Stand by me...

* Porque na viagem de casa para a escola, a rádio deu-me “Stand by Me”…

(Algures em 2002, nos meus 7,5 metros quadrados de casa, na cidade do Porto…)

O tecto ainda tem aquelas manchas mais escuras. Hoje, como ontem… E o odor característico deste quarto minúsculo a que me habituei a chamar casa, a princípio, parecia incomodar. Agora, não passo sem ele… Pelo menos de segunda a sexta!!! A televisão, já bastante gasta pelo tempo, oferece-me as imagens num tom esverdeado ao qual me habituei e até aprendi a gostar. Acho que isso a torna mais nossa, não achas?!!! E digo “nossa” porque hoje voltaste a estar aqui. Porque voltei a ter-te aqui Miguel.
E comecei mais esta viagem ao som da música que também emprestava o nome ao filme: “Stand by me”. Comecei a deixar-me levar pelas primeiras imagens enquanto cantarolava a melodia. A televisão mostrava, em bom português, o simpático título: “Conta comigo”. Fui mergulhando naquela história baseada numa obra de Stephen King e que contava uma grande aventura de quatro pequenos adolescentes. E fui-me deixando tocar por toda aquela amizade. E voltei a ter-te aqui Miguel. Já não a ver aquelas manchas inimitáveis no tecto mas antes a sentir o cheiro das muitas pequeninas aventuras vividas com o Pedro, o Tono e o Sérgio. Por instantes voltei a sentir o cheiro daquela erva que calcávamos quando íamos ao musgo para fazermos o presépio na igreja. E voltei a ouvir os vossos risos quando, devido a um erro de cálculo, molhei os pés no pequeno rio que nos lava a freguesia. E voltei a sentir o cheiro da tua sala quando nos juntámos em tua casa os quatro a jogar Speedball e em que o Sérgio melhorava as suas prestações sempre que a tua aparelhagem entoava o “How do you do” dos Roxette. E, enquanto no filme, os quatro adolescentes iam procurando um corpo, nós íamos voltando a fazer o caminho de regresso de mais um ensaio do grupo coral num final de manhã de mais um domingo solarengo. E voltei a ver a avó do Tono no campo do costume com aquele sorriso de uma ternura difícil de igualar…Acho que, no fundo, ela sempre soube que éramos os quatro boas pessoas… E voltei a abraçar-vos depois de marcar mais um golo naqueles nossos mini-jogos no mini-recinto da escola primária em que fazíamos inúmeros intervalos para irmos beber água ao fontanário. E voltei a sentir o sabor do churrasco que assámos no recreio da escola, a altas horas da manhã, quando decidimos passar lá a noite em claro apenas porque a amizade é mesmo assim… E voltei a sentar-me no autocarro contigo para ir a S.. J. da Madeira comprar mais alguns jogos para o nosso Commodore Amiga 500 onde já tratávamos as duas funcionárias por “tu”. E parece que foi agora mesmo, há um segundo atrás, que larguei da mão mais uma malha, numa daquelas nossas tardes de domingo em que também dávamos infinitas voltas de bicicleta à escola… E como é bom voltar a saborear aquelas árvores onde nos empoleirámos tantas vezes a jogar às escondidas… Já para não falar nas enormes histórias que criávamos ao jogar à “correiada”… E mais, e mais, e mais…
A frase que o Richard Dreyffus diz no final do filme fez-me sentir, ainda mais, tudo isso aqui mesmo “ao pé”. À distância que estão as coisas presentes. E chorei, chorei, chorei… Porque me dei conta de como sou muito feliz. Porque é também assim que se faz a felicidade!!!
É, também por isso, que escrevo que, embora apenas se diga isso do “pretérito”, também o “presente” se pode dizer, muitas vezes, de “perfeito”. Porque todos esses momentos, para mim, nunca serão “pretérito”. Nunca.
E agora deixa-me voltar a olhar o tecto…
“Conta comigo”.

1 comentários:

sara disse...

"...A vida é um contínuo desenrolar de laços de Amor..." Estes permanecem no Tempo e permitem-nos, quando a isso também nos permitimos, continuar a ter presentes as imagens, os odores, os sorrisos, as lágrimas... :)
Que bom que estás de regresso! :) ... é que "conto contigo!! " :)