O Miguel "Confiança"


Creio não errar ao dizer que conheci o Miguel “Confiança” corria o ano de 1990. A minha memória costuma ser mais ou menos nítida pelo que é minha convicção que ainda não foi desta que me atraiçoou.
A minha infância e adolescência foram de ouro. Os amigos eram em grande número e dos melhores que a face da terra havia conhecido. Deus foi bastante generoso comigo, talvez por isso mesmo não me canse de lhe agradecer. Apesar disso, em 1990, resolveu colocar ainda mais um rapazito no meu caminho. Os pais vinham do Porto para morar, imaginem, na casa mesmo ao lado da minha. Da janela de minha casa via-se perfeitamente o recinto da escola primária. Era lá o ponto de encontro de toda a pequenada para todo o tipo de brincadeiras. Lembro-me perfeitamente de olhar pela janela e ver o Miguel a fazer o reconhecimento do recinto montado na sua BMX branca e preta. Felizmente, nessa altura, fazer amigos era muito mais fácil. Foi só sair porta fora e em menos de um minuto já sabíamos que ambos tínhamos o mesmo nome, ele era do FC Porto e eu do SL Benfica e que que tínhamos em comum o gosto pelos videojogos; ele com um ZX Spectrum +2 e eu com um ZX Spectrum +3. Feitas as apresentações ficava logo tudo decidido: éramos amigos.
Há montes de histórias que poderia aqui contar tendo o amigo Miguel “Confiança” (era assim que o chamávamos) como protagonista. Em boa verdade porque foram muitas as partidas que lhe pregámos. Eram uma espécie de “teste” para poder pertencer à ”seita”.
Lembro-me de ter ficado deslumbrado quando vi a enorme coleção de videojogos para o Spectrum que possuía. Quem me dera por a mão àqueles jogos todos, mesmo nos dias de hoje.
Sabes Miguel, recordo muitas vezes algumas das nossas melhores histórias. Lembras-te quando num final de tarde, tinhas chegado a Rossas ainda há poucos dias, tentaste sacar um cavalo com a tua BMX em frente ao pessoal? Disseste “Cá vou eu”, levantaste a roda da frente e... Bem, aquilo correu um bocadinho mal. Estatelaste-te no chão, o guiador furou a tua t-shirt e ainda te aleijaste um bocadinho. Rimo-nos até quase rebentarem os pulmões. Desculpa. É uma característica própria do ser humano rir dos males alheios. Mas não deste “parte fraca”. Levantaste-te e disseste: “Podia ter sido mau. É preciso é saber cair”! Rimo-nos ainda mais pois estava lá o Zezito das Senras (não sei se te lembras dele) que logo responde: “Não que isso de cair tem cá uma sabedoria”...
Desculpa algumas das partidas que te fizemos (embora não tenha sido o mentor de nenhuma delas, confesso que participei numas quantas).
Lembro-me de uma em particular quando estávamos a jogar futebol no recinto da escola com a tua fantástica bola e ela foi ao campo de milho em frente à escola. O que é certo é que a bola nunca mais aparecia e fomos todos lá para o meio do milho procurar. Até que a bola apareceu e alguém deu o alerta... menos a ti. Então viemos todos para o recinto da escola e tu lá no meio do milho a procurar. Enfim, brincadeiras de miúdos mas que hoje são recordações que guardo como se acabasse de meter uma barra de ouro dentro de um cofre.
Há ainda a memória de passar alguns dias das férias na Serra da Freita em que te convidámos e acabaste por não vir pois tinhas ficado de castigo por não teres anotado os números da “Casa Cheia”.
Há tantas histórias Miguel, tantas...
Como aquela de ir roubar cerejas e alguém ter ficado amedrontado com o aparecimento de pirilampos. Ou a outra de estarmos a jogar ao sobe e desce no recinto da escola e pedires para trocar cinco cartas enquanto dizias alto e bom som: “Quem arrisca não petisca”! Delicioso! E tantas outras! Sei lá...
Tenho saudades tuas, sabes? Desde esses anos vi-te apenas por mais uma vez. Foi já há algum tempo, a atravessar a praça, mesmo no coração da nossa vila. Não tive coragem de ir ter contigo e dar-te um abraço. Desculpa. Fiquei ao longe a olhar-te até desapareceres para dentro do centro comercial. Nesse bocadinho vi o rapazinho de há 25 anos atrás e outras tantas boas memórias. Talvez por isso me tenha detido sem ir ao teu encontro. Decidi conservar as memórias da forma imaculada que as guardo. Julgo assim ser mais feliz. Mesmo querendo muito ter-te agradecido.
Olho para trás e tenho pena que tenhamos crescido.
Obrigado por teres sido um bom amigo.
Queria desejar-te um ótimo aniversário.
Espero tê-lo conseguido.

Miguel

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