Gustav Mahler - Sinfonia n.º2 em Dóm "Ressurreição"



O tempo não chega. Nunca. Cada vez menos.
Estudar música é dos desafios mais interessantes que tive nesta minha vida que conta ainda apenas com 39 anos.
Quando em 1994 acabava o ensino secundário e me decidia pela Matemática Aplicada deixando o piano para trás, não imaginava sequer as voltas que a vida ainda haveria de dar e as boas surpresas que esta ainda tinha para me trazer.
Foi duro o caminho que me fez chegar primeiro a professor de Matemática. As colocações eram sempre longe de casa e com o nascimento da pequenina Rita a vida teve de ser repensada. Veio o desemprego e depois veio também o pequenino Tiago para se juntar à Rita. Com a família a mostrar-me forças onde eu julgava nem sequer existirem veio um emprego na Biblioteca Municipal e a possibilidade de estudar Composição na Universidade de Aveiro. Quando consegui finalmente ser "trabalhador-estudante" lembrava as palavras sábias da minha querida professora de piano Marília Rocha e respondi-lhe vezes sem conta, entre dentes, para os meus botões: "Tinhas razão. Aqui estou eu. Tinhas razão".
Entretanto sou agora um Auxiliar de Acção Educativa na Academia de Música de Arouca que, todas as segundas (e um bocadinho às terças e quintas) se desloca a Aveiro para aprender mais e mais. Música, claro está.
Poder fazer a nossa própria música, alargar horizontes ganhando cumplicidade com as mais diversas técnicas de compor é, qualquer que seja a forma, uma ótima (senão a melhor) forma de viver os nossos dias. Depois há vários caminhos a desbravar onde mais não temos que fazer do que deixar a música entrar. É apenas ela que se respira e nada mais.
É difícil explicar a sensação de nos colocarem, a cada instante, olhos nos olhos com Rossini, Beethoven, Brahms, Ligeti e tantos outros. Os maiores entre os melhores.
Resta o senão de apenas poder fazê-lo a "meio-gás". De outra forma tudo seria ainda melhor. E como tu sabes que eu não sou a "meio-gás". Acaba por ser uma luta contra mim mesmo.
No passado dia 27 de novembro puseram-me no Teatro Aveirense com os meus colegas "em frente" a Mahler e à sua "Ressurreição". Ir à Universidade tão pouco tempo por semana faz com que não se esteja entranhado o suficiente para viver tudo do lado de dentro. Para lhe tomar o devido sabor. Por outro lado, deixa-nos apreciar tudo de outra forma, mais à margem e, se calhar, mais racional. E assim consegue-se dar uma dimensão mais aproximada do que realmente estamos a viver.
No meu canto, naquele em que parece ser sempre mais noite, fui vendo caras de risos, de cumplicidade, de gente que é mais gente porque é assim. E deu uma vontade de voltar a ter 20 anos...
Vi selfies que dariam para ilustrar uma bíblia, entre risos e sorrisos de uns para os outros e com os outros. Vi abraços, beijos, carinhos, segredos, partidas, promessas e tanta coisa mais entre gente que se juntou com um objetivo principal: fazer música. Da boa, por sinal. E eu sou mais feliz por poder estar lá. Ainda que em "part-time" e mais na zona da fronteira.
Na hora de entrar para o palco tudo fica para trás. É o tempo de fazer com que o todo seja maior que a soma das partes e de ser mais ou menos aquilo que Mahler um dia felizmente criou, também para nós.
Deixo-vos com uma foto tirada do facebook da Universidade de Aveiro onde se comprova a minha presença no meio do coro e com um vídeo tirado do youtube onde se pode ver e ouvir um pouco do que foi a parte final da sinfonia onde também estou embora, quase irreconhecível.
Hoje à noite, na Casa da Música, há mais. O espetáculo volta a acontecer. Por motivos vários não poderei estar presente. Com grande pena minha. Sei que os meus colegas estarão à altura.
E como eu queria estar lá, à margem de tudo, a ver mais selfies, risos, abraços ou promessas de bem querer.
Hoje sou mais músico. Obrigado.

0 comentários: