Dia Mundial do Teatro

Porque ontem foi o Dia Mundial do Teatro.
Deixo aqui a foto de um grande ator. Talvez o melhor e mais completo que Rossas viu nascer. O modelo que tento seguir e que será, porventura, impossível de igualar. Mesmo passando 35 anos da sua partida para o espetáculo eterno, ainda é frequente falar-se no seu nome sempre que o assunto é o Teatro. Uma referência, juntamente com o Silva dos Carreiros ou a Celestinha da Portela.
Os tempos eram outros, os lagares serviam de palco e as “lojas” serviam de salão. Por essa altura o Sr. Brandão da Seca dava o corpo a comédias, farsas, dramas, operetas, monólogos, e tudo o mais que seja possível imaginar. Foi ator, ensaiador, encenador, fez arranjos musicais e, sobretudo, antes de partir, teve ainda tempo para ser um dos fundadores do Grupo Cultural e Recreativo de Rossas. Já não fui a tempo de o ver em palco pois quando nasci tinha ele já 82 anos. Mas fui abençoado pelo destino. O Sr. Brandão da Seca, para além de meu avô, foi o meu padrinho de Batismo. O melhor que eu poderia ter. Trago, algures no meu cérebro, naquela gaveta onde se guardam as memórias mais antigas, a lembrança de estar ainda no edifício da Escola Velha onde hoje é o Centro Cultural e vê-lo a ensaiar um grupo de crianças. Um flash muito curto que me traz apenas o rosto de um ator novato, meu primo, que gritava repetidamente em palco: “tenho fome”. Será, porventura, a memória mais antiga que trago comigo.
Nunca te vi representar avô. Nunca. Mas tenho um punhado bem gordo de deliciosas memórias passadas contigo e que, pelo teu jeito de ser, me provocavam um riso descontrolado. É fácil imaginar o quanto foste grande no palco. Sabes, em muitos dos espetáculos que participo dão-me os parabéns dizendo-me que “é como se o Sr. Brandão da Seca estivesse em palco”. Emociono-me sempre com o elogio, embora tenhamos que ser francos: ninguém se aproxima do que conseguias fazer e, mesmo que pudesse haver alguém que ousasse tal, esse alguém não seria eu. O seu, a seu dono; e ambos sabemos que o Zé Mário é muito mais próximo daquilo que foste do que eu alguma vez serei. Em cima do palco consegue ser mais perfeito que eu em tudo. E isso enche-me ainda mais de orgulho.
Sábado vamos estrear uma nova peça em 2 atos. Creio que irá ultrapassar as 2h30m de duração. Vou voltar a lembrar-me de ti. Estamos todos ansiosos pela estreia. O Grupo, aquele que ajudaste a fundar, está cheio de vida. Faz jus a todos quantos estiveram na sua génese pelo que todos os que nos precederam terão motivos para estar orgulhosos. Valeu a pena avô. Valeu bem a pena. Muito.
Tenho saudades de ti. Daquelas curvas tombadas que me mandavas fazer e que eu tão bem delineava junto à eira. A tua eira, lembras-te? Fecho os olhos e estás ainda a tocar as mais variadas modas com o meu querido pai, um na viola e outro no banjo. Havia pessoas que paravam na beira da estrada para ouvirem um bocadinho.
Sei de cor o teu timbre e o teu riso. Aquele que soltavas quando contavas pela milésima vez a história do “Xanxanário” que ainda hoje sei de memória.
Ontem foi o Dia Mundial do Teatro. O teu dia. Obrigado por mo teres oferecido de mão beijada. Assim como quem pega num neto ao colo. Como a fotografia tão bem demonstra. Um beijo cheio de saudades.

O teu neto,

Miguel

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