Os Animais das Caixas de Fósforos


Antes da febre dos animais do Pingo Doce que me trouxe duas cadernetas lá para casa com a Rita e o Tiago em plena aceleração para ver quem primeiro acaba a coleção, muito antes disso, dizia eu, outros animais eram procurados. Tudo quando eu tinha mais ou menos a idade dos meus filhos.
Primeiro lembro-me de uma caderneta intitulada “Fauna Selvagem” que os meus irmãos tinham lá para casa mas as memórias que tenho é de uma caderneta já com os cromos colados e fazendo parte do passado. Gostava de ficar a admirar aqueles animais estranhos e coloridos mas era uma coleção já “fora de circulação” pelo que há outras que me são mais queridas.
A primeira tem o nome de Zoo Disney e lembro-me perfeitamente do dia em que o meu irmão chegou com a caderneta novinha em folha lá a casa. Corria o ano de 1981, tinha eu 5 aninhos apenas. Como eu a gostava de folhear. Fi-lo vezes sem conta. Durante muito tempo invejei (no bom sentido) o meu irmão. A minha casa de infância era minúscula mas ele tinha direito a uma gaveta enorme, cheia de cadernetas, inteirinha só para ele. Lembro-me que, quando o meu irmão não estava, tinha de pedir autorização à minha mãe para ver a gaveta das cadernetas. Como eu era muito pequenino ainda estava em idade de estragar muitas coisas. E há coisas que não se podem estragar. Felizmente essa coleção resistiu ao passar dos anos como se pode ver na foto deixada acima.
Mas a minha coleção de animais preferida é aquela das caixas de fósforos. Completei-a por três vezes. A primeira acabou por se perder com o tempo. A segunda, onde as caixas de fósforos eram contornadas por uma linha cor-de-rosa, dei-a na altura, creio eu, ao meu primo José Ilídio, que dividia comigo muitas das brincadeiras, uma das quais tinha as referidas caixas de fósforos no papel principal. A terceira vez que fiz a coleção, foi a que ficou para a história. É aquela que deixo na foto e que guardo de forma carinhosa no sótão de minha casa. Com essas mesmas caixas e com o meu primo José Ilídio, fiz montes de corridas nos muros da antiga escola primária. A cada letra correspondia um animal. Pois nós tivemos a feliz ideia de a cada letra fazer corresponder um país e era assim que fazíamos autênticas corridas, com a ajuda de um dado. Era assim que os muros da escola se transformavam em autênticos Jogos Olímpicos. Não demorou muito para que o Pelicano começasse a ser o animal preferido; afinal de contas, o “P” era a letra do nosso Portugal. E era assim que, mesmo sem dar muito nas vistas, o número seis do dado aparecia com mais frequência sempre que a vez calhava ao Pelicano fazendo-o correr mais veloz que os seus oponentes.
Sabe bem recordar. Na realidade, não era bem assim. Mas naqueles muros, na ponta dos nossos dedos, Portugal era quase sempre sinónimo de ouro olímpico. Porque às crianças tudo é possível. E com uns pais que nos dão “asas”, tudo é permitido. Até ser feliz com as coisas mais simples. É muito reconfortante ter vivido num tempo em que as melhores brincadeiras da infância estavam dentro da nossa imaginação.
Um grande abraço, Lídio!

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