Para a minha mãe...

Porque a minha mãe faz anos e há textos que são sempre actuais...

Olá mãe.
As minhas palavras para ti, hoje, serão breves. Queria apenas dizer-te que me lembro. Sim. Lembro-me…
Lembro-me de cada nervo que compõe a tua mão, tantas foram as vezes que me segurei a ela nas nossas idas à feira ou à Lomba para visitar as tuas irmãs…
Lembro-me dos “cadernos da pantera” que me davas nos Natais e que tenho tanta pena que nenhum deles tenha resistido ao passar dos anos…
Lembro-me do conforto do teu colo quando ficávamos a conversar ao calor da lareira…
Lembro-me do teu sorriso e de cada traço da tua cara sempre que me davas um brinquedo novo. Foi desde aí, desde muito cedo, que comecei a perceber que essa alegria de dar é muito maior que a de receber…
Lembro-me de quando me levavas contigo para a escola e de quando foste a minha professora na Escola Primária…
Lembro-me que nessa altura te chamávamos de “mãezinha”…
Lembro-me que foi graças a ti que entrei para a Banda Musical de Arouca e que comecei a ter aulas “sérias” de piano…
Lembro-me das muitas coisas que foste fazendo por mim “em segredo”…
Lembro-me de algumas das lágrimas que deixaste cair por minha causa…
Lembro-me daquela vez em que me salvaste a vida naquele 17 de Julho de 1991 em que durante cerca de 30 minutos cada respiração que fiz pensava que seria a última. E foste tu que me salvaste.
Lembro-me de tanta coisa…
Mas queria recordar contigo uma história muito nossa. Eu teria talvez os meus 5 anos, não sei… Era por aí… E, em muitas conversas que tinha contigo nessa altura costumava dizer-te: “Ó mãe, eu gosto tanto de você. Não sei porquê, mas…”. Lembras-te? E isto durante um dia, dois, três, semanas… Até que um dia, sentaste-me no teu colo e me explicaste o porquê de eu tanto gostar de ti. Deste-me a conhecer os verdadeiros valores da vida. A partir daí, muitas foram as vezes que te disse que gostava de ti… Mas nunca mais te perguntei porquê. Nunca mais.
Hoje, como “presente”, deixo-te aqui um texto do meu livro da 4ª classe, do tempo em que foste minha professora naquela escola primária que eu gosto tanto…


Os olhos de minha mãe

Personagens: Ricardo, Filipe, Dário, Estêvão

(É noite. Brilha a Lua num céu limpo de nuvens. Há um silêncio em volta, só quebrado pelo marulhar das ondas, muito baixinho.)

Ricardo – Que linda é a lua cheia! Que luz doce a do luar!
Filipe – Gosto mais do Sol. A luz do Sol aquece…
Ricardo – A Lua é mais bela. Não magoa…
Dário – Que tranquilo está o Mar! Parece um lago azul… Não há nada mais lindo que o Mar…
Ricardo – Não é tão lindo como a Lua.
Filipe – O Sol é a mais formosa coisa que há no Mundo. Não é verdade, Estêvão? (Estêvão sorri e nada diz.)
Dário – É verdade: Qual é para ti a coisa mais bonita que há no mundo, Estêvão? O Sol? O Mar? A Lua? Diz!
Estêvão – A coisa mais bonita que há no Mundo? São os olhos de minha Mãe.
Ricardo – A luz do luar é serena…
Estêvão – Mais serenos os olhos dela…
Filipe – O Sol é ardente…
Estêvão – Também os seus olhos são ardentes…
Dário – O Mar é tão azul…
Estêvão – São mais azuis os seus olhos. Mais azuis do que o mar azul; mais ardentes do que o Sol ardente; e mais doces do que a doçura do luar. Acreditai: não há nada mais bonito que os olhos de minha Mãe.

(Virgílio Couto)


Parabéns Mãe.
Sabes…

Gosto tanto de ti. Não sei porquê, mas…

Miguel

6 comentários:

sara disse...

Pronto...já me fizeste chorar... : )...
Realmente, é muito dificil explicar o Amor de Mãe, porque é um Amor diferente, capaz de tudo e das mais pequenas coisas...
As mães, pelos filhos, fazem o impossível e encontram forças onde elas não existem!
E a "Palmirinha" é uma mãe especial... sempre preocupada, atenta e disponível para os filhos ( e não só!).
Para ela cá vai mais um xi-coração grande com o desejo de muitos anos de vida e muita felicidade!
E para ti... "aquele abraço"! : )

curva dos grilos disse...

Este texto é puro e sublime.
Há sentimentos, como o Amor de Mãe, que são eternos. Do meu tempo de escola, na primária de Forno Telheiro, também me lembro de um trabalho em xilogravura feito para oferecer no Dia da Mãe, com a seguinte frase: "Mãe, que verdade linda o nascer encerra, eu nasci de ti como a flôr da terra".
Gosto de ti porque... nasci de ti.

Um abraço

Os teus textos têm esse poder, de nos fazer viajar no tempo e desse modo não esquecer aquilo que deve ser sempre lembrado.

Odete Teixeira disse...

Maria tinha de ser uma mulher muito especial porque foi com ela (e com José, claro) que Jesus aprendeu a amar... e de que forma! O bem amado, ama bem!
A tua mãe também só pode ser uma pessoa muito especial porque foi com ela (e com o teu pai, claro) que tu e os teus irmãos aprenderam a amar... Os bem amados, amam bem! Obrigada a eles por eu e a Rita termos o privilégio de sermos bem amadas.
Beijinho grande
Odete

Anónimo disse...

Que avó e netinha tão lindas e maravilhosas.
Sem duvida que a tua mãe é alguém muito especial.....e por isso só poderia ter filhos também muito especiais.
Parabéns tia , atrasados aqui, mas como todos os anos desejei-tos no proprio dia, mesmo se por telefone.

E lindo texto priminho. Adorei e a tua mãe merece.

Beijinhos a todos
Zezinha

Rita Gomes disse...

Com lagrimita no olho, acabei de ler este texto lindo! sinceramente, és espectacular! cada vez mais é dificil ver alguém com tanto amor e dedicação a um pai ou uma mãe, ainda bem que existes para quebrar essa regra. Lindo, lindo!

Anónimo disse...

é lindo .tens mesmo jeito pa coisa :)