N1 - Fido Dido

A música, não raras vezes, tem o dom de nos transportar para tempos e locais que outrora nos foram queridos. Neste particular, o cd que hoje partilho convosco tem o dom de me levar até aos melhores dias da minha vida. Onde nunca tive a solidão por companheira. Onde a minha sanidade mental ainda se reconhecia quando via a minha cara reflectida no espelho. Onde as preocupações eram poucas ou, pura e simplesmente, não existiam. Onde nunca me sentia sozinho, nem mesmo (ou principalmente) no meio de muita gente.
Lembro-me de apanhar o autocarro da Calçada às 8h30 em Rossas. Era Dezembro. Estávamos nas férias do Natal. Com a companhia do eterno Pedro lá partimos rumo a S. J. da Madeira onde iria gastar algum do dinheiro que havia ganho como prémio de mais uma temporada ao serviço da Banda Musical de Arouca. Comprei, nesse dia, 6 cds de música. Foram os meus primeiros cds. Pagos com o meu dinheiro. Um deles foi este "N1" que trago agora no carro para me ajudar a fazer a viagem de Arouca até Torres Vedras. Faz-me reviver tanta coisa...
Lembro-me que por essa altura a Associação de Estudantes do liceu teve a ideia pioneira de colocar umas colunas potentes junto à "capela" para dar música a toda a escola durante os intervalos. Era este o cd que mais passava. Devo isso ao meu grande amigo Freitas que já não vejo há mais de uma dezena de anos. Enfim...
Ponho o volume no máximo e deixo-me levar pelas músicas... "What's Up", "Creep", "Forever in Love", "Condemnation", "Everybody Hurts", "Go West", etc, etc, etc... Quando dou por mim estou já lavado em lágrimas a conversar com Deus e a agradecer-lhe por me ter proporcionado, em tempos, dias tão bem preenchidos.
Chego a Torres Vedras, arrumo tudo o que há para arrumar e deito finalmente o meu corpo na cama para mais uma noite de descanso. E é assim que adormeço agarrado ao travesseiro. A desejar acordar bem cedo no dia seguinte, para voltar a apanhar o autocarro da Calçada das 8h30 para S. J. da Madeira.
Por favor, digam-me que isto não acontece só comigo...
Um abraço.

3 comentários:

sara disse...

:) não... não acontece só contigo nem estás maluquinho! :)
Temos saudades de tudo que nos traz boas recordações...
E é tão bom reviver...
Bjto!!

curva dos grilos disse...

Efectivamente, isso não acontece só contigo. Também acontece comigo e com todos aqueles que gostam de viver.Por vezes é assustador como o tempo passa e fica a sensação de que eramos mais felizes há 15 anos atrás, pois não tinhamos responsabilidades, o que quer que fizessemos não parecia mal, um dia tinha mais de 24 horas, os nossos pais eram mais novos (eu ainda tinha o meu pai), saudáveis, enfim...Mas é como dizem, nada se perde nem nada se ganha, tudo se transforma.

Identifico-me completamente com o que escreves.

Um abraço

Miguel Neves

António Brandão de Pinho disse...

Não, não é só contigo... e então quando tempos que partir da terra onde crescemos e da qual tanto gostamos, o aperto de saudade pede-nos boleia logo ali aonde o torrão natal nos deixa de ser tão familiar. Mas, a esperança de conseguir recuperar e reviver tudo isso está sempre ali, ao regresso, ao passar a placa que diz Rossas, ao começar a vislumbrar o outeiro de Nossa Senhora do Campo à volta dos Carreiros...
Entretanto, vamo-nos encontrando por aqui, nestes novos "muros da escola"...
Abraço,