Relembrando o "Cartolinhas"...



Olá Pai. Gosto muito de ti.
Ainda estou um bocadinho emocionado, sabes? Devia fazer isto mais vezes!
Hoje eu não não era eu. Eu, eras tu! E tu não eras tu. Tu eras o avô! Parece confuso, não parece?!
A eira já não existe pai. Mas estávamos quase no mesmo sítio. Quase, quase...
O bandolim deu lugar ao banjo. Mas aos poucos, de forma simples, fomos fazendo memória!
Voltou-se a ouvir a "Maria e o Manel", a "Canção de Embalar" ou o "Cartolinhas"!
O teu ouvido já só pressente metade das notas, o ritmo não era bem o que estava escrito mas, que importa isso?
Tu, não sei... Mas eu, hoje, voltei a ter seis anos! Durante aquela hora e meia tive a infância toda dentro de mim! Tive a felicidade da Isabelita e a Aldina andarem por lá a ajudarem a mãe a manter a casa um bocadinho mais asseada para a Visita Pascal. E depois de começarmos a tocar, enquanto o André ouvia atento no colo da Odete e a Rita e o Tiago brincavam no recinto da Escola Primária, chegaram o Dinis e a Bia, logo seguidos pelo Zé Mário, meu irmão e ídolo de infância que veio dar ainda mais brilho a este quadro.
Tocaste com um e com outro e, no fim, tiveste ainda tempo para ouvir algumas modinhas vindas da geração que deixaste. Cabe-nos a responsabilidade de o saber transmitir aos vindouros.
Gosto mesmo muito de ti, pai.
O André acabou por não dar tréguas e tivemos que o vir adormecer. Quando seguia no carro, mesmo antes de desaparecer, reparei que todos tinham seguido já para dentro de casa e estavas tu apenas, à espera que eu desaparecesse da vista para fechares a porta. De forma calorosa, dei-te um sorriso e um adeus. Respondeste de igual forma.
Hoje, em pleno período pascal, a vida eterna parou em nossa casa.
Obrigado. Prometo voltar mais vezes e com mais tempo. Para voltarmos a ser mais felizes.
Boa Páscoa.

Miguel

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