Vazio

Vazio. Enorme. Cheio da ausência de tudo. Serei, talvez, semelhante a um barco sem vela que nem o sabor do vento pode provar. Ainda menos do que isso. Porque não ouço, no sopro do vento, os sons do teu nome. Do teu riso. Das palavras que outrora me ofereceste. Porque não sinto as asas. As minhas e as tuas. E não sei por onde vou. Não sei para onde vou. Não sei porque vou. Nem sequer sei se vou. Porque não sou dono da minha trajectória. Fui largado neste vazio onde o som não se propaga.
Vácuo. Apenas me é permitido definir esta linha recta que pareço prolongar até ao infinito. Porque no vácuo tudo ganha um outro sentido. Falta-me a tua atmosfera. A tua gravidade que me atrai. Todas as coisas simples que me fazem voar contigo. Todas as pequeninas coisas que te fazem tão grande aos meus olhos. Tudo aquilo que consegues reunir num sorriso a cada instante. E eu sinto falta…
Vazio. Completo. Irremediável. Nem sequer consigo descortinar uma qualquer névoa que me permita vislumbrar um reflexo teu. Não te sinto. Não te ouço. Vazio.
Em tempos, quando voava num outro céu, sonhei ter-te comigo muito tempo. Todo o tempo. Sempre. Agora, neste vazio, a lucidez parece bem mais presente. E quero-te de outra forma. Porque descubro que nos momentos em que arriscaste voar comigo o espaço e o tempo não existiram. Estiveram sempre ausentes. Porque, para mim, estar contigo é sempre aqui e agora. E eu sinto falta…
Vazio. Lembro, em particular, uma noite um pouco mais atrás no tempo. Bem mais lá atrás. Ainda antes de levantar voo. A cor branca da lua estava bem presa ao céu. O meu olhar fixava uma nuvem enorme, estendida naquele escuro estrelado. E eu via-te nesse céu. E tinha-te para mim. Porque foste as formas que eu vi. Porque fizeste dessa nuvem o reposteiro onde te escondeste a fazer pantominas só para mim. Porque a tua sombra falou comigo ao reflectir todos os teus gestos nessa nuvem que o meu olhar transformou em cortina. E deixei-me dançar contigo. Mesmo não saindo da minha janela. Porque amei como quem ama. Senti como quem sente. Sonhei como quem sonha. Quis como quem quer. Abracei-te como quem abraça. Beijei-te como quem beija. E eu sinto falta…
Vazio. Hoje. E não sinto força nas minhas asas para que deixe de ser assim. Preciso que me estendas o teu céu. Porque eu sinto falta…
Será?!!!

3 comentários:

nahar disse...

descobri por acaso este teu espaço. adorei os textos. vou passando por cá...

Abraço

sara disse...

" ...Eu...estou aqui!... e eu... estou aqui..." :)

rumos disse...

Amigo do seu amigo, Compreensível, Humilde, Dedicado... enfim, não há palavras...
É assim o Miguel que conheço já a algum tempo...
Parabéns pelo espaço.

Sérgio Brandão