Lembro-me muito bem das minhas primeiras lições de piano. Primeiro, por serem dadas pelo meu pai e, segundo, por terem uma periodicidade diária. Para uma criança que andava ainda na escola primária, por vezes, era um pouco saturante mas, felizmente, a paixão foi crescendo de tal maneira que nunca encontrarei forma de retribuir o tanto que o meu pai deixou plantado em mim. Felizmente, ele não espera qualquer retribuição. É fácil perceber isso quando me sento ao piano com ele a analisar qualquer música que seja. A cara dele é muito parecida com a que trago quando me sento ao piano a tocar.
O gosto foi crescendo e a "habilidade" também, ainda que de forma mais limitada. O meu pai percebeu que teria chegado a altura de mudar de mestre. Então, mais por vontade dos meus pais do que por vontade própria (na altura) encontraram-me uma professora em S. J. da Madeira para orientar os meus estudos musicais. Chamava-se Marília Rocha e jamais a esquecerei. Sem qualquer desprimor para todos os outros mas os nomes Marília Rocha, Valdemar Noites e Ivo Brandão são aqueles que trago sempre presente, ainda que por diferentes razões, quando penso naquilo que tem sido o meu percurso musical. Pudesse eu aproximar-me um pouco do que conseguiram e conseguem ser e seria um homem realizado.
Nessa altura os meus sábados eram passados em S. J. da Madeira em casa da minha professora que tanto carinho me deu. Ficava apenas a mágoa de ter que deixar os meus amigos de sempre que se juntavam também ao sábado em "Encontros de jovens" ou outras confraternizações e eu não podia assim marcar presença. Mas acho que eles compreendiam. Devem talvez tê-lo feito até antes de mim.
Foram anos dourados no meu percurso. Os meus horizontes musicais alargaram para limites que pensava não existirem. A exigência trazia maior responsabilidade, nervosismo e inquietação; mas trazia também uma maior dose de satisfação, realização e dever cumprido. Há aulas que ficaram penduradas na minha memória até aos dias de hoje. Há uma em especial que te queria falar. Aquela em que falaste comigo como uma verdadeira amiga, como gostavas tanto de fazer. Eu atravessava uma altura de fazer escolhas e pendia, nessa altura, mais para a Matemática. Até por uma questão familiar. E tu, sem me influenciar mas porque sabias que ainda não estava completamente seguro, falaste-me da música e de tudo o que poderia vir a conseguir. Sei que é tarde, muito tarde, para te agradecer as palavras desse dia. Para agradecer o brilho que trazias nos teus olhos quando falavas. Apenas percebi tudo isso tarde demais. Mas, onde quer que estejas, sabes que estás sempre presente sempre que estou a "fazer" música, Tu sabes disso. Mesmo depois de me licenciar em Matemática voltei ao Conservatório (embora não fosse ao do Porto) onde fiz Análise e Técnicas de Composição, História da Música e Acústica Musical com notas que te deixariam bastante orgulhosa. E o mérito é muito mais teu do que meu.
Queria dizer-te que se pudesse voltar àquele dia, àquela aula e àquela nossa conversa ter-te-ia dito, sem pestanejar, que queria tirar o curso superior de piano. E não tenho dúvidas que ias conseguir realizar esse milagre em mim.
Sabes, a vida dá voltas engraçadas... Por essa altura fiz o 8.º grau de Formação Musical por exame no Conservatório do Porto com a Sandra. Éramos a tua turma de sábado à tarde. Ainda me lembro de te ligar no final, um pouco triste, por não ter conseguido manter o 18 alcançado no 5.º grau. Era um exame, estava nervoso e a improvisação não me tinha corrido bem. Fiquei pelo 17. Disseste apenas: "Bravo, amigo. Bravo". Foram precisos passar mais 12 anos para poder voltar a ter aulas de Música. Por razões óbvias já não podias ser tu a guiar-me novamente. Quis o destino que eu ficasse novamente bem entregue. E era também isso que te queria dizer. Foi essa mesma Sandra de há 12 anos atrás que surgiu no meu caminho e que foi a minha nova professora de piano. Ela que na altura já estudava 9 (nove!!!) horas por dia. Foi como se voltasse às tuas aulas. Não é reconfortante?
Agora estou numa fase em que nem piano em casa tenho. Só mesmo ao fim-de-semana consigo arranjar algum tempo (nem sempre) para ir a casa do meu pai "acordar os dedos". Um destes dias saiu-me a sorte grande a apareceu-me este piano que podes ver na foto. Já não tinha uma noite assim há algum tempo. Desde originais, passando por Carlos Seixas e terminando em Queen ou Dire Straits, deu mesmo para matar a saudade. E lembrei-me de ti e daquela sensação de dever cumprido.
Sei que é tarde, mas... Obrigado. Do fundo.
Até já...
Rui (como carinhosamente me chamavas)
O gosto foi crescendo e a "habilidade" também, ainda que de forma mais limitada. O meu pai percebeu que teria chegado a altura de mudar de mestre. Então, mais por vontade dos meus pais do que por vontade própria (na altura) encontraram-me uma professora em S. J. da Madeira para orientar os meus estudos musicais. Chamava-se Marília Rocha e jamais a esquecerei. Sem qualquer desprimor para todos os outros mas os nomes Marília Rocha, Valdemar Noites e Ivo Brandão são aqueles que trago sempre presente, ainda que por diferentes razões, quando penso naquilo que tem sido o meu percurso musical. Pudesse eu aproximar-me um pouco do que conseguiram e conseguem ser e seria um homem realizado.
Nessa altura os meus sábados eram passados em S. J. da Madeira em casa da minha professora que tanto carinho me deu. Ficava apenas a mágoa de ter que deixar os meus amigos de sempre que se juntavam também ao sábado em "Encontros de jovens" ou outras confraternizações e eu não podia assim marcar presença. Mas acho que eles compreendiam. Devem talvez tê-lo feito até antes de mim.
Foram anos dourados no meu percurso. Os meus horizontes musicais alargaram para limites que pensava não existirem. A exigência trazia maior responsabilidade, nervosismo e inquietação; mas trazia também uma maior dose de satisfação, realização e dever cumprido. Há aulas que ficaram penduradas na minha memória até aos dias de hoje. Há uma em especial que te queria falar. Aquela em que falaste comigo como uma verdadeira amiga, como gostavas tanto de fazer. Eu atravessava uma altura de fazer escolhas e pendia, nessa altura, mais para a Matemática. Até por uma questão familiar. E tu, sem me influenciar mas porque sabias que ainda não estava completamente seguro, falaste-me da música e de tudo o que poderia vir a conseguir. Sei que é tarde, muito tarde, para te agradecer as palavras desse dia. Para agradecer o brilho que trazias nos teus olhos quando falavas. Apenas percebi tudo isso tarde demais. Mas, onde quer que estejas, sabes que estás sempre presente sempre que estou a "fazer" música, Tu sabes disso. Mesmo depois de me licenciar em Matemática voltei ao Conservatório (embora não fosse ao do Porto) onde fiz Análise e Técnicas de Composição, História da Música e Acústica Musical com notas que te deixariam bastante orgulhosa. E o mérito é muito mais teu do que meu.
Queria dizer-te que se pudesse voltar àquele dia, àquela aula e àquela nossa conversa ter-te-ia dito, sem pestanejar, que queria tirar o curso superior de piano. E não tenho dúvidas que ias conseguir realizar esse milagre em mim.
Sabes, a vida dá voltas engraçadas... Por essa altura fiz o 8.º grau de Formação Musical por exame no Conservatório do Porto com a Sandra. Éramos a tua turma de sábado à tarde. Ainda me lembro de te ligar no final, um pouco triste, por não ter conseguido manter o 18 alcançado no 5.º grau. Era um exame, estava nervoso e a improvisação não me tinha corrido bem. Fiquei pelo 17. Disseste apenas: "Bravo, amigo. Bravo". Foram precisos passar mais 12 anos para poder voltar a ter aulas de Música. Por razões óbvias já não podias ser tu a guiar-me novamente. Quis o destino que eu ficasse novamente bem entregue. E era também isso que te queria dizer. Foi essa mesma Sandra de há 12 anos atrás que surgiu no meu caminho e que foi a minha nova professora de piano. Ela que na altura já estudava 9 (nove!!!) horas por dia. Foi como se voltasse às tuas aulas. Não é reconfortante?
Agora estou numa fase em que nem piano em casa tenho. Só mesmo ao fim-de-semana consigo arranjar algum tempo (nem sempre) para ir a casa do meu pai "acordar os dedos". Um destes dias saiu-me a sorte grande a apareceu-me este piano que podes ver na foto. Já não tinha uma noite assim há algum tempo. Desde originais, passando por Carlos Seixas e terminando em Queen ou Dire Straits, deu mesmo para matar a saudade. E lembrei-me de ti e daquela sensação de dever cumprido.
Sei que é tarde, mas... Obrigado. Do fundo.
Até já...
Rui (como carinhosamente me chamavas)
1 comentários:
Olá Tio Miguel, ve se descobres quem sou! Olha esse verso para a Rita esta muito bonito =)...
Vi esse saite no msn (avioes de papel(axo))Está muito bem... Descobre quem sou..
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