Certame Internacional de Bandas de Música Cidade de Valência

Facto: A Banda Musical de Arouca acaba de conseguir um honroso 2.º lugar na 128.ª edição do "Certame Internacional de Bandas de Música Cidade de Valência".

Se eu soubesse escrever, hoje, falaria de tanta coisa que me vai na alma. Mesmo tendo contribuído muito pouco para este sucesso. Quase nada, diria eu.
Mas se eu soubesse escrever, falaria do tempo que se leva a mastigar as coisas boas. De como fazemos tudo de forma mais lenta para lhe tomarmos melhor o sabor. E de como nessas coisas boas o frio na barriga faz prolongar essa doce sensação da mesma forma que o perfume se entranha por algum tempo na mão de quem oferece a flor. Como quando olhamos demasiado tempo para o sol e mesmo depois de fecharmos os olhos ele parece que ainda continua lá. E hoje estou assim: a saborear.
E se eu soubesse escrever, dir-te-ia o Movilar como um garoto tonto das mais belas histórias que conhecemos da meninice; a fazer lembrar a cada passo pelo palco os mais delicados filmes de sapateado do Fred Astaire enquanto trazia na cara o sorriso dos simples. O nosso sorriso. A nossa alegria que parecia nesse momento grande demais para caber dentro de um corpo tão pequeno.
E se eu soubesse mesmo escrever, dir-te-ia um povo louco de alegria; como um Físico fechado no seu laboratório a experimentar uma qualquer fissão nuclear. Como se num instante tudo fosse silêncio e no momento imediatamente a seguir tudo fosse explosão. E ia escrever-te pessoas pelo ar em alegria como pequenos estorninhos rasgando o céu a seu bel-prazer.
E se eu soubesse realmente escrever ia ainda um bocadinho mais longe. E dizia-te aqueles que pareciam que não estavam mas que sempre lá estiveram. Como se à ida para Espanha o autocarro tivesse parado na Bouça para trazer o Sr. Soares da bisca dos nove. E como se ele tivesse acabado de entrar e se sentasse ao lado do Silvino a quem na viagem de regresso cantaríamos os parabéns as vezes que fossem precisas. E tenho a certeza que o Pinga haveria de encontrar um segundo para me segredar, em privado e com os olhos lavados de emoção, uma qualquer frase para eu guardar para a eternidade. E o Sr. Silvério haveria de prolongar a sua alegria ainda mais do que naquela festa da Senhora da Mó onde repetiu vezes sem conta a frase "nunca mais chego a casa". E o Sr. Rosentino haveria de rematar tudo isso com palmas que se iriam perder no tempo. E eu queria conseguir dizer-te que estive com eles todos. Esses e outros que não estiveram lá mas que poderiam ter estado.
Se eu soubesse escrever, dir-te-ia também o abraço que me deste e que me soube tão bem; demorado e apertado como um molhinho de margaridas que se apanham nos combros para oferecer à mãe. Um abraço sentido como se a combustão estivesse a ser experimentada dentro do corpo. Como se um fósforo tivesse sido acendido dentro de mim e depois toda a labareda se fosse prolongando pelo corpo  inteiro.
Se eu soubesse escrever, dir-te-ia da melhor forma todas as coisas boas que hoje se precipitaram. E como eu gostava de saber fazê-lo à semelhança do Aquilino, do Eça ou do Torga. Ou do Gedeão e do Pessoa.
Se eu soubesse escrever, devolver-te-ia as tuas próprias palavras e dir-te-ia que quase não vivi este momento por dentro. E talvez não o tenha realmente feito: "Assim como a nossa casa só existe quando estamos fora dela. Ou qualquer coisa assim".
Se eu soubesse mesmo escrever, dizia-te que temos direito a ser felizes à nossa maneira assim como o arco-íris que muitas vezes se mostra nos dias em que há chuva. E dizia-te ainda que é nestas coisas que penso enquanto caminho pelo lado da rua onde é sempre mais noite.
Muitos outros momentos de glória, de riso e de bem-querer a nossa Banda Musical de Arouca irá encontrar na sua História. Gosto de pensar que, nessa altura, alguém também fará memória de mim.
Se eu soubesse mesmo escrever era mais ou menos isto que eu dizia neste momento.
Mas isso era se eu soubesse escrever...

3 comentários:

jcerca disse...

Felizmente que este "avião de papel" não foi atingido por nenhum trágico míssil, mas conseguiu embarcar nele alguns daqueles músicos que, marcados já pela "lei da morte" regressaram ao nosso convívio, através desta sentida evocação, para partilharem também deste recente troféu acabado de ser ganho em Valência.Parabéns a toda esta família musical de presentes e ausentes que, com o seu prémio, honraram Arouca e o País.

Fernanda Almeida disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Fernanda Almeida disse...

Sem dúvida, um enorme motivo de orgulho para todos nós, familiares, amigos e simpatizantes da Banda Musical de Arouca. O reconhecimento do trabalho e do mérito estão na base de mais esta grandiosa vitória e motivam estes aguerridos e extremosos músicos para vôos ainda mais altos e para novas conquistas! Muitos parabéns a todos vós, elementos da BMA!!!