E tu, ainda te lembras dos torneio do SAJU?

Em cima: Zeca, Tono, Eduardo, Rui (Silveiras) e Pedro
Em baixo: Vitor, Paulo Zé Mário e Miguel (Eu)

O meu irmão era um autêntico génio da bola. Tratava a bola com uma delicadeza tal, apenas ao alcance dos predestinados. Era, para mim, um autêntico ídolo. É certo que Deus também me concedeu algum talento mas nunca lhe haveria de chegar aos calcanhares. É por isso que as minhas primeiras memórias dos torneios de futebol que se faziam por Arouca são ainda na qualidade de adepto. Foi assim que assisti em 1989 ao primeiro título do GCR Rossas no mítico torneio do SAJU. Uma vitória suada, conseguida nos penalties, depois de um empate a duas bolas no final dos 40 minutos de jogo mais aqueles que haveria de durar o prolongamento. Outras se seguiram. E eu presenciei grande parte delas. Hoje é dia de recordar alguns desses feitos ou outras histórias mais ou menos engraçadas.
Era carismático aquele equipamento branco e verde patrocinado pelo Luís Bastos ou aqueles dois patrocinados pelos Móveis Antunes, um preto e amarelo e outro vermelho e branco que tive a enorme honra de envergar. Já para não falar naquelas chuteiras todas iguais que o GCR Rossas ofereceu a todos os jogadores. Pareciam uns “barcos”... Ahahah! Mais alguém se lembra disso? Ótimas memórias!
Aquele torneio do SAJU em 1990 que o GCR Rossas acabaria por perder na final por 3-2 frente ao ARDA foi marcante. Felizmente há uma filmagem desse jogo decisivo sendo um dos registos mais antigos da nossa querida Associação. No dia da estreia o Silvério que era para ser o guarda-redes, apareceu com o braço partido e teve de se arranjar um à pressa dentre a assistência. O escolha não podia ser melhor, não pela qualidade futebolística pois, como se veio a comprovar, deixava bastante a desejar mas antes, pela quantidade de histórias engraçadas que protagonizava. Recordo com saudade a famosa frase: “A minha sogra bem me disse que a roupa estava molhada. Ai que frio!!”. Só quem por lá passou sabe as risadas que essa frase proporcionou e como ficou para a história.
Outra história marcante haveria de acontecer alguns anos mais tarde. Em pleno SAJU, estávamos num jogo de Taça. Ali era a eliminar. Perder significava o fim. Era um jogo contra o Tropêço em que me lembro de fazer um jogo fenomenal. Alguns ainda se lembrarão de uma ilustre jogada em que faço três “cuecas” consecutivas sobre o mesmo adversário arrancando algum burburinho na assistência e, quando me dirijo para a baliza adversária sou completamente “tesourado” pela vítima. Estivemos a ganhar por 3-0 e levei a partir daí com o tal adversário sempre em cima de mim a dizer entre dentes: “Não fazes mais isso! Não sais daqui vivo”. Coisas do futebol. Acabaríamos por empatar 3-3 e o jogo teve de ser decidido nos penalties. E aqui é que vem a memória mais engraçada. O Tono era o nosso guarda-redes na altura. Num dos penalties o Pedro do Selmo vira-se para o Tono e diz: “Deixa-te ficar no meio da baliza que vais defendê-la”! O Tono, como bom rapaz que é, seguiu o conselho à risca. Pois o tal fulano, o que me dizia que não sairia dali vivo, rematou com tamanha força que acertou em cheio na cabeça do Tono que, obedecendo ao Pedro, nem mexeu um cabelo sequer. Eu acho que foi por nem ter tido tempo para isso. Ficou estendido no chão aí uns 5 minutos mas o que é certo é que defendeu o penalty e conseguimos o apuramento para a eliminatória seguinte.
Há ainda a boa lembrança daquele outro jogo onde finto um adversário e logo levo uma "sarrafada". Como não caí, o Walsh (era ele o árbitro nesse jogo) estica os braços e grita: “Jogo”! Lá continuei e volta a repetir-se a história. Nova finta, nova "sarrafada" e de novo o Walsh: “Jogo”! Volto a continuar, nova finta e, desta vez, a "sarrafada" definitiva. Caí redondo no chão! Cartão amarelo para o meu oponente e frase para a história do amigo Paulo das Silveiras enquanto ajeitava a bola para cobrar a falta: “Para a próxima cai logo à primeira”! Lembras-te Paulo? Talvez não te lembres da frase mas acredito que ainda te lembres desse episódio! Deste e de muitos outros que agora já não recordo...
Há ainda a lembrança daquelas jogadas perfeitas que conseguíamos fazer e que o Pinho tão bem rematava com a expressão “Lindo” que se tornou quase um hino entre a malta.
A memória mais saborosa, ainda mais do que as vitórias nos mais variados torneios, aconteceu num torneio do BURGO, jogado no Campo do Parque. Era dia de dérbi: Unidos de Rossas vs GCR Rossas. Tudo gente conhecida e amiga mas, sabem como é, dérbi é dérbi. Ninguém gosta de perder. Dizia-se antes de começar em tom de brincadeira que eram os da cerveja contra os do sumo ou os do café contra os da missa. Perdíamos por 2-0 ao intervalo e dizias-me entre dentes para me picar quando vim lançar uma bola junto ao banco adversário: “Ó Miguel, está-se a desenhar”. Olhei para ti e ri-me. Riste-te também. Uma rivalidade amigável. Demais. Quase que apetecia que ganhassem os dois. Mas, adiante... Demos a volta na segunda parte e acabámos por ganhar por 4-2. Memorável. Deveria ter sido filmado. É pena.
Há ainda a memória do Tono a dizer aquela frase peculiar: “Tenho de começar a tentar pensar na tentativa de poder passar a jogar à frente”. Dá que pensar... Eheheh!
Ou aquele jogo em Mansores (o meu primeiro naquele torneio, por sinal) em que a ganhar por 1-0 sofremos um canto contra. Marcam o canto e grita o Tono em tom autoritário: “Estou!” – mas logo vê que não vai chegar à bola pelo que continua a frase: “Car***, não lhe chego”! Na altura não chegou graça nenhuma mas depois rimo-nos muito à custa disso! O jogo ficou 2-2. Partilhei a linha avançada com o Vítor do Curro! Um luxo. Ainda tínhamos saúde física para dar e vender!
Como em tudo, há também memórias menos boas. Serão as boas memórias de outros, certamente. Como quando fizemos aquela viagem no Toyota Corolla do meu irmão, todos sem dar uma única palavra, pois tínhamos sido eliminados na meia-final nos penalties. Eu vinha ainda mais cabisbaixo pois fui o único a falhar a penalidade acertando em cheio no poste da baliza. Isso dos postes parecia “diabo”. Lembro-me de um jogo em que na mesma jogada acertei por 3 vezes seguidas no mesmo poste.
A pior memória foi ver o meu irmão a ficar, literalmente, com o braço virado ao contrário num jogo com o Canto do Muro. Foi um torneio amaldiçoado. Haveria de me lesionar com gravidade no jogo seguinte contra o Burgo e o meu tornozelo nunca mais recuperou totalmente. Hoje parece feito de papel. Dá só para jogar aos domingos de manhã (se eu tivesse tempo para tal).
Foi um privilégio partilhar o campo com tão bons jogadores. Alguns ganhavam até alcunhas peculiares. Havia o Bruno “Andre Flo”, um autêntico matador; o Zé Maroni “Trapattoni”, o mestre da tática; o Carlos “Kongolo”, um poço de força; o Paulinho “Cascavel”, um pezinhos de lã; e havia o Michel que não precisava de alcunha. A mim, chegaram a chamar-me “Caniggia” mas infelizmente não tinha a ver com as minhas capacidades futebolísticas. Era apenas porque nessa altura eu usava o cabelo comprido.
Cheguei ainda a ser campeão universitário de futebol de 5 e representei ainda (de forma esporádica, é certo) o Sport Rossas e Malta, Ponte da Costa e a Banda Musical de Arouca onde fiz os últimos jogos da minha “carreira”.
Ao fim de semana, nos dias de hoje, é frequente olhar de minha casa o campo de futebol relvado. Entre dentes, vou repetindo que chegou com 30 anos de atraso. O uso que lhe teríamos dado nessa altura. A luta que foi para conseguir um campo minúsculo na Portela. Mesmo assim foi um palco importantíssimo. Lembro as manhãs passadas a jogar a bola com o “Porteladas” que tinha uma paixão muito peculiar pelo jogo. Deixa muitas saudades. Às vezes as pessoas eram tantas que tínhamos de jogar ao "bota-fora". Pena essas velhas guardas da altura não terem 1h por semana para fazer uma perninha neste renovado campo de futebol. Era com esses que eu gostava de voltar a jogar. Só assim conseguiria arranjar tempo. Doutra forma talvez não valha a pena.
Volto a olhar o campo de futebol relvado uma última vez antes de regressar a casa. O Isaías do Paço merecia ter jogado num relvado assim.
Rossas, naquele tempo, era grande; muito grande. Mesmo sendo pequena.

E tu, quais são as histórias que te lembras?

2 comentários:

Unknown disse...

É ótimo lembrar desses tempos! A lembrança mais viva que eu tenho é da final de 1989, quando o GCRR venceu o torneio. Lembro-me que fomos aos penaltis depois de um empate a 2-2.
Chegada a hora de marcar, ninguém queria ser o primeiro... então eu avancei, todo a tremer por dentro e o Michel disse-me: "Chuta com força!". Mas quando eu olhei para a baliza deu-me uma vontade enorme de bater colocado. Esqueci os nervos e consegui mandar o guarda-redes para um lado e a bola para o outro (ufa, que alívio!).
Depois virei-me para o Michel na brincadeira e disse-lhe "Aprendeste?". O que é certo é que todos aprenderam, porque não falhamos nenhum e fomos campeões.
Acho que ter marcado daquela maneira ajudou a dar confiança à malta... mas não sei se voltava a arriscar! :D

Unknown disse...

Tenho ainda guardado um registo dos nossos resultados daquele torneio, que partilho aqui com todos:
7 - 0 Moldes
6 - 4 Saju
2 - 3 Figueiredo
6 - 0 Burgo
4 - 3 Várzea
10 - 1 Santa Maria do Monte
0 - 0 ARDA
5 - 3 Tropeço
2 - 2 Pintosomerset (5-4 nos penaltis).