Nas Mãos dos Deuses


Freddie Mercury nasceu a 5 de Setembro de 1946

Se eu pudesse, hoje, acordava em cima da hora, entendendo a expressão “em cima da hora” como acordar já depois das 7h30m tendo que apanhar a camioneta do Caima antes das 8h na paragem da Barroca. Tudo feito como nos melhores dias.
Porque é assim que se faz…O banho matinal toma-se à pressa em água gelada mesmo sem ninguém nos ter desafiado para isso. A preguiça de fazer uma fogueira de véspera fala sempre mais alto. Enquanto se olha para o relógio veste-se uma camisa aos quadrados, umas calças de ganga seguradas por um cinto cheio de rebites e umas botas texanas com uma biqueira o mais aguçada possível. Tudo rematado com um resto do frasco de perfume que o irmão mais velho costuma usar aos domingos à tarde.
Se ainda houver tempo engole-se uma tigela de leite à pressa e atafulha-se meio pão com manteiga pela garganta abaixo enquanto se pega na capa com o poster do Freddie Mercury com meia-dúzia de folhas para levar para a escola porque, imagina-se, é assim que fazem os que são populares lá na escola pelo que será assim que as meninas mais gostam que façamos. Tudo ao jeito do saudoso filme “Namorada Aluga-se”, mas adiante…
Depois é viver intensamente todo o dia com os amigos para a vida e ir percorrendo as artérias da escola fazendo um olhar mais envergonhado quando nos cruzamos com a menina que amamos em segredo. Nessa altura fazem-se umas figuras ainda um bocadinho mais parvas mas que muitas vezes acabam por resultar porque, ao que parece, a fórmula é mesmo assim.
No final do dia, embora se possa fazer na escola, há que ir esperar a camioneta à vila porque é muito mais fixe. Compra-se um caramujo na Arca Doce para cumprir o ritual (aquele creme era mesmo delicioso), joga-se um bocadinho de matrecos no Cheiro Verde e depois é esperar na avenida pela camioneta e enfrentar um molho enorme de colegas para ver quem consegue entrar primeiro e ficar com os melhores lugares.
Chegando a casa vê-se a Roda da Sorte ou o Com a Verdade m’Enganas e janta-se à pressa antes da novela Pedra sobre Pedra. Depois há ainda tempo para jogar um bocadinho de computador ou ficar deitado no sofá a ouvir Queen até não poder mais. E é com essa banda sonora e com todo o cenário que está descrito atrás que se imagina as histórias que gostaríamos que acontecessem no dia seguinte nessa mesma escola e com essas mesmas pessoas com quem dividimos as melhores aventuras que se poderiam ter.
E não adianta dizer mais. Nestes últimos dias tenho voltado a apaixonar-me profundamente pela música dos Queen. Como consequência disso, o meu liceu tem regressado de forma mais assídua às minhas memórias.
Fico à espera do novo álbum com alguns inéditos que prometeste ainda para este ano. Será como se me trouxesses parte da minha adolescência numa bandeja. Como te poderei continuar a agradecer?
Parabéns Freddie…


0 comentários: