A propósito da 9.º final europeia do Benfica




O Benfica joga amanhã a sua 9.ª final europeia. Um trajecto que enche de orgulho todos os benfiquistas e que por razões óbvias não pude acompanhar desde o seu início. Restam os relatos de alguns amigos do peito e umas quantas imagens que a televisão me vai trazendo de um Eusébio a fazer com a bola coisas que eu jamais ousaria sonhar fazer e de um José Águas a pegar na Taça dos Campeões Europeus como eu tantas vezes agarrei na minha Rita ou no meu Tiago. O Benfica é grande, é antigo. Tem a sua História. Embora ainda muito a tempo, eu cheguei mais tarde. Já não vi Eusébio, Coluna, José Águas ou Simões mas vi o Bento, o Chalana, o Humberto Coelho, o Carlos Manuel, o Alves, o Diamantino ou o Nené. E todos os outros daí para a frente.
O Benfica vai para a sua 9.ª final europeia e eu vou apenas na 4.ª.
Tinha apenas 6 anos quando me estreei nestas lides. Lembro-me muito bem do jogo na Bélgica frente ao Anderlecht que perdemos por 1-0 mas a Diamantino tem uma daquelas perdidas incríveis atirando por cima da barra na pequena área e sem o guarda-redes na baliza. A segunda mão prometia...
Tenho sobre esse jogo na Luz uma das memórias mais vincadas no que a jogos europeus diz respeito. A minha mãe lembrar-se-á tão bem como eu certamente. Mesmo sabendo que ela está completamente inocente, ainda hoje parece que não lhe consigo perdoar o golo do Anderlecht como se a bola tivesse sido por ela rematada. E mais não digo... Foi mesmo pena pois aquele golo do Shéu tinha sido muito bonito...
Depois veio o ciclo e a final da Taça dos Campeões com o PSV. Naquele tempo os jogos na televisão eram escassos e este, pela sua enorme importância, era daqueles que não se podiam perder. Por isso mesmo, como queria ouvir todas as incidências sobre a partida, vim a pé todos os 7Km desde a vila até Rossas com alguns colegas da turma. O Benfica  tem destas coisas... Infelizmente o jogo foi muito pobre e numa final em que ninguém parecia querer ganhar foi o PSV que acabou por ser mais feliz nas penalidades. Foi, talvez, o meu dia futebolístico de maior amargura e tristeza...
Depois, já no liceu, veio a final com o Milan que, nessa altura, tinha uma equipa completamente imbatível com Van Basten, Gullit, Rijkaard, Baresi, Ancelloti, entre outros. Embora a equipa benfiquista também fosse muito forte tinha consciência que apenas um milagre faria o Benfica trazer a taça para casa. O Milan tinha ganho no ano anterior a competição derrotando por 4-0 o Steaua de Bucareste que tinha também ganho uma das edições anteriores ao Barcelona. Esse mesmo Milan haveria de ganhar também por 4-0 ao Barcelona do Romário em 1994. Era, de facto, uma equipa praticamente imparável. E o milagre não aconteceu. O Benfica acabaria por perder 1-0 restando-lhe a consolação de ter saído da competição de uma forma digna.
Depois disso vi ainda outras grandes equipas do Benfica com participações europeias bastante honrosas e consentâneas com o grande número de títulos e triunfos a que fui habituado desde a minha meninice.
Até que aconteceu o impensável. O grandioso Benfica entrou numa crise sem precedentes e durante vários anos foi-se arrastando de forma quase penosa pelos estádios de futebol. Cheguei a presenciar ao vivo jogos na velha Luz em que até me custa nos dias de hoje dizer o nome dos jogadores desse Benfica tal era a qualidade duvidosa de muitos deles. Mesmo assim sempre tiveram o meu apoio incondicional devido à camisola que vestiam.
Aos poucos o clube vai-se reerguendo. Está, indiscutivelmente, mais forte. Há, nos dias de hoje, nomes que já fazem lembrar os da minha meninice. O sonho começa novamente a ser possível.
E é neste contexto que amanhã sigo para a minha 4.ª final europeia. Sei que o Chelsea é ligeiramente favorito mas ser do Benfica é também esta mistura de paixão com irracionalidade e esperar a qualquer momento um lance de génio que, sendo individual, será de todos.
Como é óbvio não consigo prever o resultado. Sei apenas que durante o dia tudo me fará lembrar aquele episódio com a minha mãe em 1983 ou aquela viagem a pé em 1988. E isso, por si só, já é muito gratificante. Mas não chega. Queria mais... Esperemos que desta vez o final seja mais feliz.
E PLURIBUS UNUM.

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