Miguel, onde estás?


Às vezes penso que as coisas poderiam ser diferentes. Outras vezes não e aceito-as assim como são de forma mais natural.
Às vezes apetece-me ir mais longe. Outras vezes não e fico parado neste meu canto onde ninguém dá por mim.
Às vezes quero fazer de mim algo diferente. Outras vezes não e deixo-me estar para não me perturbar.
Às vezes, ao olhar as muitas fotos que trago cá por casa, dou comigo a pensar se seria possível voltar a fazer certas coisas. Sinto a minha força a faltar. Já não consigo mobilizar e mobilizar-me como em tempos o fazia em apenas uma fracção de segundo.
Costumo dizer (na brincadeira mas muito a sério!!!) que sou o rapaz de 33 anos mais velho do mundo. Com tudo o que fui atirando para cima dos meus ombros juntamente com tudo aquilo que conseguiste lá colocar, terei já talvez ultrapassado os 70 quase mesmo sem dar por isso.
Ao longo de todo este tempo convivi com um número interminável de bons amigos de quem tenho muitas saudades. E o problema é esse... Aos 33 anos não se deveria ter saudades dos amigos. Pelo contrário: deveria estar-se com eles!!!
Abracei-os na hora da chegada mas já não tenho presente a hora da partida. Foram desaparecendo assim de mansinho como quem olha o pôr-do-sol em silêncio. Dizem-me que a vida é mesmo assim mas eu acho que não estava preparado para isso. Pelo menos não desta forma.
Hoje, e tirando raríssimas excepções, penso não estar a exagerar ao dizer que estar com alguns amigos é, para mim, sinónimo de estar em alguma reunião ou em algum ensaio de alguma coisa. Nunca apenas pelo prazer de estar.
É por isso que sinto saudades. Já não sei o que é ir cantar os Reis e poder fazer maroteiras enquanto os outros estão entretidos no jantar. Já não sei o que é dar uns chutos numa bola ao final da tarde. Já não sei o que é participar numa festa de Natal ou nalgum espectáculo sem ter que me preocupar com o que vamos ensaiar e avisar todas as pessoas. Já não sei o que é ir ao cinema ou, pura e simplesmente, jogar uma "bisca dos nove" ao sol, na varanda.
Antes combinávamos coisas e tínhamos prazer nisso. Não sei...
Não estava preparado para isto.
Acho que preciso de outro dia como o da foto em que segui à risca o teu conselho de me pôr a jeito. Então fui com a Odete até à praia para ler o teu texto sobre o pôr-do-sol. Dos melhores dias da minha vida.
A propósito: hoje voltas a "revolver-me as entranhas" com as tuas palavras para o Fábio. Serviram também para mim. Mesmo sendo eu o rapaz mais velho de todos os que nasceram em 1976. Ou talvez por isso mesmo...
Andava à minha procura e sinto que fiquei mais perto de me encontrar.

Até breve.

1 comentários:

sara disse...

Bem... eu ainda continuo por aqui... :), aqui, entenda-se, contigo...
E vou dizer-te aquilo que sinto aos (quase) 35. Sinto que já passou por mim muito daquilo que referes. Também já procurei por mim e tive saudades do que fiz e do que fui... E para me encontrar tive que definir prioridades. Depois de tanto(s) que já perdi, (e que não foram apenas desaparecendo) entendi que prioritário é estar com aqueles que amo, dar-me... e esperar um abraço em vez de aplausos. É rir, dar e pedir carinho, ouvir mesmo que não me diga muito... ainda que uns minutos por dia, mas sempre todo o tempo possivel...
São esses momentos e essas imagens a "paisagem" que quero "saborear"...
E valeu a pena... sinto-me feliz!
Há alturas em que a vida nos obriga correr, e nem tudo é como queremos ou imaginamos... Também sei que é difícil estarmos longe daqueles que amamos...e aí a solidão vem mais intensa... Espero sinceramente que "te encontres" e que descubras a melhor forma de ser feliz...
Um grande, grande abraço!