Gods

Ontem voltei a jogar “Gods”. Não por muito tempo, é certo. Mas já não o fazia desde 1991, mesmo tendo comprado a versão Mega Drive há uns anos atrás para alargar a minha coleção. A vida parece começar, aos poucos, a recompor-se. Começo a conseguir algum tempo para coisas que valem realmente a pena.
Há jogos acima da média que, por vezes, nos passam ao lado pelas mais variadas razões. Neste caso, o que ditou o afastamento deste Gods foi o facto de o ter comprado juntamente com outros oito grandes jogos: Prince of Persia, Speedball II, Rainbow Islands, Parasol Stars, Magic Pockets, Mercs, Rodland e Prehistorik. Não havia tempo para jogar todos de forma aprofundada e a preferência, na altura, caiu para outros títulos. É por isso que nos dias de hoje há ainda tanto caminho a desbravar para um amante de retrogaming como eu.
Queria então dizer-te que hoje me lembrei do dia em que o ZX Spectrum +3 chegou lá a casa. Foi o meu primeiro computador. Apetecia-me dizer ao meu pai que deveria ter sido mais cedo. Talvez uns três ou quatro anos antes. Para que o meu irmão fosse um bocadinho mais novo e tivesse sido também tocado pela magia que me tocou. Estou convencido que essa diferença temporal teria feito com que os meus dias a fio, primeiro no Spectrum e mais tarde no Commodore Amiga, tivessem valido ainda mais a pena.
Porque hoje teria infinitas histórias para lembrar e, sobretudo, teria o meu irmão para as partilhar. Não seria uma experiência completamente solitária. E só o meu irmão poderia fazer que fosse melhor. Muitas das horas com Rodland, Midnight Resistance, War Zone, Kick Off 2 ou Speedball II teriam outro sabor. Principalmente quando são revisitados nos dias de hoje.
Estou certo que esta manhã ia a correr contar-te que redescobri o “Gods” e que o jogo é incrivelmente bom. Uma pérola que deixei para trás no seu devido tempo e à qual deveria ter dado outra atenção, sem dúvida.
Ontem, enquanto a Odete adormecia os pequeninos, liguei o Amiga e resolvi dar uma oportunidade a esta boa memória. Em boa hora o fiz. Quando dei por mim estava a não querer mais deitar-me; a desculpar-me com a célebre frase: “só mais uma vez”; a desejar que aquele bocadinho não acabasse nunca mais; a penitenciar-me por não lhe ter dado o devido valor na altura devida; a lamentar-me por não poder na manhã de hoje voltar ao liceu para contar tudo o que tinha progredido na última noite.
Há memórias que, de facto, já não voltam em forma partilhada. Aprendi, a custo, a deixá-las em paz. E diga-se a verdade: no que diz respeito a certas memórias, quando revividas de forma solitária, acabam por ter outro sabor. Muito melhor.
Mesmo assim, tenho andado a tratar de mostrar tudo e mais alguma coisa ao Tiago. Acho que daqui a uns anos ele não se vai cansar de me agradecer.

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