Eu, o Nelson Mandela e o concerto dos Queen



Madiba foi um homem extraordinário. Inspirador. Daqueles que nos faz acreditar com maior ternura que por trás de tudo há um Deus que nos carrega no colo.
O relógio diz-me que a meia-noite já ficou para trás e eu estou deitado na minha cama com a tv sintonizada na sic radical. Como muitos milhares de pessoas aguardo com uma ansiedade mais ou menos controlada a chegada dos Queen (ou do que ainda resta deles). Fosse este concerto há pouco mais de 20 anos e eu estaria talvez na fila da frente mas o tempo foi passando e as circunstâncias vão mudando. Dizem que as pessoas também. Confesso, sou uma pessoa muito mais solitária do que outrora. Mais reservada. Mas consigo tomar o sabor das coisas de uma forma mais completa. Mesmo com o corpo e a mente a pedirem todo o descanso do mundo.
Deitado na minha cama vi todo o concerto dos Queen e não houve um único momento em que eu não quisesse ter estado lá. E, raios... Nos dias de hoje até teria sido tão fácil. Ainda este mês estive em Lisboa para ver a “República das Bananas” do La Féria. Como é que tinha ousado ficar em casa num concerto dos Queen (ou o que ainda resta deles. Já disse?).
Enquanto o concerto se ia desenrolando dei comigo a pensar que, muito provavelmente, nenhum dos milhares que estava lá ao vivo terá ouvido tanta música dos Queen nesse dia como eu. Isto com o meu corpo cansado numa cama estendido. E lembrei-me do Madiba. Isso mesmo. Do dia em que foi libertado e vi as imagens na televisão. Há dias (re)passou o filme Invictus na tv. A certa altura há uma cena em que o Mandela convida o capitão da seleção de rugby para tomar chá. É arrepiante ouvir da boca do Morgan Freeman que tudo se deveu a um poema. Que nos longos dias que passou em Robben Island era um poema que o ajudava a manter de pé quando tudo o que lhe apetecia era deixar-se cair.
Pois bem, respeitando as evidentes diferenças, os Queen foram mais ou menos isso para mim. Ajudaram-me de tal forma que me conseguiram manter de pé numa longa fase da minha vida em que julguei cair a todo o momento.
É por isso que ontem deveria ter estado lá. Como sinal de agradecimento.
Estiveram só eles.
Ainda que sem o Freddie.
E sem o John.
E sem mim.

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