voltar. O intervalo das 10h15 que trazia os ensaios do orfeão dirigidos pelo professor Albino é, certamente, um bom exemplo de tudo isso. Deixou-me memórias de (e com) pessoas que jamais ousarei apagar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Caro professor Albino, agora vale o que vale, mas queria que soubesse que a semente lançada à terra nessa altura deu bom fruto. Serviu de exemplo. Dos bons.</div>
<div style="text-align: justify;">
Muito grato, professor. Muito grato.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um simples aluno, daqueles que gostou muito de andar na escola.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><i>Miguel Brandão</i></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Nota:</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Foto gentilmente cedida pela enorme amiga Carla Tomé juntamente com outras duas fotos dessa mesma atuação.</div>
</div>
Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-1229210675051041592018-12-20T17:37:00.003+00:002022-07-08T12:18:09.918+01:00Há alguém que goste tanto de videojogos como tu?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCiNS5qEP0Fxt7PSot_F-wEr5HTaVaA3wA-S2q2lknD4SDqYc6qltcFeAN3i_lYAvSxwvi1RZiEB8KdNLd6nRmMXR3ENvdT2B-QhH4-m8oZvfoVyHYQo1bHNPF_hG7mOaaSec3kV-Cv_kD/s1600/301+-+Ha%25CC%2581+muito+que+deixei+de+fazer+o+que+gosto.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1095" data-original-width="1600" height="219" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCiNS5qEP0Fxt7PSot_F-wEr5HTaVaA3wA-S2q2lknD4SDqYc6qltcFeAN3i_lYAvSxwvi1RZiEB8KdNLd6nRmMXR3ENvdT2B-QhH4-m8oZvfoVyHYQo1bHNPF_hG7mOaaSec3kV-Cv_kD/s320/301+-+Ha%25CC%2581+muito+que+deixei+de+fazer+o+que+gosto.png" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
A pergunta que dá o título a este pequeno texto surgiu, há dias, da boca da Odete. Desengane-se o leitor se pensa que está diretamente relacionada com o tempo que gasto a jogar. Nada podia ser mais errado. O tempo que me sobra é pouco ou quase nenhum. Apenas dá para uma partida rápida aqui e ali, e sempre com muitos dias ou semanas de intervalo. É por isso que este texto já anda na minha cabeça há algum tempo e, confesso, era para se chamar <i>“Há muito que deixei de fazer o que gosto”</i>. No entanto, aquela interrogação da Odete levou-me a reorganizar as ideias. A verdade é que soltei um sorriso rasgado e acabei por responder: <i>“Sim. Há muita gente que gosta muito mais de videojogos do que eu”</i>. Ela insistiu: <i>“E em Arouca? Haverá alguém?”</i>. Voltei a sorrir e respondi, hesitando um pouco: <i>“Não sei. Mas há cá muita gente que joga muito mais e melhor do que eu. Há muita malta nova que passa o dia agarrada aos jogos. Eu não tenho vida para isso”</i>. A Odete é bastante perspicaz e continuou: <i>“E da tua idade? Achas que há alguém em Arouca como tu?”</i>. Confesso: fiquei desarmado. Respondi-lhe que era natural que não houvesse. E lembrei-me do seguinte exemplo que usei para lhe responder: <i>“Tenho guardadas, de forma imaculada, todas as análises a jogos do ZX Spectrum e Commodore Amiga da secção MICROMANIA da extinta JND do Jornal de Notícias de 1989 a 1992. É natural que mais alguém tenha feito isso embora não conheça ninguém em Portugal que o tenha feito. O que é menos comum é eu ter ido mais além e ter transformado tudo num PDF, ter feito uma pesquisa na internet até encontrar a capa da revista n.º1 que ainda trazia o rosto da Tina Turner na minha memória, e ter organizado tudo para encadernar para ler e reler.”</i> Ao acabar de responder mostrei-lhe a minha partilha desse documento em PDF num grupo de retrogaming do facebook onde gente que não conheço me agradecia para toda a vida tal partilha. Houve até quem dissesse que eu tinha feito um autêntico serviço público. A Odete sorriu porque apesar de não partilhar esta minha paixão, aceita de forma carinhosa o meu jeito de viver os videojogos.</div>
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Não quero (nem vou) com este texto fazer uma descrição detalhada do meu percurso pelos videojogos mas queria deixar aqui alguns aspetos particulares que podem ajudar a justificar a pergunta feita pela Odete.</div>
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Em primeiro lugar, é bem provável que tenha mais de um milhar de jogos em formato físico para as mais diferentes máquinas de videojogos. Só um apaixonado por este mundo poderia ter comprado mais de 80 jogos para a PS2 ainda antes de ter a referida máquina. No último mês, aproveitando ótimos negócios no Marketplace, comprei 17 jogos PS4 e 2 jogos XBOX ONE. Mesmo não tendo tempo para jogar gosto de ter a maior parte dos clássicos e de ter uma “biblioteca” bem organizada. No entanto, apesar de me deliciar com algumas das novas produções, são os títulos da minha adolescência que me continuam a despertar maior fascínio.</div>
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A minha relação com este mundo é de uma espécie de revolta constante. Há muito que não faço o que gosto. Preenchem-me o tempo com obrigações sem sentido. Talvez seja tempo de uma resolução de ano novo. Veremos se serei capaz de cumprir. Talvez as pessoas só precisem de me entender. Ou, se calhar, nem isso. Apenas aceitar.</div>
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Quem é da minha idade sabe muito bem o que é entrar num salão de jogos arcade. Sabe também, por exemplo, que <b><i>Shinobi</i></b>, <i><b>Midnight Resistance</b></i>, <i><b>Toki</b></i> ou <b><i>Rodland</i></b> são experiências que não se esquecem. É em nome de muitos desses títulos que continuo a minha demanda. É por isso que estou a dar uma segunda oportunidade à Xbox One comprando digitalmente clássicos como <i><b>Sensible World of Soccer</b></i>, uma remasterização do <b><i>Gods</i></b> dos famosos Bitmap Brothers e um jogo novo oriundo do Brasil e que é uma excelente homenagem a jogos como <i><b>Lotus Esprit Turbo Challenge</b></i> e que tem por título <b><i>Horizon Chase Turbo</i></b>.</div>
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É por isso que sei que vou ter o remake do <b><i>Toki</i></b> que acabou de sair para a Nintendo Switch ainda antes de comprar a consola. Anseio pelo dia que lhe vou deitar as mãos e que o vou acabar de uma ponta a outra antes que o dia se transforme em noite. No fundo é aquela sensação de saber transportar já uma felicidade que, em rigor, ainda não me pertence.</div>
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Quando deixei de ser uma criança, talvez aí por volta dos 40, dei conta que devemos dar importância àquilo que realmente é importante. Desde aí, tenho-me focado muito mais no Commodore Amiga e na minha paixão pelos videojogos. Porque gosto de videojogos. Mas, sobretudo, porque gosto do Nuno, do Simão Pedro, do Miguel “Confiança”, do Tono, do Sérgio e do Pedro. Na impossibilidade de seguir o mesmo rumo de vida, encontrei neste mundo peculiar uma forma de chegar mais perto. É a mágoa que trago comigo: que o mundo não tenha sido assim para sempre. Fica aquela nostalgia que me esforçarei por manter. É por isso que os meus raros momentos de “jogatana” acabam quase sempre com a minha MIST ligada onde tenho todo o espólio do Commodore Amiga instalado. E haverá melhor forma de terminar um dia do que estar acompanhado de <i><b>Kick Off</b></i>, <i><b>Rick Dangerous</b></i> ou <i><b>Turrican</b></i>?</div>
Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-16614799704449264902018-11-07T11:00:00.001+00:002018-12-20T17:38:39.441+00:00Bohemian Rhapsody: o filme<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhKJhpP8P1eLn__Nv-WxF2BUJV6vG1njaiYSqAj5mLU1vW7eaESmPt7Fjn58G3oDpAubDttiC5cYeu4NDSiXO6uemtv5OPwCUqNxc5Nu-QoxYj-Ah1QKL3pDF3P-eR3Ls2S3I6yZkOrcIU/s1600/300+-+Bohemian+Rhapsody.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1101" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhKJhpP8P1eLn__Nv-WxF2BUJV6vG1njaiYSqAj5mLU1vW7eaESmPt7Fjn58G3oDpAubDttiC5cYeu4NDSiXO6uemtv5OPwCUqNxc5Nu-QoxYj-Ah1QKL3pDF3P-eR3Ls2S3I6yZkOrcIU/s320/300+-+Bohemian+Rhapsody.png" width="220" /></a></div>
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13 de julho de 1985.</div>
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Uma data que um verdadeiro amante dos Queen dificilmente esquece. Pelo contrário, uma data que conquistou a eternidade. O dia em que os Queen fizeram a sua memorável atuação no Live Aid. Mesmo os outros, os que têm outras preferências musicais, são quase unânimes em reconhecer essa performance como uma das melhores, não da história dos Queen, mas, isso sim, das melhores da história do Rock.</div>
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Mas, vamos ao início... E o início está numa preparação de um filme que começou de forma desastrosa há muitos anos atrás. Quando anunciaram o Sacha Baron Cohen para o papel do Freddie eu deixei de ver as notícias sobre uma possível concretização do filme. Como seria possível o que o Brian e o Roger estavam a fazer depois do (já difícil de digerir) afastamento público do John?!</div>
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Felizmente os erros foram parados a tempo. O projeto parou. Foi repensado. O caminho tinha de ser outro. E, vendo bem, a verdade é que estamos sempre a tempo de fazer bem as coisas. Foi por isso, por acreditar que as coisas ainda podiam ser bem feitas, que, quando o projeto ressurgiu, reerguendo-se praticamente do zero, eu não dei muita importância. Escolhi um certo afastamento. O medo que o caminho a seguir fosse igual ou pior era algo que deveria ser realmente levado em conta. Até que me fui apercebendo das escolhas que estavam a ser feitas e comecei a sentir que as coisas poderiam estar a levar o rumo certo. Depois vi umas entrevistas do Rami Malek e fiquei realmente esperançado que finalmente isto ia correr bem. Depois, foi só tentar ler o menos possível sobre o assunto para me deixar surpreender na altura de colocar os olhos na tela. Aconteceu ontem no Norteshopping. Depois de uma corrida atribulada com direito a avaria na máquina da bilheteira, lá me consegui sentar no lugar ao lado da Odete antes do início da sessão. </div>
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O receio de que algo corresse mal tinha quase desaparecido depois de ter obtido algum feedback, ainda que indiretamente, através de amigos de longa data. Ao contrário do que imaginava anos antes, preparei-me para o melhor e não para o pior. O filme lá começou e logo sou surpreendido com o tema da 20th Century Fox cheio de guitarradas: “Isto promete”. Toda a apresentação dos créditos iniciais é feita tendo o Live Aid como fundo e eu fico com a certeza de que isto hoje não pode correr mal. E não correu. Bem pelo contrário. Estou em sintonia completa. Ou não tivesse eu também começado este texto pelo Live Aid.</div>
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Confesso que conhecia já praticamente todas as pequenas histórias dentro da História que o filme nos apresenta. Mas não me canso de as ouvir. E ouvi-las contadas daquela forma soberba só me pode deixar agradecido. Pensei que abordariam a totalidade da vida do Freddie mas, focar o filme direcionando-o para a brutal interpretação daquele dia 13 de julho de 1985 foi um golpe de génio. Enquanto amante da música dos Queen tenho de estar grato a quem assim decidiu. Mesmo que isso obrigue a muita boa música ter forçosamente de ficar de fora.</div>
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Foi bom ver darem o protagonismo merecido à Mary Austin e assistir a algumas piadas interessantíssimas. Claro que a composição do “We Will Rock You” não foi mesmo assim mas essa cena ficou muito boa. Enquanto os via bater o pé e as palmas fui lembrando as palavras de um jornalista qualquer que terá escrito sobre essa mesma música: “Se alguém sonha compor uma canção para coroar o mundo, está a perder o seu tempo: ela já existe desde 1977”.</div>
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Não sei se o filme é bom ou não. Não percebo nada de cinema. Mas percebo de música e percebo dos Queen. Emocionei-me em boas partes do filme (ou não estivesse a sua boa música sempre presente em alto som). O Rami Malek está de parabéns pois fez um bom trabalho, mesmo sem saber tocar piano. Fiz uma viagem no tempo. Várias. Bem sei que ainda existem bons amigos que me dizem constantemente que devo olhar em frente. Sou capaz de aceitar isso, embora perceba mais facilmente que desconhecidos não me entendam. Mas um dia hei-de conseguir que os meus amigos percebam que, pelo menos no meu caso, olhar para trás é a melhor forma de seguir em frente. Devo muito daquilo que sou à maravilhosa música dos Queen que está muito bem retratada neste filme.</div>
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Obrigado Freddie, Brian, Deacon e Taylor.</div>
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Mais uma vez. E outra E outra. E outra...</div>
Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-9330395591437636562018-10-25T23:16:00.001+01:002018-10-25T23:16:13.736+01:00Eu, a Carla, o Nepinhas e o Pedro<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUGo58xDsbMq7Z7_FLG_Sj6Hy67OZirT68JXfsEhJaOdIbLruKGVYpMYQa_RgT-Y70e80sg2xsjLD_TTaqUrgfm3nV8RSGJOiZ69GyvzuG4y6MPPNCM7_0PcnuRp1lz9pW5QpXay3EgdlF/s1600/299+-+Eu+-+Carla+-+Nepinhas+-+Pedro.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1274" data-original-width="1600" height="254" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUGo58xDsbMq7Z7_FLG_Sj6Hy67OZirT68JXfsEhJaOdIbLruKGVYpMYQa_RgT-Y70e80sg2xsjLD_TTaqUrgfm3nV8RSGJOiZ69GyvzuG4y6MPPNCM7_0PcnuRp1lz9pW5QpXay3EgdlF/s320/299+-+Eu+-+Carla+-+Nepinhas+-+Pedro.png" width="320" /></a></div>
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<i>“Fui para os bosques para viver livremente,</i></div>
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<i>Para sugar o tutano da vida,</i></div>
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<i>Para aniquilar tudo o que não era vida,</i></div>
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<i>E para, quando morrer, não descobrir que não vivi”.</i> </div>
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<br /></div>
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Houve um tempo em que éramos mais novos. Não havia tempo para grandes preocupações. Ou então as nossas grandes preocupações é que não eram assim tão grandes. Passavam por não perder o relato do Benfica aos domingos à tarde, levar um novo truque de cartas para mostrar ao Nepinhas na escola no dia seguinte, levar algumas moedas para o bilhar no Cheiro Verde com o Pedro e ter uma roupa lavadinha preparada para não fazer figura triste no liceu junto à Carla nas aulas da manhã. O resto aparecia feito.</div>
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No auge da vida, eram assim os meus dias. E nada mais sonhava para além disso. Continuar assim era chegar mais além.</div>
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Deus foi muito generoso comigo e, na altura apropriada, ofereceu-me bons amigos, assim como um pai que pousa na mão do filho um saco de berlindes ainda a reluzir. Dentre esses há os que, ainda que mal comparado, são como os berlindes que ainda tenho naquela caixa pousada no sótão que só eu sei onde está e apenas eu estou autorizado a mexer.</div>
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Mas, dizia eu, Deus foi muito generoso comigo. É preciso é saber ler nas entrelinhas. Estar atento aos sinais. Abraçar cada momento como se fosse único. E depois é deixarmo-nos ir por onde a alma nos levar. Ela sabe o caminho.</div>
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O encontro foi no domingo. Desde aí não paro de olhar a foto. Mas não é um olhar qualquer. É quase como se estivesse no átrio do Colégio de Welton a ser instigado a fazê-lo da melhor forma possível pelo John Keating. É por isso que aqueles rostos que a fotografia parou no tempo são muito mais do que isso. Falam de tanta coisa que, às tantas, queremos lá ficar muito tempo. Foi assim que no domingo fui “para os bosques”.</div>
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Depois de uma resolução de ano novo como há muito não tinha, consegui cumprir alguns sonhos antigos. Este domingo realizou-se mais um deles.</div>
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O primeiro a chegar foi o Nepinhas. Uma espécie de pontualidade britânica. Enquanto esperávamos fomos logo tratando de começar a planear o futuro almoço/jantar do antigo 10.º/11.ºB numa conversa que envolveu javali à mistura.</div>
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Depois chegou o Pedro no seu jeito natural que me lembra sempre os tempos em que foi o meu melhor amigo e que, por isso, me deixa sempre uma sensação agridoce a cada reencontro.</div>
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Por último chegou a Carla acompanhada pelo filhote. Trazia consigo um álbum de fotografias e uma caixinha também cheia de fotos e outras boas recordações. A tarde prometia. A foto que há mais de vinte anos tinha ficado gravada na minha memória, aquela que eternizou os momentos antes da minha entrada em palco em pleno Palácio de Cristal tinha sido finalmente trazida pela Carla.</div>
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E foi assim que passámos os quatro uma tarde inteira sentados à mesa a conversar.</div>
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Tudo o que a Carla trazia dentro daquela caixinha milagrosa foi apenas o acender o rastilho para todos os episódios engraçados que fomos recordando dos tempos em que partilhámos os mesmos corredores e até a mesma sala de aula. Partilhámos risos e saudades. Não tinha noção de que as fotos eram em tamanha quantidade. Foi bom ver imagens de passeios da escola, o interior da antiga sala de Religião e Moral, aquele festival vicarial e diocesano da canção que tanto me marcou (e que tinha tantas fotos que desconhecia).</div>
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Um pouco à pressa também mostrei algumas fotos que andam perdidas cá por casa mas haverá mais, certamente, a partilhar. Como alguns bilhetes que trocámos na altura e que ainda estão guardados religiosamente, e não é só cá em casa.</div>
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O tempo passou a uma velocidade vertiginosa. Nem sequer deu para tocar um bocadinho de piano a lembrar esses dias gloriosos. Mas é mesmo assim. Não se pode fazer logo tudo num primeiro reencontro.</div>
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Para um homem solitário como eu, ter, no mesmo domingo, reunidas três pessoas que, cada uma a seu tempo e à sua maneira, foram a certa altura da minha vida os meus melhores amigos, é algo digno de registo.</div>
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Os caminhos da vida são sinuosos e estreitos. Mas podem levar-nos a sítios que nunca ousamos sequer imaginar. A estes meus companheiros de domingo devo um agradecimento enorme por me terem levado, por um bom par de horas, até “aos bosques”. Porque só se é realmente livre quando se está com amigos. É este o verdadeiro tutano da vida.</div>
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Até um ano destes.</div>
Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-71962353129005003462018-09-29T10:11:00.001+01:002018-09-29T10:30:43.463+01:00O meu concerto do Miguel Araújo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjHv1lsb-2jtrb1fFS9nNakActVUhbarBlqBWhi5mOquCBxfnoxcmZuY7Pl-td5TGFmgWnmFveAraBEPZuaCHyT-7ZbmrOhraIP1H8FX9xTU99pTrcLRWEzdWl9k0DYBslSAjrf2I31TZl/s1600/298+-+Miguel+Arau%25CC%2581jo.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1041" data-original-width="1600" height="208" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjHv1lsb-2jtrb1fFS9nNakActVUhbarBlqBWhi5mOquCBxfnoxcmZuY7Pl-td5TGFmgWnmFveAraBEPZuaCHyT-7ZbmrOhraIP1H8FX9xTU99pTrcLRWEzdWl9k0DYBslSAjrf2I31TZl/s320/298+-+Miguel+Arau%25CC%2581jo.png" width="320" /></a></div>
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<i><span style="font-size: x-small;">* Foto: Município de Arouca</span></i><br />
<br />
Estava anunciado há muito. E desta vez trazia como brinde a participação dos bons amigos do Orfeão de Arouca. Marquei o meu lugar, dentro da minha cabeça, com muitos dias de antecedência.</div>
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Trabalhei até às 20h. Foi um corre-corre para conseguir passar por casa para jantar assim como quem bebe uma mini de penalty (os tais 5 minutos de whisky) e, quando dei por mim, estava já no carro a caminho do centro da vila com a Odete e os dois mais velhos: a Rita e o Tiago. Sim, porque o André ainda só tem dois aninhos e ia ser muito difícil segurá-lo por tanto tempo. Ficou com a avó.</div>
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Depois de uma voltinha nos carrosséis (depois voltamos cá no final do concerto, ok?) a praça era o destino. Chegámos faltava ainda mais de uma hora para o concerto. Os degraus estavam quase vazios. Pudemos escolher o lugar com todo o cuidado. Depois foi só esperar e ver a praça a encher e reencontrar alguns bons amigos. Como sou um sortudo fiquei acompanhado pela Sandra e pelo Vítor que me tinham oferecido um duplo CD do Miguel Araújo quando me tornei um quarentão.</div>
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Começou a primeira batida. “Olha, vão começar pelo Fizz Limão”. Que melhor porta existiria para abrir numa viagem ao passado?!</div>
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A forma como o Miguel escreve volta a colocar-nos em lugares e situações da nossa vida mesmo sem nunca nos ter conhecido. E eu sou dos que mais gosta de voltar a estar lá. Mesmo que “1987” seja alusiva a uma Taça dos Campeões Europeus ganha pelo FC Porto. Os tempos do saudoso zx spectrum serão sempre de ouro.</div>
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Acho que o segredo do Miguel está em colocar-nos do lado de dentro das canções. É impossível não reconhecermos os nossos pais a cada vez que se nos é dado a ouvir a “Balada Astral”. Ou sentir o cheiro das festas de infância ao som da “Romaria das Festas de Santa Eufémia”. E tantas outras que desfilaram ontem pela praça Brandão de Vasconcelos em Arouca. Cada canção é como que uma viagem ao melhor de nós. Porque no meio de toda a nossa insignificância, todos temos as nossas melhores memórias e os nossos melhores amigos. Mesmo que se tenham perdido no tempo. E apetece sempre voltar. Se um dia se comprovar que teremos todos realmente uma forma de vida melhor do que esta, há-de ser feita com pedacinhos assim. Porque como diz o Miguel, “o Fizz Limão há-de voltar”.</div>
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Houve ainda tempo para me voltar a apaixonar pela Odete já no encore final ao som dos “Aviões” num retrato perfeito do que pode ser a afeição que temos por quem amamos.</div>
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O concerto acabou ao som dos “Maridos das Outras” que deixa as mulheres histéricas. Eu vejo a coisa pelo outro lado. Tirando a Odete, para as outras mulheres eu também sou um “marido das outras”. E ter tanta mulher assim a desejar-me, ainda que indiretamente, não pode ser assim tão mau... Eheheh!</div>
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Regressamos aos carrosséis. Pelo caminho vou ainda a remoer o concerto. É por isso que ainda não acabou. Só acaba quando desligo completamente.</div>
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Como todos os concertos há sempre aquelas canções que gostaríamos de ter ouvido e ficaram de fora. As ausências do “Capitão Fantástico”, da “Canção do Ciclo Preparatório” que gosto tanto e, sobretudo, do “Axl Rose” são imperdoáveis.</div>
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Sabes Miguel, estive lá no Coliseu quando cantaste com o Zambujo e esgotaste aquilo aí umas 354 vezes. Com a minha Odete, marquei presença no “primeiro”. No original. Quando ainda não estava previsto mais nenhum. Onde até cantaste o “Bohemian Rhapsody” dos Queen, o meu grupo de eleição. Continua a dar-nos as tuas canções. As letras parecem decalcadas das linhas da minha vida. Eu vou seguindo atentamente. Sempre à espera de novas portas para voltar à minha infância. Para voltar àqueles amigos do tempo em que, como dizias ontem, os jogadores tinham as fraldas de fora, as meias para baixo e depois de um sprint já não recuperavam. Dizias tu que esse é que era o verdadeiro futebol. Digo eu que esses é que eram os verdadeiros amigos. Como aquele que encontrei nos carrosséis depois do concerto. </div>
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Obrigado Miguel. Fazes com que eu seja um eterno apaixonado pela vida que podia ter tido e, sobretudo, pela vida que escolhi.</div>
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Obrigado Orfeão de Arouca. Gente boa e amiga que serão sempre um orgulho para as suas gentes.</div>
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Obrigado João Martins pelos arranjos. Um dia vou compor e orquestrar também assim.</div>
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Obrigado Miguel.</div>
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E, claro, obrigado Odete, Rita e Tiago. Pela companhia. Por ontem e pela vida toda.</div>
Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-72211930274004524272018-09-11T17:21:00.002+01:002018-09-11T17:21:20.904+01:00A Banda Juvenil da Banda Musical de Arouca de 1984<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqDPUOLnTuC4Ic6RJduR-2vYzqnxkaG2igcLtTCikaWCquXta1aLaQYPybGBAysaTa7WWdFUafCH3UdYVbXnnAG2xOdXsoMKEoD4kcFNhM4jYI2Gf_XzFCUyNZ2uCq8_z0OvOnbBeoOwvY/s1600/297+-+Banda+Juvenil+em+1984.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="375" data-original-width="641" height="187" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqDPUOLnTuC4Ic6RJduR-2vYzqnxkaG2igcLtTCikaWCquXta1aLaQYPybGBAysaTa7WWdFUafCH3UdYVbXnnAG2xOdXsoMKEoD4kcFNhM4jYI2Gf_XzFCUyNZ2uCq8_z0OvOnbBeoOwvY/s320/297+-+Banda+Juvenil+em+1984.JPG" width="320" /></a></div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqA5HTqaBihcANxHnZhPPEIEbKLLRiMt3hb1v23c-FBCjFxft69bUnF9nAJZaItzkYSkt7Or9P6TFjAEnSX3rsebfnINataRkbeCZtfFT7PvUBYCKq2UKGY8l_Yxo1cRyme5cCY5e-O31J/s1600/297+-+Banda+Juvenil.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1113" data-original-width="1600" height="222" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqA5HTqaBihcANxHnZhPPEIEbKLLRiMt3hb1v23c-FBCjFxft69bUnF9nAJZaItzkYSkt7Or9P6TFjAEnSX3rsebfnINataRkbeCZtfFT7PvUBYCKq2UKGY8l_Yxo1cRyme5cCY5e-O31J/s320/297+-+Banda+Juvenil.png" width="320" /></a></div>
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Fazer parte da Banda Musical de Arouca foi uma das coisas mais marcantes que aconteceram na minha vida. Tão marcante que ficará para sempre. Ainda que tenha deixado em 2016 de ser músico e que, por esse motivo, não faça já parte do respetivo grupo fechado existente no facebook. Mesmo fazendo parte dos órgãos sociais como elemento do Conselho Fiscal.</div>
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Não sei ao certo o dia nem os pormenores que estiveram na base da criação da Banda Juvenil da Banda Musical de Arouca. Sei que o registo fotográfico mais antigo que conheço e que muito justamente está perpetuado numa das paredes da casa de ensaio, data de 1984. Terá sido a primeira formação. Foram aqueles rostos que me acolheram, a mim e a tantos outros, no final da década de 80 quando dava os meus primeiros passos como músico filarmónico.</div>
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Na altura de recordar, aquela em que de forma consciente mais nos sentimos gratos, há um nome que é transversal a tudo e a todos: Valdemar Noites. Aquele que terá sido o principal responsável pela riqueza desse alfobre em boa hora plantado.</div>
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Mas, talvez seja melhor começar esta história pelo início. Corriam os primeiros dias do mês de agosto ou talvez ainda os últimos do mês de julho. O telemóvel toca e o número não me é familiar. Atendo e do outro lado está uma voz alegre e amiga à minha espera. “A malta vai juntar-se e desta vez tens que vir”. Apesar da minha reserva inicial (uma vez que não fiz parte da primeira formação de 1984) acabei por ceder à insistência (o que não foi nada difícil, bem pelo contrário) e aceitei o convite. O dia combinado foi o de 14 de agosto, uma terça-feira. Aquele que, a fazer fé nas palavras dos mentores da ideia (uma vénia a todos eles) seria o mais apropriado para juntar o maior número de amigos dessa data. Foi assim que se desenhou a minha presença nesse encontro de gente que é mais gente porque é assim. E ainda bem.</div>
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Cheguei cedo. Gosto de cumprir horários. À minha espera estavam o Morre em Pé, a Linita, o Galório e o Mascote. Como praxe tive direito a uma música (brindaram-me com o Bohemian Rhapsody dos Queen. Sou um sortudo), uma cerveja e uma selfie. Um procedimento que se viria a repetir a cada elemento que chegava. Cada um com a sua música personalizada. Fui-me emocionando aos poucos para que não transparecesse cá para fora. Assim como uma criança que joga às escondidas da forma mais simples e inocente que é capaz.</div>
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Entre muitos reencontros, muitos risos, muito vinho e cerveja, houve amizade. Não fosse o Mauro marcar presença e seria eu o mais novo da noite. Isso pode ajudar a explicar a enorme gratidão que sinto pois foram esses (e outros que não estiveram nessa noite) que me transmitiram há muitos anos valores que transporto comigo com o orgulho próprio de quem tem consciência do muito que a vida trouxe. Ter a oportunidade de conversar com o Pinheiral, o Tozé ou o Nino, reconforta a alma de qualquer mortal.</div>
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Com o avançar da noite o vinho era cada vez menos e os risos eram cada vez em maior quantidade. Falou-se no “enterrado”, partilharam-se gravações da Banda Juvenil em 1989, creio, (dessa eu já fazia parte) e, do nada, apareceram os mais variados instrumentos para cada um exibir os seus dotes. Ouviu-se o clarinete, o piano, a guitarra e até o trompete onde o Lameiras procurou toda a noite pelas notas da melodia da novela “O Astro” onde o Tony Ramos interpretava um trompetista. Tudo acompanhado da dose certa de boa disposição.</div>
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Depois, diziam, era da praxe fazer alguns discursos com palavras de circunstância. Houve quem os fizesse em francês ou russo o que, para a ocasião, até talvez fosse o mais apropriado. Na qualidade de elemento que marcava presença pela primeira vez tive também de cumprir o meu dever de dizer algumas palavras. Tenho pena de não ter conseguido transmitir tudo o que me ia na alma naquele momento mas penso que o principal da mensagem chegou ao destino. E foi durante estes discursos que vivi o momento mais emocionante da noite ao ouvir as palavras do Tozé. Lembrar as idas à ópera do amigo Pinga toca bem fundo cá dentro. Mas houve uma frase que me ficou a martelar durante dias: aquela gratidão por “naquele tempo haver gente que disponibilizava o seu tempo para, gratuitamente, educar os filhos dos outros”. Essas palavras ficaram, amigo Tozé. Jamais as esquecerei. Estarei eternamente grato a toda essa gente.</div>
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Acho que essa noite me tocou especialmente por me ter trazido de forma mais clara e consciente o motivo principal pelo qual estou grato. E não tem a ver com cultura ou sabedoria. Tem a ver com amizade. A diferença entre as duas está no facto de me terem encorajado desde tenra idade, não a ser melhor do que ninguém mas a ser a cada dia, melhor do que mim mesmo.</div>
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Obrigado Vítor pelo convite e pela amizade.</div>
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Obrigado Valdemar. Como diria um desses “ex-músicos” nesse mesmo jantar ao querer de ti dizer muito: “O Valdemar é um autêntico cabeça-de-série”.</div>
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Creio que a expressão procurada seria “fora-de-série” mas, como na medicina, o nome do remédio pouco importa. O que conta é o efeito que provoca. E, neste caso, a mensagem passou perfeitamente. Porque é facilmente reconhecido por todos. </div>
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Obrigado Banda Juvenil de 1984.</div>
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Obrigado Banda Musical de Arouca.</div>
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Continuem assim grandes. Só assim poderei acreditar que um dia serei também maior.</div>
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<br /></div>
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<i>Arouca, 11 de setembro de 2018</i></div>
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<b>Cebolinha</b></div>
Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-88930821884786839412018-07-18T12:47:00.001+01:002018-07-18T14:30:41.123+01:00Um adeus à Universidade de Aveiro<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYupcG3Z7Z4nPXlFbqFSGpknSN0eB4y4KhZJ_CUb0iA2U4T-PzyYg1wRoXMQ7yYzF7idWII0Vnh4rjl84xcyzp9rWt8wyBYyYoy_mofiXJDxzRl9xZwqMb9qQxRyozCm1H64geboFfNo0g/s1600/296+-+Adeus+a%25CC%2580+UA.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="532" data-original-width="850" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYupcG3Z7Z4nPXlFbqFSGpknSN0eB4y4KhZJ_CUb0iA2U4T-PzyYg1wRoXMQ7yYzF7idWII0Vnh4rjl84xcyzp9rWt8wyBYyYoy_mofiXJDxzRl9xZwqMb9qQxRyozCm1H64geboFfNo0g/s320/296+-+Adeus+a%25CC%2580+UA.png" width="320" /></a></div>
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Tudo começou há cinco anos atrás.</div>
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Os tempos de conservatório há muito tinham passado. Depois de muitos anos sem estudar música decidi aventurar-me num sonho antigo. O desejo de alargar os horizontes do saber falou mais alto e, quando dei por mim, estava em Aveiro numa “aula aberta” de composição a ver se o sonho tinha pernas para andar. Foi aí que conheci a Sara, aquela que eu ainda não sabia, mas que haveria de ser a minha professora de Composição Livre ao longo de cinco preciosos anos e que foi o meu principal apoio ao longo de todo este percurso. Aquilo a que nas escrituras chamam de “pedra angular”.</div>
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A Odete foi a principal impulsionadora de tudo isto e, assim que a decisão de fazer os pré-requisitos foi tomada, aconselhei-me com o amigo Ivo que deu o pequeno empurrão que faltava a quem já ia mesmo no fundo da descida do sonho.</div>
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Não foi um início fácil. Apesar do 15,4 na prova de admissão, como concorria como titular de um curso superior (Matemática), as vagas eram “diferentes”. Foi assim que as coisas não correram bem logo à primeira tentativa. Éramos vários candidatos nessas circunstâncias pelo que não fui o selecionado para a única vaga existente. Tive de adiar o sonho por mais um ano. E assim foi. Voltei a repetir a prova (embora a nota não contasse absolutamente para nada), desta vez com direito a um 17,4. Felizmente as vagas eram em maior número e consegui ter acesso à frequência da Licenciatura em Música – Composição.</div>
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Quis o destino que as minhas companheiras de aventura fossem todas meninas. Juntaram-se a mim, nesse primeiro ano de Composição, a Filipa, a Sveta e a Daniela. Mesmo em DTFM, cujos alunos de 1.º ano tinham bastantes aulas apenas connosco, também eram só meninas. Como o mundo é pequeno, uma delas, vim a descobrir pouco depois, era neta do Sr. Mário de Urrô, por isso, gente de bem. Havia também os colegas de composição de outros anos que tão bem nos acolheram. E haveriam ainda de surgir os colegas de composição nos anos seguintes, como o Tota, o Zé, o Lucas ou a Patrícia.</div>
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Nunca esquecerei o meu primeiro dia na Universidade, com uma aula de coro com o Prof. Lourenço (um joia como professor e como pessoa) e com uma aula de Leitura Atonal com o Prof. Vasco Negreiros, a pessoa mais rigorosa que conheço no que diz respeito a horários e afinação. O que eu muito admiro e que me fez aproveitar ensinamentos para a vida. Muitas das suas histórias cómicas ainda estão na minha memória.</div>
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Não posso agora enumerar todos os episódios que me recordo. O texto ficaria incrivelmente longo e perderia grande parte do pouco interesse que, por si só, já desperta. Mas há alguns momentos ou pessoas que gostaria de recordar aqui.</div>
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A pessoa com quem mais aprendi chama-se Daniela. Mesmo tendo cometido a pequena traição de ao fim de um ano se mudar para a equipa dos pianistas. Uma pessoa que aprendi a admirar e que fez com que este meu trajeto corresse de forma mais natural e menos solitária. Mesmo quando foi para Itália. Vou ter saudades das nossas conversas. Foram poucas, mas foram boas.</div>
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É impossível não lembrar o Jean-Claude van Damme da música eletrónica: o grande professor Filipe Lopes. Ele, que muito carinhosamente nas aulas me chamava Brandão (“É verdade ou é mentira?”). O verdadeiro John McClane do mundo da música.</div>
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O dia em que fui jantar com outros colegas de Arouca a casa do professor Evgueni também deixou marcas. Não foi fácil chegar a casa nesse dia. Como se costuma dizer, eu bem me encostava à parede mas ela não parava quieta... Eheheh!</div>
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Lembro também a primeira edição do “Sons do Imaginário” onde foi estreado o meu “Bailado” para piano solo. Lembro-me de levar doces conventuais de Arouca para o público se ir entretendo no intervalo. Felizmente há um registo em vídeo dessa interpretação.</div>
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O Sérgio foi também um ótimo colega, um rapaz extraordinário que me passou “resmas de gigas” de bancos de sons para usar no meu mac ao fazer música.</div>
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Há também o Sr. Veiga, o Sr. Vítor e o Sr. João e, principalmente, a D. Conceição que partiu cedo demais e que me perguntava frequentemente pelos meus pequenotes enquanto limpava o Auditório mesmo antes de uma aula de Projetos Multidisciplinares.</div>
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Lembro também o primeiro trabalho de grupo em que me vi envolvido, sobre a obra “Vathek”, com colegas que deixam muita saudade.</div>
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Há ainda as aulas partilhadas com o amigo Daniel, um conterrâneo que fez por estes dias o seu Recital de Mestrado. Um orgulho para todos os arouquenses.</div>
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Como trabalhador-estudante, o percurso foi muito acidentado e cheio de dificuldades. Com a Área Vocacional repartida por todos os dias da semana e com presença obrigatória, era impossível, a quem não se pode deslocar todos os dias à universidade, fazer melhor. A aprovação em muitas das disciplinas foi conseguida sem ter sequer frequentado uma aula. Isso exigiu uma maior preparação e dedicação em casa. Por isso é lembrado com um sorriso suave o 20 conseguido a História, por exemplo, mesmo sem ter assistido a uma única aula.</div>
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Deixa também muita saudade o processo de composição da minha peça “Reborn” para trompete. Foram dias a testar sonoridades com o amigo Fábio cujo resultado final acabou por ser bastante satisfatório.</div>
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A quem estarei também eternamente grato será ao Romeu que deu vida à minha “Drave” para guitarra, talvez a peça que me é mais querida. E aquele dia em que o Berény quis que eu ouvisse a sua interpretação da minha “Zigurat” para guitarra também me marcou. Pudesse eu ser também assim enorme e era um homem feliz.</div>
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Lembro também a oportunidade que tive de atuar em pleno multiusos de Gondomar com uma banda de tributo aos Queen onde tive o privilégio de tocar “campainha” na Bicycle Race, honra que devo à amiga Inês que será um dos rostos que ficará gravado na minha memória para sempre. Também pela sua beleza mas, sobretudo, porque parece também apreciar a boa música dos Queen e isso, claro está, revela muito bom gosto.</div>
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Há também aqueles colegas que aprendemos a admirar e que tentamos seguir como modelo desde o primeiro dia. Por isso o Bernardo fará sempre parte das melhores memórias e serei sempre um seguidor atento do seu percurso.</div>
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Foi bom também o dia em que soube do meu prémio num concurso de composição que me levou até à Gulbenkian em Lisboa onde encontrei também gente conhecida. Esse modesto prémio fez com que a minha foto aparecesse também no “muro da fama” da universidade junto de outros colegas premiados, esses sim, com um valor enorme.</div>
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Há também memórias de alguns jantares (eu sei que não fui a muitos) onde a animação reinou, e de que maneira.</div>
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Ao longo destes anos foram muitas as viagens para Aveiro em conjunto com os meus sobrinhos ou com outros amigos de Arouca que tive o prazer de transportar no meu carro e que ajudavam a que as viagens passassem de forma mais animada.</div>
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Uma das memórias que mais se entranhou em mim foi aquele dia em que me disseste: “És uma pessoa boa”. Porque isso é o que realmente tem valor e foi a principal lição que recebi, desde cedo, dos meus pais. Lembro-me de te ter dito que o meu segredo era ser feliz com pouco, embora também fosse capaz de ser feliz com muito. E sorrimos.</div>
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Não posso deixar de agradecer também às minhas entidades patronais que desde a primeira hora, dentro do razoável, me deram liberdade para moldar o meu horário por forma a conseguir frequentar as aulas mais importantes. Por isso, é justo deixar aqui um agradecimento público à Dra. Isabel Bessa que trago no meu coração, à Prof. Teresa Miller que tanto apoio me deu desde sempre, ao Prof. Edgar por todo o incentivo e disponibilidade e ao Prof. Sérgio Carvalho por toda a compreensão, mesmo quando me via pelos corredores da Academia com calhamaços de livros a estudar. Os meus colegas de trabalho, primeiro na Biblioteca Municipal e depois na Academia de Música, também foram muito importantes pois demonstraram sempre disponibilidade total para me substituir quando necessitava de deslocações extra à Universidade.</div>
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Muitos outros mereceriam ser mencionados. É impossível agradecer aqui a todos os que fizeram parte deste meu discreto percurso.</div>
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Para o fim deixo três agradecimentos especiais.</div>
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O primeiro vai para a professora Sara Carvalho. Mais do que uma professora, foi um pilar importante neste meu percurso universitário. Compreendeu a minha condição de vida e ajudou-me muito neste sonho que não foi fácil mas que, felizmente, chegou a bom porto. Estarei eternamente grato por todos os sábios ensinamentos que me deu. É com uma satisfação especial que vejo que a minha última aula na universidade foi uma aula de composição no dia 5 de julho às 18h30. Felizmente, tive oportunidade de fazer este agradecimento sincero, pessoalmente. Uma boa forma de concluir o meu percurso universitário.</div>
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O segundo agradecimento vai para os meus pais. Este, para além de meu, sempre foi um sonho da minha mãe que não percebe nada de música. Devo ao meu pai quase tudo do que são as minhas bases musicais. Foi ele que me iniciou no estudo do piano com aulas diárias lá em casa. Tenho a certeza que é um orgulho para eles eu ter concluído esta etapa, mesmo que tenha sido já à porta dos 42 anos. Mesmo que a minha mãe esteja agora à mercê do Alzheimer e, muito provavelmente, esqueça essa boa nova um minuto depois de a ter recebido.</div>
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O último agradecimento vai para a Odete e para os meus três filhotes.</div>
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A Odete foi a principal responsável por eu ter tido a coragem de perseguir este sonho. Voltar a estudar aos 37 anos, depois de uma licenciatura “das antigas” em Matemática, depois de ter sido professor, depois do “desemprego”, depois de ser funcionário na Biblioteca e, mais tarde (e que ainda se mantém), auxiliar de educação educativa na Academia de Música de Arouca, e depois de três filhos maravilhosos que merecem um pai a tempo inteiro, revelou-se um desafio muito maior do que seria de supor, à partida. Não fosse o enorme apoio da Odete que, diga-se em nota de rodapé, ainda me incentivou a prosseguir para o Mestrado, e eu nunca teria conseguido. No entanto, o Mestrado pode esperar. Muito provavelmente, vai esperar a vida toda. A minha família merece um pai presente e, no sentido inverso, eu também mereço a minha família. Gosto muito de brincar. Vai ser bom voltar a fazê-lo de forma completamente livre.</div>
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Muito obrigado, Odete.</div>
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Agora é aproveitar o tempo livre que vai surgir, também para compor. É aproveitar o não ter de ir trabalhar das 9h às 22h com uma hora de almoço e outra para jantar para conseguir um dia livre para ir à universidade. É tentar conseguir um horário em que se chegue a horas decentes a casa, ainda a tempo de brincar com os filhos.</div>
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Mais uma etapa concluída na minha modesta vida onde aquele menino que no 6.º ano teve nota 5 a todas as disciplinas com exceção de trabalhos manuais, é apenas um simples auxiliar de ação educativa, mas com a clarividência necessária para alargar o conhecimento. Porque esse, não ocupa lugar.</div>
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Agora, deixem-me ficar no meu cantinho e tentem não abusar da minha boa vontade. Porque eu também mereço um bocadinho de descanso.</div>
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As férias aproximam-se. Ainda bem. Há tantas coisas em lista de espera que vou aproveitar para fazer. Ouvir Queen com o som no máximo é uma delas.</div>
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Um obrigado a todos os que não foram mencionados mas que, de uma forma ou de outra, fizeram parte deste meu percurso. A todos estou muito grato.</div>
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Até já.</div>
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Miguel</div>
Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-92083088396716414532018-06-21T12:02:00.003+01:002018-06-21T12:57:27.811+01:00O meu concerto dos Queen<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJuFRnCCZy5YVLhIp-hijRRj-j8_VuZiIp0MwN1b8-5JcGVnlaDu3stq7c6ROIddFHvWoZCHlGaGstRldBZeUtDk3jCn0hyphenhyphen3AlIttsxJmXH0k5qGKx7_zRLWcQtbs3NSbomA-8QfwiLh4M/s1600/295+-+O+meu+Concerto+dos+Queen.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1274" data-original-width="1600" height="254" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJuFRnCCZy5YVLhIp-hijRRj-j8_VuZiIp0MwN1b8-5JcGVnlaDu3stq7c6ROIddFHvWoZCHlGaGstRldBZeUtDk3jCn0hyphenhyphen3AlIttsxJmXH0k5qGKx7_zRLWcQtbs3NSbomA-8QfwiLh4M/s320/295+-+O+meu+Concerto+dos+Queen.png" width="320" /></a></div>
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Corria o ano de 1985.</div>
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A livraria Ferreira era ainda em frente à praça. Era lá que, juntamente com o meu irmão, comprava carteiras de calendários de Fórmula 1. Uma coleção da Impala com um total de 76 calendários e que o meu irmão, creio, ainda tem guardada de forma imaculada. O meu irmão sempre foi um ídolo para mim. Ensinou-me e viveu comigo muitas das melhores coisas que vou levar desta vida para a eternidade. O fascínio pela Fórmula 1, e pelo Nelson Piquet em particular, é uma delas. Mas essa não era a única coleção disponível na altura. Na livraria Ferreira havia uma outra coleção de calendários, também da Impala: <i>“The Top Disco Stars”</i>. Essa ficou a cargo da minha irmã Cristina. Eram, ao todo, 81 calendários. Na altura, aos sábados, passava na televisão o programa <i>“Top Disco”</i> onde se podiam ver as tabelas de vendas. Embora não fosse ainda um fã de música, gostava de tentar adivinhar quem estaria a liderar a tabela. Não, não me lembro de ver os Queen. Mas lembro-me muito bem de <i>“I Just Called to Say I Love you”</i>, <i>“Last Christmas”</i>, <i>“Nikita”</i>, <i>“Still Loving You”</i> ou <i>“We Are the World”</i>, por exemplo, terem liderado a tabela dos mais vendidos. Por isso também me interessava por essa coleção. Lembro-me que alguns dos meus preferidos eram alguns dos mais extravagantes, mesmo sem lhes conhecer qualquer música. E é aqui que surge a minha primeira memória dos Queen. A foto escolhida, ao contrário da maioria dos outros artistas, era de um concerto ao vivo onde o Freddie aparecia deitado no chão a cantar. A imagem nem sequer estava muito nítida. Lembro-me de dizer à minha irmã que aquele calendário não era grande coisa ao que ela me respondeu: “o calendário pode não ser mas olha que eles têm músicas fixes”. Esta será a memória mais antiga que tenho dos Queen.</div>
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Mas, vamos ao concerto...</div>
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Dizem que foi no dia 7 de junho na Altice Arena mas, na verdade, esse concerto, para mim, começou muito antes. Pelo menos, há muito tempo que vinha a ser preparado. Creio que esse início se deu em 1991. Foi quando despertei para a música e, em particular, para os Queen.</div>
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Gosto muito do ano de 1991 pois traz-me de novo o Sérgio, o Tono e o Pedro. Eram os meus amigos inseparáveis. Éramos os verdadeiros quatro cavaleiros do Apocalipse. Partilhámos um sem número de aventuras que, a fazer lembrar as palavras da Carolina Deslandes, julguei durarem para a vida toda. Brincávamos juntos na Escola, andávamos juntos no Grupo Coral, no Grupo Cultural e Recreativo de Rossas, na Banda Musical de Arouca e até no extinto Grupo de Jovens onde, em 1994, cantámos aquela saudosa canção da Sara no Palácio de Cristal.</div>
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O meu pai tinha comprado um leitor de vídeo e não demorou muito a que eu começasse a seguir os conselhos do amigo Pedro. Foi ele que me colocou o bichinho de ver o Top+ aos domingos ao início da tarde onde costumava gravar os melhores videoclips para rever as vezes que quisesse. Quis o destino que na primeira vez que vi o Top+ com o vídeo prontinho a gravar passasse o videoclip da <i>“Bohemian Rhapsody”</i> dos Queen. Fiquei completamente rendido. Não apenas a uma música mas a toda uma obra. O Freddie acabaria por morrer em novembro desse ano e as vendas dos <i>“Greatest Hits I e II”</i> dispararam. Não tardou a que ocupassem os dois primeiros lugares dos tops. Lembro-me de pensar: “agora que os descobri é que isto acaba”?!! Não podia estar mais enganado. Estava apenas a começar. Havia tanto a descobrir. Apenas tinha de fazer o caminho ao contrário. E assim fiz. Felizmente ainda não havia internet e isso fez com que as coisas fossem aparecendo a um ritmo natural. Aos poucos fui descobrindo mais uma e outra canção. E mais outra. E mais outra...</div>
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E eu creio que, para mim, o concerto do dia 7 de junho começou aí, em 1991. Por isso, talvez não seja exagerado dizer que terei sido o primeiro a chegar à plateia. Muito antes de ter entrado no comboio com a Odete.</div>
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Quando os Queen e o Adam Lambert estiveram no Rock in Rio em 2016 ponderei ir ver mas, confesso, o facto de não ter o Freddie nem o John fez-me ficar “de pé atrás”. E depois, pensava eu, vou ficar tão longe do palco que, para ver apenas uns pontinhos lá ao fundo a mexer, não vale a pena. A verdade é que, às vezes, as boas memórias devem ser deixadas em paz para que as consigamos guardar da forma imaculada que as recordamos. Nesse dia, em 2016, assisti a todo o concerto na sic radical, em direto, deitado na minha cama. À medida que o concerto avançava dei comigo a desejar estar lá. Como poderia ter falhado? O concerto estava a ser bom e eu, um dos maiores fãs, tinha resolvido ficar em casa.</div>
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Até que veio esta oportunidade do passado dia 7 e eu, desta vez, não podia falhar. Mesmo que só me tivesse realmente decidido nos últimos dias. Até a mãe de um dos meus amigos de infância, a Dona Eduarda, me ofereceu dinheiro para o bilhete. Como poderia colocar a hipótese de não ir?!</div>
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Foi o melhor concerto da minha vida. Sem jantar para conseguir um lugar perto do palco soube, assim que entrei na Altice Arena, que aquele ia ser “o dia”. Afinal de contas estava só a meia dúzia de metros do palco. Aquele onde dali a pouco iriam estar o Brian e o Roger. Meio sonho de uma vida ia ser cumprido. Do lado de fora tinha já cumprimentado o Sérgio, não o da minha meninice, mas o outro, o de Chave, que fez teatro comigo e agora é profissional da arte em Lisboa. Já devidamente instalado recebo mensagem da amiga Catarina que também está do lado de dentro da Arena (e, sejamos justos, do lado de dentro dos Queen) e procura saber de mim. Infelizmente estamos em lados opostos pelo que o encontro foi impossível. E como eu gostaria de ter partilhado com ela algumas das músicas...</div>
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Antes de ouvir os primeiros acordes tento adivinhar na minha cabeça as canções que me serão dadas a ouvir dali a pouco. Dizem que o concerto celebra ainda os 40 anos do álbum <i>“News of the World”</i> e eu penso que é desta que vou ouvir <i>“Spread Your Wings”</i>, uma das minhas canções favoritas. Infelizmente essa profecia não se veio a concretizar.</div>
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Na minha bolsa de apostas, <i>“Hammer to Fall”</i> iria iniciar o concerto. Tiro ao lado. Nem sequer seria tocada naquela noite.</div>
<div style="text-align: justify;">
Até que o estrondo começou tendo o palco surgido após aparecer a imagem do tal robot que foi capa desse álbum de 1977 a dar um murro virtual naquilo tudo. Um espetáculo visual e sonoro que me deixou com a boca aberta largos minutos. De tal forma que quando dei conta <i>“Tear it Up”</i>, <i>“Seven Seas of Rhye”</i> e <i>“Tie Your Mother Down”</i> tinham já passado num ápice.</div>
<div style="text-align: justify;">
Num concerto onde tudo foi bom é difícil destacar alguns pontos. Mas o primeiro verdadeiro ponto alto talvez tenha sido com <i>“Don’t Stop Me Now”</i>. Por momentos corpo e alma separaram-se. No palco não estavam os Queen. Estava, isso sim, aquela cassete que me gravaste em 1991 onde este <i>“Don’t Stop Me Now”</i> era ouvido em modo "repeat" enquanto pensava na menina que amava em segredo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda eu não tinha recuperado o fôlego e surge o Adam a cantar <i>“Bicycle Race”</i> sentado em cima de uma bicicleta e eu a lembrar-me daquele concerto onde tive o privilégio de estar em palco com uma banda de tributo em que me pediste para tocar campainha nessa mesma canção.</div>
<div style="text-align: justify;">
Haveria de chegar pouco depois <i>“I Want it All”</i> e eu passei o tempo todo a recordar aquele aniversário onde me deste as cassetes de vídeo <i>“Greatest Flix I e II”</i> que me fez descobrir novos videoclips que até então desconhecia completamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
Por mim o concerto podia ter parado já ali que tinha valido a pena. A emoção estava em alta e o Brian desarma-me completamente com o <i>“Love of my Life”</i> que me remete para um momento único com a Odete, algures em 1996. Descobri esta canção apenas em 1992, quando saiu o álbum <i>“Live at Wembley 86”</i>. Desde essa altura tentei, deitado no sofá de minha casa, com o som no máximo, de olhos fechados, estar “lá” a cantar. Passados todos estes anos consegui cumprir o sonho.</div>
<div style="text-align: justify;">
E os êxitos foram-se seguindo, um após outro, num concerto de sonho.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando <i>“Bohemian Rhapsody”</i> chegou já eu tinha lembrado várias vezes nessa noite aquele dia em que comprei o álbum <i>“A Night at The Opera”</i> na 31 de Janeiro em que abrimos o CD com aquela curiosidade descontrolada para vermos a letra da canção na íntegra.</div>
<div style="text-align: justify;">
Como era previsível, o concerto fechou com <i>“We Will Rock You”</i>, <i>“We Are The Champions”</i> e <i>“God Save The Queen”</i>.</div>
<div style="text-align: justify;">
Houve tempo para o Freddie aparecer “virtualmente” várias vezes levando a plateia ao rubro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Saí da Altice Arena com a sensação de dever cumprido. Embora tenha ficado bastante triste por em nenhum momento da noite se ter falado no John. Nem uma imagem. Nem uma palavra sequer. E isso não se faz. E bem que o poderiam ter feito quando tocaram alguns dos êxitos que saíram da sua cabeça.</div>
<div style="text-align: justify;">
Deitado na cama do hotel, ainda em transe, agradeci interiormente cada momento daquela noite. Agora posso fechar definitivamente a porta da minha adolescência. Posso fechar a porta àqueles que foram os dias da nossa vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>"Sometimes I get the feelin'</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>I was back in the old days - long ago</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>When we were kids when we were young</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Things seemed so perfect - you know</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>The days were endless we were crazy we were young</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>The sun was always shinin' - we just lived for fun</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Sometimes it seems like lately - I just don't know</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>The rest of my life's been just a show"</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para os curiosos, aqui fica o alinhamento do concerto:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Tear It Up</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Seven Seas of Rhye</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Tie Your Mother Down</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Play the Game</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Fat Bottomed Girls</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Killer Queen</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Don’t Stop Me Now</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Bicycle Race</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>I’m in Love With My Car</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Another One Bites the Dust</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Lucy</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>I Want It All</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Love of My Life</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Somebody to Love</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Crazy Little Thing Called Love</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Under Pressure</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>I Want to Break Free</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Who Wants to Live Forever</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Last Horizon</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>The Show Must Go On</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Radio Ga Ga</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Bohemian Rhapsody</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>We Will Rock You</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>We Are the Champions</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>God Save the Queen</i></div>
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-->Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-57119482250490865192018-05-02T12:05:00.001+01:002018-05-02T12:05:14.300+01:00Memórias da Adolescência a reboque do Karate Kid<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvOPQ4MKvjHqvgr5xPq0XZsXYnMA1wTJSTwQyb1PKxq-Q1ecpZk8HszIzhxrGhGtPMbEbM0mlMrdrbkwsPQRykHPvjiHJomyQ1MW9_h03seFyBDz1ALhyphenhyphenMmsHBWcy9EjJH_RjZTl43pBJe/s1600/294+-+Cobra+Kai.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1001" data-original-width="1600" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvOPQ4MKvjHqvgr5xPq0XZsXYnMA1wTJSTwQyb1PKxq-Q1ecpZk8HszIzhxrGhGtPMbEbM0mlMrdrbkwsPQRykHPvjiHJomyQ1MW9_h03seFyBDz1ALhyphenhyphenMmsHBWcy9EjJH_RjZTl43pBJe/s320/294+-+Cobra+Kai.png" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
A primeira vez que entrei num cinema foi em Agosto de 1989. Tinha 13 anos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Participava num Curso de Férias para Jovens Músicos organizado pelo INATEL e foi assim que, juntamente com alguns parceiros de aventura, tive a minha primeira noite de cinema. A escolha não era muito variada: ou optávamos pelo novo 007 ou pelo Karate Kid III. Acabei por me decidir pelo segundo. E foi assim que esta saga ficou marcada na minha vida tendo eu feito o caminho da trilogia no sentido inverso. O capítulo II vi-o na televisão tendo-o revisto algumas vezes na cassete de vídeo com que fiz a respetiva gravação e que ainda guardo cá em casa, no sótão, no baú das boas memórias. O primeiro capítulo também haveria de ser gravado. Mas para isso a tarefa requereu um pouco mais de esforço. Foi preciso alugar o filme no saudoso clube de vídeo. Depois foi só juntar dois leitores de vídeo: o do meu pai e o do amigo Pedro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sempre que lembro esta saga recordo um sem número de momentos da minha vida que jamais trocaria por quaisquer outros.</div>
<div style="text-align: justify;">
E porque vos falo disto hoje?</div>
<div style="text-align: justify;">
Porque ontem, por mera casualidade e felicidade, ao fazer zapping, apanhei o "The Tonight Show" com o Jimmy Fallon. E adivinhem quem era um dos convidados... Isso mesmo: Ralph Macchio, o famoso Daniel Larusso do Karate Kid. Continua com cara de menino mas o rapaz nasceu, imagine-se, em 1961. Estreia hoje, no Youtube Red (não disponível em Portugal) a série Cobra Kai onde volta a dar vida a Daniel Larusso tendo como rival o mesmo opositor do primeiro filme de 1984.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando eu tiver um bocadinho de tempo espero conseguir colocar as mãos na série para lembrar bons momentos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Para os mais saudosos (como eu) aqui fica o trailer da nova série.</div>
<div style="text-align: justify;">
Beijinhos e abraços e desculpem lá este meu pequeno devaneio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe width="320" height="266" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/xCwwxNbtK6Y/0.jpg" src="https://www.youtube.com/embed/xCwwxNbtK6Y?feature=player_embedded" frameborder="0" allowfullscreen></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<br />
<br />Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-21424091683979550432018-03-01T23:15:00.001+00:002018-03-01T23:15:36.670+00:00A minha professora de piano<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSiHCC74bq01QDDyxI32Gzsr0S96SzvQQTrBypNk1IzYicPuwROtIcUn5EI732QSNl_IId4q_-UHZC4M9nVF492sLUaXMsHzKUcpoCxB7FhNpQv1JEFY0LKxZtD-5Ed8IZEdT35vhWdveb/s1600/293+-+Professora+Mari%25CC%2581lia+Rocha.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1156" data-original-width="1600" height="231" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSiHCC74bq01QDDyxI32Gzsr0S96SzvQQTrBypNk1IzYicPuwROtIcUn5EI732QSNl_IId4q_-UHZC4M9nVF492sLUaXMsHzKUcpoCxB7FhNpQv1JEFY0LKxZtD-5Ed8IZEdT35vhWdveb/s320/293+-+Professora+Mari%25CC%2581lia+Rocha.png" width="320" /></a></div>
<i>Foto tirada no final de uma Audição, no início dos anos 90.</i><br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há muito que queria escrever-te.</div>
<div style="text-align: justify;">
Há tantas coisas que te queria ter dito e outras tantas que tenho agora para te dizer.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sinto falta da minha confidente. E temos de ser honestos; poucas há como a nossa professora de piano, não é?</div>
<div style="text-align: justify;">
Em primeiro lugar queria dizer-te que a minha memória continua de boa saúde. Talvez seja por saber filtrar de forma paciente aquilo que realmente é bom de guardar. É por isso que a minha gratidão será para sempre. Lembro-me de tantos pequenos pormenores que é como se voltasse a estar lá o tempo todo. E, acredita, a expressão mais feliz é mesmo “voltar a estar lá”.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda a semana passada voltei a fazer o mesmo percurso. Voltei a tirar fotos à tua casa. Desculpa. Bem sei que já as tenho aqui em número mais do que suficiente, mas não consigo resistir. O silêncio que sai de lá, a princípio parece assustar, mas depois acaba sempre por me tranquilizar. Parado, em frente ao portão, respiro fundo. Procuro sempre um odor que tenha permanecido e que me faça reviver tudo ainda mais do lado de dentro das memórias. Dizem que é esse também o lado de dentro da vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sentei-me um bocadinho no passeio, sabias? Tentei abstrair-me da casa ao lado em “ruínas” que, obviamente, tinha um letreiro com publicidade à empresa do Miguel. Aquele que tem a felicidade de ser teu neto e que por algumas vezes me virou as páginas nas nossas audições de piano.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sentei-me, já te disse? Gosto de te visitar com calma. Sem pressas. Para te contar todas as novidades e, claro, trazer também sempre algo novo para casa.</div>
<div style="text-align: justify;">
De repente, na minha cabeça, tudo volta a ganhar vida. O portão abre e procuro a porta de entrada que fica do lado de lá. Abro a porta e entro, percorrendo todo o corredor até à sala onde terei aula daqui a pouco. E faço-o, como se a casa fosse minha. Sentado, passando os olhos uma última vez pelo Fontaine ou pelo Hindemith, sou surpreendido pela tua voz já um bocadinho rouca que me cumprimenta com um sorriso enquanto solta um “Adeus Rui”! Essa tua forma de dizer olá ficou-me gravada para sempre.</div>
<div style="text-align: justify;">
A princípio eu levava os meus livros num saco de plástico, lembras-te? Só depois comecei a usar uma mochila. Tenho andado a ouvir o disco que me vendeste na altura com algumas sonatas interpretadas pela tua filha Isabel. Uma delícia. Na verdade, não foi a única coisa que me vendeste. Costumavas ter também umas agendas pequeninas que eu muito gostava e que te comprava todos os anos. E lembro-me que houve também uns livros que comprei para oferecer ao pai e à mãe nos seus dias respetivos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sabes, estar aqui sentado no passeio é ótimo. As memórias fluem de uma forma mais escorreita. Olho o fundo da rua e volto a ver-me com a Sílvia a aproximarmo-nos à mesma velocidade que o nervoso miudinho começava a tomar conta de nós. Na altura, nunca pensei que iria sentir falta disso. Mas sinto, e muito.</div>
<div style="text-align: justify;">
Aqui sentado é mais fácil lembrar o Miguel, a Joana, a Sandra, a Gracinha, a Diana, a Sílvia ou a Carla. Ou a Nelinha e o Paulo. Ai o Paulo... Era, de longe, o melhor entre os melhores. Era um privilégio assistir às suas aulas de piano. Aquele prelúdio em dó#m de Rachmaninoff não me sai da cabeça.</div>
<div style="text-align: justify;">
Há aulas que ficaram e ficarão para sempre. Como aquela em que me fizeste chorar por causa da minha sonata de Mozart. Valeu a pena. E aquela em que cheguei para ter aulas e o piano estava sem teclas. Na altura fiquei todo contente pois aproveitei o tempo livre para comprar alguns jogos para o meu Commodore Amiga.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sabes, continuo aqui sentado, mas daqui a pouco volto a outros sítios que fizeram esses dias deliciosos. Vou voltar a olhar a vitrine do lugar onde antes comprava a Gazeta dos Desportos, o sítio onde antes tinha um banco comprido onde me sentava a fazer tempo até que chegasse a hora da aula. E vou voltar a ficar um bocadinho no centro de transportes a lembrar a música ambiente que passava nesses sábados. Talvez não saibas, mas era sempre a mesma.</div>
<div style="text-align: justify;">
Foi aqui, bem juntinho onde agora estou sentado, que o meu cunhado me veio buscar no dia em que saí da tua aula em Junho de 1993 para ver o meu primeiro sobrinho e afilhado que tinha acabado de nascer.</div>
<div style="text-align: justify;">
Se calhar o melhor é mesmo levantar-me que as memórias não acabarão tão cedo. Vou aproveitar para te ver já ali à frente, do outro lado da igreja, onde agora repousas de forma serena e tranquila. Assim poderei lembrar contigo, frente a frente, as nossas audições. Primeiro foram na Biblioteca e depois no Auditório da Academia de Música. Sabias que ainda guardo todos os programas e o bloco de apontamentos onde escrevias todas as preciosas indicações para que eu melhorasse o meu estudo? Guardo também aqueles cartõezinhos verdes onde apontavas as nossas mensalidades acompanhadas da data de pagamento.</div>
<div style="text-align: justify;">
Uma das coisas que mais te devo é o fato de me teres aconselhado a comprar uma quantidade enorme de livros. Gostava de ainda ter dedos para o Bach, o Cramer ou o Moscheles. Cheguei até a comprar, a certa altura, alguns cds para ouvir todas as peças e estudos que tinha outrora tocado. Apenas pelo prazer de voltar a praticar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Finalmente olho-te “nos olhos”. Que posso mais dizer-te que não seja um eterno e profundo obrigado?</div>
<div style="text-align: justify;">
Estou a acabar a licenciatura em Composição, sabias? E com algumas notas que te encheriam de orgulho. Afinal, sempre tiveste razão. Sempre. Havia música na minha vida bem para além da matemática. Numa dessas disciplinas na Universidade de Aveiro, o professor quis saber dos alunos, um por um, o seu percurso musical. Foi uma honra, para mim, dizer que tinha sido teu aluno de piano. De tal forma me deixa orgulhoso que até o professor duvidou. Parece que ainda consigo ouvi-lo: “Mas o senhor não pode ter sido aluno da Professora Marília Rocha. Isso teria sido há muito tempo”. Soltei um sorriso. “E foi”, retorqui. “De 1989 a 1994”.</div>
<div style="text-align: justify;">
Aqui, em frente a ti, volto a lembrar aquele dia 23 de dezembro em que a Sílvia me surpreendeu ao telefone dando conta que tinhas partido. Agarrei-me ao livro das sonatas de Carlos Seixas a chorar de forma descontrolada sob o olhar compreensivo dos meus pais. Nesse dia agradeci-lhes com aqueles abraços especiais que guardamos cá dentro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Tens uma idade bonita, sabias? 100 anos não é para qualquer um.</div>
<div style="text-align: justify;">
E agora desculpa, mas tenho de ir.</div>
<div style="text-align: justify;">
Deixo para o fim uma última memória marcante. Tenho ainda cá em casa o Dodecálogo de Busoni que me ofereceste. Todos os dias me martela aquela frase: “Não passes um dia sem estudar”. Tenho 41 anos e ainda estou a estudar música. Devo estar de consciência tranquila, certo?</div>
<div style="text-align: justify;">
Obrigado por tudo. Do fundo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Miguel (ou Rui, como sempre me chamaste)</div>
Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8897745723990962891.post-9209966737951111052018-01-20T13:35:00.000+00:002018-01-20T13:51:08.422+00:00A melhor turma de sempre<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWawEonT_Q4tEW1Ryn7lYenM7Pm_NkcNOPM8LSTvTPkf3F6Gq9vIgDO80UeXugf5S-RLYeakCvgxpSivIlSiUQGOy3GOiAPUb5NdQEwGJMbpfdWXNx50F0Nc_nYqP54rMm6G2AyRXwlvaS/s1600/292+-+A+melhor+turma+de+sempre.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="454" data-original-width="1004" height="144" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWawEonT_Q4tEW1Ryn7lYenM7Pm_NkcNOPM8LSTvTPkf3F6Gq9vIgDO80UeXugf5S-RLYeakCvgxpSivIlSiUQGOy3GOiAPUb5NdQEwGJMbpfdWXNx50F0Nc_nYqP54rMm6G2AyRXwlvaS/s320/292+-+A+melhor+turma+de+sempre.png" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Há algum tempo atrás li um artigo fantástico na revista <i><b>“Pushstart”</b></i> que me deixou bastante intrigado. Chamava-se, creio eu, <i><b>“O melhor videojogo de sempre”</b></i>.</div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje, num dia em que as memórias parecem vir ter comigo como quem combina um encontro ao final da manhã, resolvi escrever algumas linhas sobre <i><b>"a melhor turma de sempre"</b></i>. E, para isso, tenho de começar pelo início.</div>
<div style="text-align: justify;">
Era ainda muito pequenino. Tinha apenas 5 anos de idade quando fui inserido numa turma. Eram os tempos da escola primária. Cedo comecei a frequentar uma das salas da parte da manhã e outra da parte da tarde. Ter o Eduardo e o Paulo Daniel como colegas de carteira não é um privilégio para qualquer um. Jogava-se ao “bate-fica rir” ou à macaca, brincava-se com os Estrunfes, via-se o <i>D’Artacão</i> ou os<i> Jovens Heróis de Shaolin</i> (que saudades...), faziam-se corridas de Fórmula 1 dando castanholas em caricas que seguiam de forma veloz pelo circuito previamente traçado na terra com uma pequena tábua. Em cada brincadeira éramos, sem qualquer sombra de dúvida, os heróis de banda desenhada ou até de carne e osso que víamos em casa pela televisão. E depois tínhamos aqueles heróis maiores que se chamam <i>“os nossos professores da Escola Primária”</i> que deixam em cada um de nós uma saudade e gratidão eternas. Até aí a vida também me sorriu ou não tivesse eu sido pupilo tanto do meu pai como da minha mãe. Na sala de cima, na que ficava do lado de lá, o professor era o melhor do mundo. Mesmo quando puxava da cana para corrigir as nossas imperfeições. As minhas memórias davam para um bom livro, acreditem, mas hoje não há tempo para isso. Nessa sala de cima tinha o Pedro <i>“Neca”</i> que me deu uns carrinhos de plástico para o deixar copiar nos ditados. A gente fazia cada negócio... E nos intervalos, quando não se andava para trás e para a frente com os carrinhos naquele muro que separava o recinto da escola do da cantina, jogava-se futebol como autênticos profissionais. Ainda que no lugar das balizas estivessem pedras e alguns remates não dessem golo porque o guarda-redes <i>“não lhe chegava”</i>.</div>
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Sem dúvida, nesses gloriosos anos 80, com esses maravilhosos colegas que me acompanharam até ao ano letivo de 85/86, formámos a melhor turma de sempre. Disso eu não tenho qualquer dúvida.</div>
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Até que se deu a transição para o ciclo e o ingresso, primeiro no 1.º J e depois no 2.º I. Aos amigos que me acompanhavam da primária juntaram-se outros igualmente espetaculares vindos da freguesia de Várzea. Jogar bola na mata era delicioso. Tínhamos o Carlos <i>“Ovelha”</i> que jogava futebol de forma habilidosa, o José Carlos que era um rei no basebol e o Bruno que agora preside à AECA e que na altura era um rapazinho como todos nós, já com um humor muito refinado e com um talento para o futebol de fazer inveja a qualquer um. Costumava trazer uma bola de couro (na altura estava apenas ao alcance dos felizardos) azul e branca que usávamos com frequência para jogarmos às <b style="font-style: italic;">“31 janeiras”</b>. Delicioso. Tínhamos o saudoso professor Alípio a Matemática que cantava baixinho pelos corredores e a nossa Diretora de Turma, Filomena Maximiano, professora de Estudos Sociais e de História. Lembro-me de termos feito uma peça de teatro na disciplina de Português cujo guião ainda tenho em casa. Lembro ainda os amigos Rui, Tono e José Carlos de Rossas, este último com especial carinho pois pedia frequentemente 12$50 para comprar um pão com marmelada com um timbre de voz que lhe é muito característico. No dia seguinte, escrupulosamente, saldava sempre a dívida. Pequenino em estatura, mas enorme em personalidade. E eu fui-me deliciando e aprendendo para a vida com tudo isso. Foi ainda o tempo de ter meninas novas na turma como a Joana ou a Carla que recordo com grande carinho. Sobretudo esta última pois foi o meu primeiro amor de meninice. Lembro-me de dizermos que éramos namorados ainda que isso implicasse apenas dar a mão de vez em quando e sempre com o maior respeito. E trocávamos bilhetinhos naquelas folhinhas que estavam na moda por essa altura e que as meninas gostavam de colecionar. E, se me permitem, até fazíamos um lindo par. Por tudo isto, reconheço que estava enganado. O leque de amigos era muito mais alargado, tínhamos mesa de ping-pong, as notas eram boas e até tinha direito a um primeiro amor. O que poderia ser melhor do que isto? Afinal esta é que era realmente a melhor turma de sempre.</div>
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Até que veio o ano letivo de 1988/89 e mudei-me para o liceu. Ao 7.º I, 8.º F e 9.º E, juntaram-se agora amigos da freguesia de Chave. Tínhamos agora o Armando, o Luís e o Abílio. E o mítico Freitas com quem partilhei tantas vezes a carteira e que me trouxe das melhores aventuras que vivi na minha vida. E havia também a Helena com quem terei namorado (leia-se, partilhar o lugar no autocarro e dar a mão aqui e ali) durante algumas semanas. Nesse 7.º ano, na lição 100 de português a Helena trouxe o Cluedo e divertimo-nos imenso a jogar no bufete. Sim, aquele bufete onde ainda se podia jogar à sueca, as cadeiras eram velhas (tinha uma que só tinha 3 pernas, lembro-me bem) mas em grande quantidade e era uma delícia todo aquele convívio numa sala que fazia jus ao nome. No bufete vendiam-se bollycaos ou donetes cuja coleção de autocolantes andou colada na minha capa durante largos anos. No 9.º ano tínhamos também o Paulo <i>“Rato”</i> que era um ótimo reforço para os jogos de <i>“turma contra turma”</i> e tivemos também uma Diretora de Turma que nos levou a ver o <i>“Clube dos Poetas Mortos”</i> que ajudou a mudar a minha vida e à qual estarei grato para sempre. Mesmo sem me recordar do nome dela. E depois havia aquela invasão de zx spectruns e televisões com as mais recentes novidades do clube de vídeo quando as eleições para a Associação de Estudantes se aproximavam. Como era possível ter tornado a enganar-me? Mas, agora sim. Todas as dúvidas estavam dissipadas. Esta era, definitivamente, a melhor turma de sempre.</div>
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Até que chegou o ano letivo de 1991/92 e transitei para o 10.º B e, no ano seguinte, para o 11.º B. Agora éramos grandes. Ou por outra, eu continuava pequenino, mas tinha agora colegas que já eram grandes e populares no liceu. O Neno é das pessoas mais espetaculares que conheci até hoje e ajudou-nos com o Cereja, o Paulo Bastos e o Rui Pedro, por exemplo, a vencer o torneio de futebol no ano de 1992/93. Tínhamos Produção Vegetal e Solos e Climas e tínhamos aulas ao ar livre com galochas calçadas e enxadas na mão. Aqui não houve namorada, mas havia a menina que se amava em segredo e que fazia o coração bater mais forte quando nos cruzávamos <i>“acidentalmente”</i> com ela. Foi por essa altura que me dei conta da felicidade que pode representar transportarmos alguns segredos apenas connosco. Foi também nesse período que tive a felicidade de participar nos ensaios do orfeão da escola que o professor Albino ensaiava com o maior brio no intervalo maior da manhã. Ainda andam no ouvido o <i>“Va Pensiero”</i> e a <i>“Pompa e Circunstância”</i>. Tudo isto deixou tantas marcas que estamos agora, finalmente, passados todos estes anos, a tratar do jantar que nos vai juntar a todos novamente. Já devem ter reparado... Mais uma vez, estava enganado. Agora sim, esta era, de facto, a melhor turma de sempre.</div>
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E entrámos no ano letivo de 1993/94. Agora as aulas eram só de manhã e as sextas eram livres. Com menos tempo na escola seria muito mais difícil criar laços. Isto, pensava eu... Nada podia ser mais errado. A forte amizade com o Nepinhas que tinha começado anos antes, solidificou-se de tal forma que se arraigou em mim para a vida toda. A Susana e a Carla entraram na minha vida. A Carla tornou-se de tal forma importante que nunca tinha encontrado uma amiga assim até então. As pessoas boas fazem-nos melhores. E esta turma do 12.ª A tinha tanta gente boa. Tanta. Sobretudo aqueles que estiveram lá desde o início do percurso como a Carminda ou a Patrícia e que me fazem a cada dia querer voltar a estar lá. Tudo parecia fácil. De manhã era-se a pessoa mais feliz do mundo com esses amigos. De tarde era-se também a pessoa mais feliz do mundo a ver o <i><b>"Isto é Magia"</b></i>, o <i><b>"Quantum Leap - O Viajante do Tempo"</b></i>, a <i><b>"Ana Raio e o Zé Trovão"</b></i> ou o <i><b>"Com a Verdade M’Enganas" </b></i>que agora, felizmente, está a repassar na RTP Memória. Talvez por isso eu me tivesse voltado a enganar. Esta é que era a melhor turma de sempre. Definitivamente. Ou não...</div>
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A verdade é que nos dias de hoje viajo frequentemente por estas boas memórias das melhores turmas de sempre que me acompanharam ao longo da minha vida e às quais tive o privilégio de pertencer. Trago comigo a mágoa de não ter as caras do <i><b>“livro de ponto”</b></i> de todas elas. É por isso que fechar os olhos pode ser um bom exercício. As coisas melhores da minha vida, aquelas que melhor lhe consigo tomar o sabor, as que me revolvem cá dentro, têm entrado em mim quando me encontram de olhos fechados. Dizem que assim se vê muito mais além.</div>
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Acredito que apenas quem vê mais além consegue chegar mais longe. É esta a minha esperança.</div>
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Obrigado a todos esses meus colegas por me fazerem fechar os olhos com frequência.</div>
Miguel Brandãohttp://www.blogger.com/profile/05077425026398653665noreply@blogger.com3