O que é feito dos nossos ex-alunos (músicos)?



Há professores que nos marcam; que não passam indiferentes; que têm carisma; que, à sua maneira, nos servem de modelo e aos quais, ainda que de forma silenciosa, ficamos gratos para o resto das nossas vidas. Daqueles que todos se lembram quando voltamos a falar neles ainda que tenham passado mais de vinte anos. E fazemo-lo de forma carinhosa e com saudade.
Um dos melhores exemplos que se podem encontrar é o da professora Rosa de Filosofia, ou melhor, da “Lola”. Sejamos honestos, era este o nome mais comum nos corredores do velho liceu.
Os meus caminhos cruzaram-se com os da Lola no ano letivo de 1992/93, andava eu no 11.ºB. Eram os tempos em que o Carlos chegava de manhãzinha com estilo na sua Cagiva mas sempre um bocadinho depois do segundo toque. E sempre a rir-se, é assim que o recordo. Esse 11.ºB é a turma que me deixa mais saudades. Mesmo que do núcleo duro dos rapazes só eu e o Carlos fôssemos benfiquistas. Mas nas aulas de Filosofia ganhávamos uma aliada de peso.
Lembro-me duma aula em que a professora não conseguia conter o riso enquanto nos falava do “isocronismo do pêndulo” ou de outra em que da janela da sala 46 todos ficamos a olhar para um par de namorados sentados junto a um poste em frente ao pavilhão 3. A paixão era tão fervorosa que parecia que a língua iria saltar fora da boca do rapaz a qualquer momento. Estava instalada a confusão na sala. Passámos a aula quase toda a “filosofar” sobre tão querido par. Ainda me lembro de tocar para fora e, ao fazer o seu percurso de regresso à sala dos professores, a professora parou mesmo em frente ao par e disse mais ou menos isto para o rapaz: “O senhor estragou-me a aula toda! Estava aí com uma vontade...”. O par ficou um pouco envergonhado, sem saber o que dizer, até que a professora rematou, bem ao seu jeito e sempre virada para o rapaz: “Para a próxima, pelo menos, veja se vai para trás de um pavilhão”! Foi uma risada geral de quase toda a turma que a seguia já à espera de um sermão do género.
E são estas memórias que nos vão mantendo vivos...
Quem me conhece bem sabe o quanto eu gosto de voltar a estar lá. Todas as artérias da antiga escola ainda se apresentam nítidas na minha memória quando as saudades apertam mais um bocadinho. Mas a verdade é que hoje os corredores da nova escola são bem diferentes. Sei-o bem pois percorro-os frequentemente. E de todas as vezes lembro uma história diferente desses tempos de ouro. E foi numa dessas deslocações à nova escola, já há uns meses atrás, que me cruzei com a professora Rosa que me cumprimentou e perguntou: “Não é você que é músico?”. Respondi afirmativamente e diz-me ela: “Vou precisar de si no último fim de semana de maio. Não marque nada nesse dia. Que instrumento é que você toca?”.
E foi dessa forma que se começou a desenhar a minha participação no evento "O que é feito dos nossos ex-alunos (músicos)?". À medida que o dia se ia aproximando começaram as chegar as informações por mail. Por isso nos juntámos numa quarta-feira à noite para conseguir realizar o desejo da professora Rosa de apresentarmos uma música em conjunto no final do evento. Foi bom rever algumas caras embora estas sejam ainda das que vejo com bastante frequência.
Nas informações chegadas por mail pediam-me para que a minha atuação fosse um bocadinho diferente, sugerindo que fosse um pouco humorada e, se possível, com recurso ao acordeão. Confesso que fiquei indeciso com o que haveria de apresentar embora o uso do acordeão tenha ficado posto de parte quase à partida por várias razões. A escolha final acabou por ser o “Não descalces os sapatos”. Uma espécie de homenagem ao enorme Carlos Paião que tantas excelentes músicas pôs na boca do Herman José quando este estava no auge da carreira.
É essa a interpretação que vos deixo, superiormente captada pelo João Martins a quem não tenho palavras suficientes para agradecer.
A todos os colegas que me acompanharam em tão magnífica noite, o meu reconhecido abraço apertado. Temos de nos voltar a juntar um dia destes. Quanto mais não seja, para nos rirmos um bocado. Nós e a professora Rosa. Porque todos gostamos dela. Também da professora Rosa mas, sobretudo da Rosa, que, por acaso, também é professora.
Um beijinho de gratidão, Rosa. Ou Lola, para os mais ousados!

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