O meu concerto do Miguel Araújo

* Foto: Município de Arouca

Estava anunciado há muito. E desta vez trazia como brinde a participação dos bons amigos do Orfeão de Arouca. Marquei o meu lugar, dentro da minha cabeça, com muitos dias de antecedência.
Trabalhei até às 20h. Foi um corre-corre para conseguir passar por casa para jantar assim como quem bebe uma mini de penalty (os tais 5 minutos de whisky) e, quando dei por mim, estava já no carro a caminho do centro da vila com a Odete e os dois mais velhos: a Rita e o Tiago. Sim, porque o André ainda só tem dois aninhos e ia ser muito difícil segurá-lo por tanto tempo. Ficou com a avó.
Depois de uma voltinha nos carrosséis (depois voltamos cá no final do concerto, ok?) a praça era o destino. Chegámos faltava ainda mais de uma hora para o concerto. Os degraus estavam quase vazios. Pudemos escolher o lugar com todo o cuidado. Depois foi só esperar e ver a praça a encher e reencontrar alguns bons amigos. Como sou um sortudo fiquei acompanhado pela Sandra e pelo Vítor que me tinham oferecido um duplo CD do Miguel Araújo quando me tornei um quarentão.
Começou a primeira batida. “Olha, vão começar pelo Fizz Limão”. Que melhor porta existiria para abrir numa viagem ao passado?!
A forma como o Miguel escreve volta a colocar-nos em lugares e situações da nossa vida mesmo sem nunca nos ter conhecido. E eu sou dos que mais gosta de voltar a estar lá. Mesmo que “1987” seja alusiva a uma Taça dos Campeões Europeus ganha pelo FC Porto. Os tempos do saudoso zx spectrum serão sempre de ouro.
Acho que o segredo do Miguel está em colocar-nos do lado de dentro das canções. É impossível não reconhecermos os nossos pais a cada vez que se nos é dado a ouvir a “Balada Astral”. Ou sentir o cheiro das festas de infância ao som da “Romaria das Festas de Santa Eufémia”. E tantas outras que desfilaram ontem pela praça Brandão de Vasconcelos em Arouca. Cada canção é como que uma viagem ao melhor de nós. Porque no meio de toda a nossa insignificância, todos temos as nossas melhores memórias e os nossos melhores amigos. Mesmo que se tenham perdido no tempo. E apetece sempre voltar. Se um dia se comprovar que teremos todos realmente uma forma de vida melhor do que esta, há-de ser feita com pedacinhos assim. Porque como diz o Miguel, “o Fizz Limão há-de voltar”.
Houve ainda tempo para me voltar a apaixonar pela Odete já no encore final ao som dos “Aviões” num retrato perfeito do que pode ser a afeição que temos por quem amamos.
O concerto acabou ao som dos “Maridos das Outras” que deixa as mulheres histéricas. Eu vejo a coisa pelo outro lado. Tirando a Odete, para as outras mulheres eu também sou um “marido das outras”. E ter tanta mulher assim a desejar-me, ainda que indiretamente, não pode ser assim tão mau... Eheheh!
Regressamos aos carrosséis. Pelo caminho vou ainda a remoer o concerto. É por isso que ainda não acabou. Só acaba quando desligo completamente.
Como todos os concertos há sempre aquelas canções que gostaríamos de ter ouvido e ficaram de fora. As ausências do “Capitão Fantástico”, da “Canção do Ciclo Preparatório” que gosto tanto e, sobretudo, do “Axl Rose” são imperdoáveis.
Sabes Miguel, estive lá no Coliseu quando cantaste com o Zambujo e esgotaste aquilo aí umas 354 vezes. Com a minha Odete, marquei presença no “primeiro”. No original. Quando ainda não estava previsto mais nenhum. Onde até cantaste o “Bohemian Rhapsody” dos Queen, o meu grupo de eleição. Continua a dar-nos as tuas canções. As letras parecem decalcadas das linhas da minha vida. Eu vou seguindo atentamente. Sempre à espera de novas portas para voltar à minha infância. Para voltar àqueles amigos do tempo em que, como dizias ontem, os jogadores tinham as fraldas de fora, as meias para baixo e depois de um sprint já não recuperavam. Dizias tu que esse é que era o verdadeiro futebol. Digo eu que esses é que eram os verdadeiros amigos. Como aquele que encontrei nos carrosséis depois do concerto. 
Obrigado Miguel. Fazes com que eu seja um eterno apaixonado pela vida que podia ter tido e, sobretudo, pela vida que escolhi.
Obrigado Orfeão de Arouca. Gente boa e amiga que serão sempre um orgulho para as suas gentes.
Obrigado João Martins pelos arranjos. Um dia vou compor e orquestrar também assim.
Obrigado Miguel.
E, claro, obrigado Odete, Rita e Tiago. Pela companhia. Por ontem e pela vida toda.

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