Parabéns amigo Eduardo!

Foto: Eu e o Eduardo no início da década de 80.

Olá Eduardo. É, para mim, um enorme prazer poder dar-te hoje este abraço de parabéns. O facebook diz que são 42 e é mais ou menos aí que começo a dar conta que o tempo tem realmente passado a grande velocidade. Peço desde já desculpa mas as memórias são tantas e tão marcantes que o abraço que te deixo, para além de ser apertado terá forçosamente de ser demorado.
As minhas primeiras memórias contigo são do tempo que retrata a foto que deixei acima: início da década de 80. Começámos a fazer-nos amigos na escola primária. Por sorte a nossa professora era a minha mãe pelo que não terá sido apenas uma casualidade teres sido escolhido, juntamente com o Paulo Daniel, para meu colega de carteira. Lembro-me que nessa altura, os primeiros a acabar os trabalhos iam escrever o respectivo nome ao quadro e depois, enquanto os restantes acabavam os seus afazeres, sobrava um bocadinho de tempo livre para brincar um bocadinho, ainda que sem fazer qualquer barulho ou algazarra. Foi assim que brinquei montes de vezes contigo a fazer verdadeiras corridas de Fórmula 1 com as afias ou as tampas das canetas em percursos desenhados sobre a secretária através dos nossos lápis que eram colocados de forma estratégica sobre a mesa. Talvez não te recordes mas uma das brincadeiras que mais gostava nessas alturas era a de quando desenhávamos as mais originais naves espaciais numa folha de caderno e depois fazíamos autênticas batalhas intergalácticas onde os tiros eram disparados com riscos saídos da esferográfica. Também recordo com muita saudade o momento em que íamos junto da secretária da professora dizer as tabuadas e, enquanto ela se distraía ligeiramente corrigindo algum trabalho de outro colega nosso, lá lhe conseguíamos recuperar alguns dos bonecos que ela nos tinha confiscado por anteriormente estarmos a brincar em vez de trabalhar.
Desde esses tempos nunca esqueci o teu nome completo (Eduardo José Ferraz Garrido Duarte Brandão). Às vezes a tua avó ligava lá para casa para saber se podias vir brincar comigo. Eram ótimas notícias. Parece que ainda te estou a ver num desses dias a abrir o portão da minha casa de infância com uma saca de plástico branca cheia de carrinhos e bonecos: havia um lancia branco com uma tira vermelha e outra verde que eu gostava muito e outro ao estilo de “le mans” azul com o número 10 que também estava entre as minhas preferências. Foram tantas as vezes que brincámos com eles naquele muro que separava o recinto da escola do da cantina. Tempos tão bons. E a bonecada era mesmo à fartura; também por isso adorava brincar contigo. Tinhas muitos bonecos e de qualidade. Eram pilhas de Estrunfes perseguidos pelo Gasganete, era o Dartacão, e até me lembro de uma vez que trouxeste peças de xadrez que eram uma espécie de soldados da idade média, creio eu. Bem ou mal, está tudo gravado na minha cabeça, no lado bom da memória. Quando não havia nada disso, brincava-se com as caricas fazendo corridas em pistas desenhadas na terra com uma pequenina tábua e as tardes passavam a correr. Como aquela em que ao atirar um avião de papel feito com uma folha arrancada de um caderno do Asterix no recinto da cantina, ele apanhou uma rajada de vento que nunca se voltará a repetir e avançou a escola primária indo parar apenas no campo que era feito pelos da “borneira”, como lhe chamávamos. Tudo gente boa que torna as memórias ainda mais felizes. Fazíamos por essa altura a famosa coleção dos aviões que vinham nas chiclas “Gorila” e que ainda guardo lá em casa numa pequena caixa juntamente com os brinquedos que sobreviveram à minha infância. Por essa altura passava o Sport Billy, o Willy Fog, os Estrunfes, o Dartacão ou o Misha na televisão num mundo que parecia, de facto, feito à nossa medida.
Sabes, parece que ainda estou a ver a minha mãe a abrir a porta de casa e do outro lado estares tu com a tua avó porque vinhas oferecer uma saca de castanhas ou de nozes. Ou as vezes que íamos buscar os livros à biblioteca da escola, aberta pelo meu pai aos sábados ao início da tarde.
Não se brincava às caçadinhas ou às escondidinhas. Nem pensar. Os nomes eram muito mais pomposos. Brincávamos, isso sim, ao bate-fica e ao tape-tape. Nem sei sequer se te lembras de eu, tu e o Paulo Daniel termos inventado a variante de jogar ao bate-fica mas sem poder sair dos cobertos da escola que nos provocava um riso mais ou menos descontrolado. Por isso o batizámos de “bate-fica rir”. Muito bom. Olho para trás e todas as nossas feições parecem ainda nítidas. Tudo isso rematado com um chapéu à cowboy azul e vermelho que andavas com frequência.
Há uma história engraçada que guardo para mim desde esses tempos. Numa dessas vezes que vinhas brincar para a escola a tua avó tinha-te recomendado que deverias regressar a casa às 16h. Como é óbvio, nessa tarde, a hora já tinha sido mais do que ultrapassada. Por ironia do destino, estávamos a brincar fazendo uma espécie de corridas pelo que usaste o teu relógio electrónico para cronometrar os tempos. Quando a tua avó chegou logo te perguntou: “Então Eduardinho? Não sabes que horas são?” ao que tu respondeste, por que tinhas o cronómetro ligado: “Sei lá! Só sei que são 10 segundos”. Foi gargalhada geral.
Depois haveria de chegar a tua BMX que a minha memória (talvez atraiçoada pelo passar dos anos) guarda como azul escura ou preta, com um amortecedor amarelo e uns tons de vermelho (talvez os punhos). Creio que foi essa BMX que o Francisco da Costa usou já no ciclo quando num dos dias a escola organizou uma espécie de “gincana” ou “prova de perícia” com bicicletas.
Fomos colegas de futebol no saudoso torneio do parque onde chegaste a ser capitão de equipa num dos anos em que o equipamento era vermelho e branco. Lembro-me de na cerimónia de abertura o teu pai, na qualidade de presidente da câmara (creio eu), entregar uma bola de futebol a cada equipa. Quando chegou a vez do GCR Rossas ele disse aos microfones: “Agora vou entregar a bola ao meu filho”.
Tinhas um sentido de humor brilhante, qualidade que era alargada a outros amigos comuns que moravam próximo de ti: o Rui, o Paulo, o Zezito, os Picatojos... Chamavam-te Kennedy por o teu pai ser presidente da Câmara. Brilhante.
Houve também telefonemas no sentido inverso. E foi assim que, dessa forma, me deslocava eu a tua casa para brincar. Lembro-me de ficar impressionado com o ZX Spectrum, sobretudo com o Target Renegade. Mas Wec Le Mans, Paris-Dakar, Cybernoid 2, Impossible Mission 2 ou Sol Negro, por exemplo, também trazem boas memórias. Houve um dia que deu direito a disparar uma chumbeira contra várias latas colocadas numa espécie de piscina que tinhas lá em casa até que todas fossem ao fundo. Dias muito bons.
Foste tu, na paragem da barroca, que me ensinaste por essa altura a jogar ao Oito Americano. Eu tinha comprado recentemente o meu ZX Spectrum +3 e, nesse dia, disseste-me que aos domingos faziam análise a vários jogos na secção Micromania. A partir daí não perdi um único jornal ao domingo de manhã. Ainda tenho vários recortes guardados cá em casa.
Adorava também no ciclo os jogos que fazíamos “turma contra turma”, era eu do 1.ºJ e tu do 2.ºH. Foi aí que conheci o Soviético, o Pedro e o Custódio de Santa Marinha, por exemplo. Eram teus amigos, passaram automaticamente a ser meus amigos também.
Já maiores, fomos ainda colegas no futebol do GCR Rossas onde estivemos em várias finais chegando a ganhar alguns torneios. Era o mais próximo que conseguíamos estar do nosso Benfica, paixão que ainda hoje partilhamos.
Tenho mesmo muitas saudades de quando eras o Eduardinho e a tua irmã a Nina. 
Foram tempos muito felizes.
Agora também são, de outra forma. É inevitável. O teu cabelo está muito mais branco e a minha barba, vê lá tu, já tem falhas. A nossa professora da escola primária, a minha mãe, está já no ocaso da vida e a saúde já não é o que era. Faz parte da lei da vida. Mas continuo a gostar muito de ti e a lembrar-me dos nossos grandes momentos em muitos dos dias que passam. Neste dia 10 de janeiro as memórias são em maior número. É natural.
E desculpa se me alonguei demais.
Era apenas para dar um abraço apertado. Perdoa-me se foi demorado demais.
Um ótimo dia para ti e para a tua família.

Miguelito

3 comentários:

Anónimo disse...

Ola Miguelito, é com grande nostalgia que revejo o filme da nossa infância contigo no papel principal.

Foi uma fase muito feliz da qual retenho apenas parte das memorias que tao bem descreves, num modo muito pessoal e que me deixa sempre saudosista :)

Ainda bem que me contas estas "novas" historias porque assim parece que a infância foi ainda mais rica e melhor do que me recordo.

Lembro-me muito bem de jogar a carica, do arco e da gancheta, dos estrumpfes, do sprectrum, dos torneios, de jogar futebol sem bola no campo da escola, das lições de piano com o teu Pai.

De forma muito verdadeira, como sabes, sinto-me um privilegiado por ter vivido na mesma época que o meu Grande Amigo Miguel.

Um abraço
Eduardo

Unknown disse...

Caros amigos Miguel e Eduardo

Em primeiro lugar, um grande abraço aos dois, abraço esse já perdido no tempo, numa vida que nos traz surpresas a uma velocidade gigante, e que nos afasta por vezes dos momentos mais bonitos e aprazíveis que vivemos na nossa vida. Porquê? Porque vamos encontrando outros momentos também eles especiais que nos vão mostrando o caminho da felicidade...
Mas não é um abraço qualquer. É também ele uma abraço saudoso, uma abraço apertado, demorado. Tão demorado como as memórias que guardo da nossa infância, sempre repetidas nos meus vagos pensamentos.
Bem, hoje não vou desejar os parabéns a ninguém porque não estamos no timing certo, mas vou agradecer, do fundo do meu coração, as palavras do Miguel, trazidas de uma baú tão rico e tão humildemente recordado , por mim, tantas vezes sem fim. Lembro-me perfeitamente desse bate-fica rir, ai se me lembro!! Que maneira tão bonita de celebrar uma amizade tão forte que foi. E as corridas com os carrinhos no velho muro da escola que hoje já não existe! E as corridas com os arcos que o "ferreiro da barroca" ia fazendo... E tantos jogos que hoje recordo com os meus alunos e que sempre me incita e inspira a falar-lhes do valor da amizade.
Agradeço aos dois pelo grupo que construímos. Que trio, hein!? Agradeço também por me terem ajudado a viver uma infância feliz e por me terem transmitido valores que ainda hoje preservo comigo. Agradeço também à minha professora primária, a Professora Palmira, mãe do Miguel, que nunca mais sai da nossa memória, pela importância que teve e por tudo aquilo que representou para mim. Uma verdadeira inspiração. Sei que não se encontra no seu melhor momento de saúde, pois vou perguntando as meus pais pela professora Palmira.
Deixo aqui esta nota de apreço e amizade. Que um dia nos possamos encontrar e beneficiar de mais um brinde à nossa amizade. Fiquem bem e felizes!

Miguel Brandão disse...

Amigo Paulo,
Que agradável surpresa. Às vezes, mais que as palavras, basta apenas o sabermos que não estamos sozinhos neste caminho da memória. É com enorme alegria e alguma comoção que leio a tua mensagem.
Como é bom que ainda te lembres do "bate-fica rir". Não quis precisar pois já não estava certo, mas acho mesmo que foste tu que inventaste. Era delicioso.
Os tempos da escola primária foram, sem sombra de dúvida, dos melhores dias da minha vida. Sou um felizardo.
A vida é mesmo assim, não podemos ser sempre pequeninos nem ficar sempre onde queremos pela simples razão de que não podemos estar em vários lados ao mesmo tempo.
Depois de receber a notificação de um novo comentário e de ter lido o que escreveste, voltei a ler o texto que tinha escrito ao nosso amigo Eduardo. Dessa forma vi-te de forma mais nítida em alguns dos episódios que falo. Lembrei-me, por exemplo, que tinhas um boneco do ursinho Misha que eu tanto gostava. Não sei se vais acreditar mas nessa memória apareces-me com uma camisola azul e vermelha às riscas horizontais. Tenho de confirmar nos meus álbuns se essa memória "pode" corresponder à verdade.
Obrigado também pelas palavras de carinho que dispensaste sobre a minha mãe. Na verdade o estado de saúde não é o melhor. É a lei da vida a mostrar a sua supremacia. Mas prometo-te que ainda hoje, quando a for ajudar a deitar juntamente com os meus irmãos, vou falar-lhe de ti e das tuas palavras. Sei que ela não se irá recordar (talvez nem mesmo que foi professora) mas pode ser que a informação fique a remoer lá no cérebro e lhe seja útil numa qualquer altura em que ela, nem que seja só por um segundo, tenha alguma lucidez.
És um bom amigo que recordo com muita saudade.
Um forte abraço.

Miguel