GCRR Sub-12 - Verão 1986

Equipa de sub-12 do Grupo Cultural e Recreativo de Rossas que participou no Torneio de Futebol Infantil/Juvenil – Verão 1986

Em cima (da esq. para a direita): Pedro Silva (“Selmo”), António Almeida (Paço), José Paulo “Krespim”, Pedro Tavares (cap.)
Em baixo (da esq. para a direita): Miguel Brandão (Eu), Vítor Azevedo (Curro), Pedro Vieira

Tinha apenas 10 anos quando representei pela primeira vez o G. C. R. Rossas que tanto amo. O Grupo, esse, era ainda mais novo… Tinha (oficialmente) apenas 5 anos. Era assim uma espécie de irmão mais novo…
Guardo, com uma nitidez invulgar, as imagens desses tempos em que o “futebol”, para mim, era “jogar à bola”… Tenho saudades de jogar naquele recinto minúsculo da Escola Primária em que quatro pedras desenhavam os postes imaginários das balizas; dos remates por alto que não contavam golo porque o guarda-redes “não lhe chegava”; das bolas de borracha, dos sapatos estragados e das calças rotas no joelho; das habilidades que aprendi a fazer com uma bola, tão sabiamente ensinadas pelo meu irmão (que nestas coisas de “jogar à bola” sempre foi muito melhor do que eu); das inúmeras tardes passadas a dar toques sem deixar cair a bola no chão (chegaram a ser mais de 1000 toques de seguida, com apenas 10 anos…); da escolha das equipas através do par ou ímpar… enfim!!!
E nesse Verão de 1986, o Grupo abriu-me as portas de um sonho, a janela de todas as ilusões… Nesse Verão, tenho a certeza que fomos os melhores… Mesmo caminhando de derrota em derrota (só ganhámos um jogo e empatámos outro), mesmo sendo um Grupo de “bolsos vazios”, cheio de nada e coisa nenhuma, para mim, era cheio de tudo… Dava-nos, nesse torneio, um campo grande para jogar, com redes nas balizas e tudo!!! E, por quarenta minutos, podíamos dar pontapés numa bola “a sério” e passar a bola a um amigo que nesse dia até vestia uma camisola igual à minha e tudo… Que saudades desses equipamentos emprestados pelo Sport Rossas e Malta que tinham os números cosidos nas costas… É daí que vem a curiosidade de jogar sempre com o número 2. Foi o número que me calhou em sorte, na altura… E as saudades das sapatilhas velhas que já não serviam ao meu irmão e das meias até ao joelho que podia usar nesses dias e que o meu irmão me ensinava a calçar… E quando o árbitro apitava, era o paraíso… A partir daí, podia ser todas as imagens que criara, deitado na alcatifa do chão da minha casa de infância, a ouvir o Ribeiro Cristóvão no rádio, a relatar todas as jogadas do meu Benfica… E mesmo sendo derrotados pelos outros, e estando a perder a bola constantemente para outros pés mais habilidosos que os meus, não trocava esses momentos por nada… Como eu queria ter 10 anos outra vez, para voltar a receber a bola nos pés e, naqueles escassos segundos em que a conseguia manter em meu poder, voltar a sentir o Benfica todo nos meus pés… Foram tantas e tantas as vezes que fintei com o nome de “Chalana” ou “Diamantino”, tantos os livres que marquei como sendo o “Carlos Manuel”… E como sabiam tão bem aqueles golos marcados à “Nené” do calção branco… O que poderia eu desejar mais?!! Por isso, perdoem-me se digo que fomos os melhores… Porque afinal, o que é que pode ser melhor do que isto?!!! E o nosso Grupo, o tal dos “bolsos vazios”, cheio de nada e de coisa nenhuma, deu-me isso tudo… O que mais poderia eu pedir?!!
Hoje tenho 38 anos. O Grupo tem 33. Já não consigo descortinar na minha memória todas as coisas que fiz a representar o Grupo. Mas sei que foram muitas. Certamente muitas mais do que aquelas que estás a pensar… E, ao longo de todos estes anos, fui convivendo com as mais variadas pessoas em todas essas actividades… Todas essas pessoas que ajudaram a fazer o Grupo, aquilo que ele é hoje. Porque o Grupo que eu tanto amo não é um símbolo ou emblema… O Grupo é “as pessoas”… E, às vezes, quando estou no palco a representar, sinto-me todas elas (onde eu também me incluo), com os seus “nadas”, a dar tudo a um Grupo que nunca me dá menos do que aquilo que eu lhe dou.
Sim. Tenho 38 anos. Tenho saudades dos meus companheiros da foto. Também agora, mas sobretudo daqueles rapazinhos, com os mesmos nomes, mas que tinham 10 anos e que faziam trocas de cromos de jogadores nos intervalos da Escola Primária, e que brincavam comigo com os carrinhos e os bonecos, à macaca, ao pião, ao arco ou às escondidas...
Obrigado Grupo Cultural e Recreativo de Rossas.

Miguel

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