Como eu gostaria de envelhecer

Este fim de semana foi um bocadinho estranho. Voltou aquela sensação de fazer algo que se gosta muito e percebermos  que isso nos faz mal. Porque de forma paradoxal nos faz mais tristes. E ninguém pode gostar de estar triste.
Fui ao jantar da Banda Musical de Arouca e lembrei-me a toda a hora dos meus tempos de Escola Primária. Nos anos 80, enquanto criança, brincava com uma imensidão de amigos logo pela manhã. Depois, ao toque da campainha, lá ia cada um para a sua sala conforme a classe que frequentava.
No sábado à noite essa imagem surgiu-me frequentemente na cabeça. Não que tenha brincado com alguém (longe disso) mas porque de forma similar também as pessoas foram conversando umas com as outras até que, na hora do repasto, cada qual foi para a respetiva mesa conforme o grupo de amigos mais chegado. É estranho ter feito (fazer) parte de uma família tão grande e bonita com é a da Banda Musical de Arouca durante quase trinta anos e, na hora da verdade, não ter uma mesa do meu "grupo de amigos". Dá para me pôr a pensar onde terei falhado.
Valeram aqueles cinco minutos com a Margarida que foram realmente genuínos e aqueles outros cinco minutos do lado de fora da tenda com o amigo "Costa" que me perguntou pelos meus pais e me abraçou com o olhar de forma sincera.
Encostado a um esteio, do lado de fora, vi chegar a Eva que me cumprimentou com dois beijinhos e me perguntou: "Aqui fora? Sozinho?" ao que eu respondi: "Prefiro estar sozinho cá fora do que estar sozinho lá dentro".
Eu bem sei. A minha forma de estar na vida é muito estranha. Mesmo que digam a toda a hora que sou um exemplo e tal... Às vezes quase que preferia não o ser mas não acabar de forma tão solitária. Mas isso logo passa. E a razão encontrei-a hoje de manhã em casa dos meus pais. Deus revela-se de formas estranhas. Tudo o que descrevi atrás se relativizou quando me dei conta que gostaria de envelhecer como o meu pai. Ele sim, verdadeiramente um exemplo a seguir e que, curiosamente, faz o seu caminho mais ou menos de forma solitária. Mas sempre com a sua companheira de toda a vida e com os filhos e os netos que muito o querem e amam. E era assim que eu um dia gostaria de envelhecer: com a minha companheira de sempre, com os meus queridos filhos e netos perto de mim, e com muitos e longos textos como aqueles que li hoje de manhã saídos da "pena" do meu pai e que retratam tempos em que tinha verdadeiros amigos.
Um dia pai, hei-de ser como tu.
Nunca me deixes que eu nunca te deixarei. E assim seremos sempre pelo menos dois.

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