"Oh Captain, my Captain..."

Pousado no mais profundo dos meus pensamentos, pareço aterrar há uns tempos atrás. Sim. Recordo-me bem desse dia. Aconteceu em 1991. Foi uma lição de vida que me deu, indirectamente, uma professora de inglês que tive e que já não recordo o nome. Apenas recordo as suas feições, a sua voz e algumas das coisas que me ensinou. E recordo as lágrimas que ela chorou connosco naquele dia. No dia em que ela nos apresentou um tal de John Keating (Robin Williams), professor de inglês num dos melhores colégios ingleses. Com ele, aprendi a ser um livre pensador. A sonhar sem barreiras. Ensinou-me a olhar as coisas de várias perspectivas. Mesmo das menos evidentes. Ensinou-me a saborear todas as coisas que nos fazem viver. Enfim… Por isso, chamo a vida pela forma que ela melhor me ouve. Não com um “Sr. Keating” sussurrado entre dentes mas com um “Oh Captain, my Captain” gritado do mais fundo de mim…
E é com esta lembrança presente na superfície do meu cérebro que volto a oferecer as minhas asas ao vento. Volto a sobrevoar o mar. O teu mar. O mar que me dás e que tenho naquele pedacinho de ti que circunda a menina do teu olhar. Aquele mar no qual me fixo vezes sem conta. Onde quero estar. Onde quero ser. Aquele mar que, ora me deixa ali a deslizar num sonho como uma pequena pluma a dançar no ar ao sabor do vento, ora me transporta ao mais fundo de ti e me desvenda as tuas vivências mais profundas. Bem mais profundas que qualquer desses oceanos que eu consigo sentir a cada olhar teu. Onde, a cada instante, mergulho no teu sentir. No meu sentir. No nosso sentir.
E dou lugar ao sonho. Mais um entre tantos outros. Mesmo que este seja daqueles que doem e que tantas vezes transportamos num grito ou numa lágrima. Como aquelas com que hoje rego este chão que me protege. Porque sinto que já não estarás comigo quando for manhã. Sim. Nunca chegarei a ser manhã. Talvez, nem mesmo noite. Mas então deixa-me ser, pelo menos, o agora. Sim. O agora que me dás em cada vez que deixas pousar a ternura do teu queixo na palma da minha mão. Cada vez que me acordas numa manhã que não te espero. Cada vez que me sonhas, mesmo sem eu saber. Sei lá…
E como eu queria agarrar-me contigo a esses momentos, bem antes que fosse manhã... E fazer da minha eternidade o reflexo que vejo desenhado nesse mar onde descansas a menina colorida do teu olhar. E, aos poucos, fico melancólico. Porque, por segundos, de quando em vez, acordo para a realidade da tua ausência. Mas procuro-te. Para te olhar. Mesmo a esta distância. E encontro consolo no saber que as obras de arte devem ser olhadas a uma distância considerável para realmente percebermos o seu valor. Mas quero mais…
Chamo por ti. E vejo nos meus olhos fechados, os teus, lindos e bem abertos a olhar para mim. Como que a dizer-me um segredo. Porque me olham “leve, levemente, como quem chama por mim”.
“Oh Captain, my Captain”…
Até ao próximo voo…

2 comentários:

sara disse...

Então... " carpe diem"...para ti :)

Nini Barbosa disse...

Ui...Mas és escritor:) muito bem gostei!Escritor, músico... se calhar és famoso e eu nao sei. Beijinhos da Nini e da Milú de Paços de Ferreira (JMJ)