God Save The Queen - O Concerto

“Há dias que são mais dias que os outros porque os enchemos de paz e alegria”.

Hoje amanheci em Gondomar; mesmo acordando em Arouca.
O nervoso miudinho começou cedo. Tudo o que ia chegando de Lisboa via facebook fazia a ansiedade crescer à mesma velocidade com que as crianças contam os dias e as horas para o Natal. Para ajudar a controlar o tempo sento-me ao piano onde os meus dedos me dão os Queen, sobretudo os sons que não vão passar à noite. “My Melancholy Blues” e “It’s a Hard Life” são as que toco mais vezes até entrar em “modo Queen”. Não demora muito tempo, reconheço. Enquanto isso, e muito antes da ligação que partilhaste no meu facebook desejando-me um bom concerto, lembro-me do dia em que fomos ao Porto, àquela casa na Rua 31 de Janeiro, onde comprei os meus dois primeiros álbuns dos Queen. A celeridade com que nos sentámos para ver a letra do Bohemian Rhapsody... E eu tenho saudades, amigo. Muitas.
A caminho de Gondomar, tudo parece sorrir à minha passagem. Há dias assim. Mesmo que a chuva teime em cair cada vez com mais força. Cheguei cedo, o relógio ainda não tinha chegado às 15h30. Ao sair do carro lembrei-me duma frase que durante anos a fio dizia antes de me levantar da cama pela manhã. E repeti-a mesmo ali, baixinho, para dentro de mim: “hoje o meu dia vai ser bom”. Sábia e feliz premonição. Enquanto esperava no exterior do pavilhão pelos meus colegas que haveriam de chegar de autocarro fui recordando milhões de pequeninas coisas, pequeninos pontos com que fui cosendo a minha vida. É reconfortante quando, por pouco que seja, nos decidimos a fazer o nosso percurso voltados de costas para a vida e damos conta que está lá tanta gente. A sensação de que vale a pena tem um sabor difícil de igualar.
Entro no pavilhão e assim que avisto os primeiros colegas logo ouço: “Olha, chegou o fã dos Queen”. Para início de jornada o quadro não poderia ter trazido melhor matiz. Enquanto vou procurando a respetiva credencial dizem-me que fiz falta no concerto de ontem. Não me tinha apercebido disso mas soube muito bem ouvir. 
O teste de som é feito olhando as cadeiras vazias que estarão ocupadas quando a noite já tiver acordado. À medida que a hora se aproxima a ansiedade vai crescendo em cada um a seu modo. Os homens trajam mais a rigor dando um ar mais solene à ocasião. As meninas, essas, trazem consigo uma beleza ainda maior que aquela que transportam nos outros dias. Ou por outra, a beleza é igual, apenas fica mais realçada. De tal forma que a cada passo dado pelo pavilhão fazem lembrar um qualquer bailado feito pela Natalia Makarova. Tudo parece mais gracioso. Como se tudo dentro de cada uma trouxesse mais poesia que um soneto de Shakespeare ou mais sonho que a Pedra Filosofal do António Gedeão. Deve ser a tal labareda que o próprio Camões disse arder sem se ver.
A hora chega, finalmente, e tento aproveitar ao máximo esta oportunidade única. Sobretudo para ouvir ao vivo as canções que o Freddie nunca cantou em concerto.
No palco, não raras vezes, as paredes do coração chegam a tocar a ponta dos dedos. O concerto passa a correr. A um ritmo tal que nem dá para ter sido ainda melhor. Pelo meio tenho a possibilidade de tocar campainha no “Bicycle Race”. Sou um autêntico felizardo.
Termino o concerto em pé mas a minha alma está de joelhos em sinal de agradecimento.
No final, uma amiga cumprimenta-me e pergunta-me como foi. Despeço-me e pelo caminho perguntam-me se vou tirar uma foto com o Pablo. Confesso, até gostava. Mas o Freddie, é o Freddie...
Entro no carro com a mira apontada para Arouca onde me espera um computador para escrever as milhentas palavras que tenho a fervilhar na cabeça. Porque, como costumo dizer, as memórias escritas parecem chegar-se para mais perto de nós. E isso sabe muito bem.
Pelo caminho venho a saborear o facto de alguns colegas começarem a chamar-me Miguel em detrimento de Rui. Hoje, de facto, foi um dia um bocadinho mais dia que os outros.
Obrigado.
Até amanhã, Freddie.

Miguel

P.S.
Interessante como muitos dos pormenores foram pensados. Até a própria música em que colocaram o “Brian May” a cantar enquanto o Pablo aproveitava para trocar de roupa não é escolhida ao acaso. De facto, a primeira versão de “Too Much Love Will Kill You” a sair para o grande público foi em 1992 num álbum a solo do próprio Brian May. Só em 1995 davam a conhecer uma versão com o Freddie.
Obrigado pela atenção aos pormenores.

P.S. 2

Dizia a Odete enquanto eu almoçava se havia alguma canção que eu gostasse e que fosse ficar de fora do programa. Ri-me e disse-lhe que seria fácil encontrar outras vinte e cinco para um concerto de igual calibre. Vim a pensar nisso no caminho de regresso. Foi fácil chegar às 25. O difícil foi ficar só por 25. Mas cá vai...

Save Me
Good Old-Fashioned Lover Boy
I Want To Break Free
It’s A Hard Life
Breakthru
The Miracle
I’m Going Slightly Mad
Hammer To Fall
Friends Will Be Friends
My Melancholy Blues
Heaven For Everyone
Living On My Own
Let Me Live
These Are The Days of Our Lives
A Winter’s Tale
Is This The World We Created?
Spread Your Wings
Time
In My Defence
Love Kills
The Fallen Priest
I Was Born To Love You
There Must Be More To Life Than This
Let Me In Your Heart Again
In the Lap of the Gods... Revisited

0 comentários: