A Banda Juvenil da Banda Musical de Arouca de 1984


Fazer parte da Banda Musical de Arouca foi uma das coisas mais marcantes que aconteceram na minha vida. Tão marcante que ficará para sempre. Ainda que tenha deixado em 2016 de ser músico e que, por esse motivo, não faça já parte do respetivo grupo fechado existente no facebook. Mesmo fazendo parte dos órgãos sociais como elemento do Conselho Fiscal.
Não sei ao certo o dia nem os pormenores que estiveram na base da criação da Banda Juvenil da Banda Musical de Arouca. Sei que o registo fotográfico mais antigo que conheço e que muito justamente está perpetuado numa das paredes da casa de ensaio, data de 1984. Terá sido a primeira formação. Foram aqueles rostos que me acolheram, a mim e a tantos outros, no final da década de 80 quando dava os meus primeiros passos como músico filarmónico.
Na altura de recordar, aquela em que de forma consciente mais nos sentimos gratos, há um nome que é transversal a tudo e a todos: Valdemar Noites. Aquele que terá sido o principal responsável pela riqueza desse alfobre em boa hora plantado.
Mas, talvez seja melhor começar esta história pelo início. Corriam os primeiros dias do mês de agosto ou talvez ainda os últimos do mês de julho. O telemóvel toca e o número não me é familiar. Atendo e do outro lado está uma voz alegre e amiga à minha espera. “A malta vai juntar-se e desta vez tens que vir”. Apesar da minha reserva inicial (uma vez que não fiz parte da primeira formação de 1984) acabei por ceder à insistência (o que não foi nada difícil, bem pelo contrário) e aceitei o convite. O dia combinado foi o de 14 de agosto, uma terça-feira. Aquele que, a fazer fé nas palavras dos mentores da ideia (uma vénia a todos eles) seria o mais apropriado para juntar o maior número de amigos dessa data. Foi assim que se desenhou a minha presença nesse encontro de gente que é mais gente porque é assim. E ainda bem.
Cheguei cedo. Gosto de cumprir horários. À minha espera estavam o Morre em Pé, a Linita, o Galório e o Mascote. Como praxe tive direito a uma música (brindaram-me com o Bohemian Rhapsody dos Queen. Sou um sortudo), uma cerveja e uma selfie. Um procedimento que se viria a repetir a cada elemento que chegava. Cada um com a sua música personalizada. Fui-me emocionando aos poucos para que não transparecesse cá para fora. Assim como uma criança que joga às escondidas da forma mais simples e inocente que é capaz.
Entre muitos reencontros, muitos risos, muito vinho e cerveja, houve amizade. Não fosse o Mauro marcar presença e seria eu o mais novo da noite. Isso pode ajudar a explicar a enorme gratidão que sinto pois foram esses (e outros que não estiveram nessa noite) que me transmitiram há muitos anos valores que transporto comigo com o orgulho próprio de quem tem consciência do muito que a vida trouxe. Ter a oportunidade de conversar com o Pinheiral, o Tozé ou o Nino, reconforta a alma de qualquer mortal.
Com o avançar da noite o vinho era cada vez menos e os risos eram cada vez em maior quantidade. Falou-se no “enterrado”, partilharam-se gravações da Banda Juvenil em 1989, creio, (dessa eu já fazia parte) e, do nada, apareceram os mais variados instrumentos para cada um exibir os seus dotes. Ouviu-se o clarinete, o piano, a guitarra e até o trompete onde o Lameiras procurou toda a noite pelas notas da melodia da novela “O Astro” onde o Tony Ramos interpretava um trompetista. Tudo acompanhado da dose certa de boa disposição.
Depois, diziam, era da praxe fazer alguns discursos com palavras de circunstância. Houve quem os fizesse em francês ou russo o que, para a ocasião, até talvez fosse o mais apropriado. Na qualidade de elemento que marcava presença pela primeira vez tive também de cumprir o meu dever de dizer algumas palavras. Tenho pena de não ter conseguido transmitir tudo o que me ia na alma naquele momento mas penso que o principal da mensagem chegou ao destino. E foi durante estes discursos que vivi o momento mais emocionante da noite ao ouvir as palavras do Tozé. Lembrar as idas à ópera do amigo Pinga toca bem fundo cá dentro. Mas houve uma frase que me ficou a martelar durante dias: aquela gratidão por “naquele tempo haver gente que disponibilizava o seu tempo para, gratuitamente, educar os filhos dos outros”. Essas palavras ficaram, amigo Tozé. Jamais as esquecerei. Estarei eternamente grato a toda essa gente.
Acho que essa noite me tocou especialmente por me ter trazido de forma mais clara e consciente o motivo principal pelo qual estou grato. E não tem a ver com cultura ou sabedoria. Tem a ver com amizade. A diferença entre as duas está no facto de me terem encorajado desde tenra idade, não a ser melhor do que ninguém mas a ser a cada dia, melhor do que mim mesmo.
Obrigado Vítor pelo convite e pela amizade.
Obrigado Valdemar. Como diria um desses “ex-músicos” nesse mesmo jantar ao querer de ti dizer muito: “O Valdemar é um autêntico cabeça-de-série”.
Creio que a expressão procurada seria “fora-de-série” mas, como na medicina, o nome do remédio pouco importa. O que conta é o efeito que provoca. E, neste caso, a mensagem passou perfeitamente. Porque é facilmente reconhecido por todos. 
Obrigado Banda Juvenil de 1984.
Obrigado Banda Musical de Arouca.
Continuem assim grandes. Só assim poderei acreditar que um dia serei também maior.

Arouca, 11 de setembro de 2018
Cebolinha

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