JMJ 1997 - Paris


Carta aberta aos amigos que participaram comigo nas JMJ de Paris - 1997

Em agosto de 1997 participei nas Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) que se realizaram em Paris. Foram 10 dias em que me desprendi de tudo o que conhecia para ir ao encontro de Deus. O que é mais intrigante é que o fiz praticamente na companhia de gente que não conhecia. Foi com eles que vivi 10 dos melhores dias da minha vida. O coração parecia arder-me por dentro, de tal forma que, cada vez que recordo, ele parece ainda estar em brasa.
Esta semana resolvi levar tudo mais longe e desatei a procurar o que ainda tivesse guardado e que me pudesse transportar para esses dias. Chorei muito, acreditem. Tudo o que encontrei ajudou a avivar o que trazia na memória e, sobretudo, no coração. O padre Misael hoje, na homilia, chamou-lhe Kairós: aquele momento em que damos de caras com Deus. Esta semana deixei que Ele me levasse pela mão e o resultado está nestas linhas.
Quando os meus pais me deram a permissão para ir às JMJ sabia apenas que teria o Tono (o meu melhor amigo, grande Rambo) e o Nuno como companheiros de jornada. Depressa se juntaram alguns aventureiros de Arouca que passaria a conhecer melhor nesses 10 dias. Se a memória não me atraiçoa éramos 13: o padre Nuno, eu, o Tono, o Nuno, a Xani, a Cláudia, o João, o Francisco, o Luís, a Márcia, o Fernando, a Goreti e a Isabel.
Antes de seguirmos em direção a Paris era necessária uma paragem mais a sul de França numa cidade chamada Agen. Por aí estivemos 4 ou 5 dias em que cada um dormiu numa família que lhe calhou em sorte. Nunca falei tanto francês na minha vida. À minha espera estava uma família linda, cheia de bondade, a quem nunca conseguirei agradecer o tanto que me deram em tão pouco tempo. Felizmente, o meu "francês" não era muito enferrujado e conseguíamos comunicar. Como jackpot, o facto de terem um piano em casa, embora pouco lhe tenha tocado pois parava lá pouco tempo. Felizmente, tínhamos o tempo bem organizado e preenchido com muitas atividades. E há tantas histórias que merecem ser eternizadas. Espero estar à altura...
Quem caiu logo no "goto" de toda a malta foi o Fernando que, nas palavras dele, de francês, só sabia dizer "je" e "oui". O que nós nos ríamos. Ele bem tentava mas só lhe saía "oh la la" e "tinonite". De tal forma que passamos apenas a chamá-lo assim durante todas as JMJ. A primeira noite foi a tal em que fomos lançados às feras, individualmente. No dia seguinte, todos queriam contar as suas peripécias de como se tinham saído a falar francês. Ainda ouço a gargalhada que soltei quando o Fernando contava que ao explicar à sua família que fazia jazigos eles ficaram a pensar que o pai dele tinha morrido. Delicioso. Lembro-me também do Nuno dizer que morava com o "vinte e cinco". Na realidade, chamava-se Vincent mas, como era parecido com vingt-cinq...
Numa das manhãs, Fernando, trouxeste duas bicicletas e fomos dar uma volta. Parámos depois na tua família e o teu "pai" deu-nos um aperitivo que eu queria beber mesmo antes de se juntar água.Ai se não eras tu, lembras-te? Tivemos uma festa nessa noite e o teu "pai" só te dizia com aquele sotaque francês impecável: "Ó Fernandô, tu estás fodidô"... Ahahah! Mas olha que eu não estava muito melhor. Eles nem sequer deixavam tocar em água. Foi aí que conhecemos a Nini, quando já vínhamos embora. Vimos que era portuguesa pela camisola. Estava um bocadinho deslocada e tentámos animá-la logo ali. Foi assim que no dia seguinte já tínhamos uma nova amiga na viagem de autocarro e que trazia também a irmã: a Milu. Um jackpot. Gente boa e que nos fez ser maiores quando pensávamos que o limite já há muito estava ultrapassado.
Fomos visitar uma espécie de cave onde ofereciam um vinho no final. Repetimos várias vezes. Ainda estou a ver o padre Nuno a dizer ao garçon que o servia: "isto é a pior coisinha que vocês têm aí, não é?!" e ele, sem perceber nada, lá respondia: "Oui, oui"! E nós sempre a rir. Ahahah.
Lembro ainda o Jean a quem, em jeito de brincadeira, ensinámos as palavras-chave: obrigado, sim, não, c@r@lh&, filh@ da p&&& e Son-go-ku.
Um dos momentos altos foi a criação dos "MAMAR: Movimento dos Animais do Mar" que teve direito a hino e tudo. Os dois primeiros versos foram da autoria do Tono (grande Rambo) usando a música do Dragonball. O resto ficou por minha conta...

Animais do Mar
Bolas de Berlim
Apalpam as gajas
E elas a mim

Animais do Mar
Sempre a mamar
Mesmo que digam
Que estás-me a estorvar

Animais do Mar
Nas suas lambretas
Andam sem mãos
Para as pôr na tetas

Animas do Mar
Só podem ser
Já estão na cama
Prontos para o amanhecer

Depois haveríamos de seguir para Paris onde tantas outras histórias haverá para contar. A começar pelas cerca de 15 torneiras que tinha para o banho e que demorámos aí um quarto de hora para saber como se ligava... Ahahah! Lembras-te, Francisco?! Tenho saudades de nos juntarmos aos grupos de seis com senhas para comermos a fantástica ração de combate.
Foi a primeira vez que vi a Torre Eiffel. Dizia "J-865 avant 2000".
Tenho saudades das canções que aprendi e que cantávamos no metro, por exemplo.
Quem não se lembra de estar a "assar sardinhas" e do Tico-tico (grande Jorge com a viola. Ainda tentei encontrá-lo pela net mas sem sucesso) ou do Vitó que tinha uma gaita. Já para não falar no "Et ils sont, et ils sont, et ils sont phénoménaux".
Lembro-me de andar na Roda Gigante quando ninguém acreditava e do Nuno ser expulso do Louvre por ter ido para a água. Levaram-no por uma porta e ele entrou por outra. Excelente.
Lembro-me das canções brasileiras cantadas pelo padre Nuno. Algumas foram aproveitadas para cantarmos em coro como o "Tum, tum, tum, bateu" ou a "Maria" e a "Romaria" da Elis Regina. E que delícia eram os fados do padre Pedro.
Num dos dias em Paris tivemos uma festa à noite onde me "estraguei" todo (para variar). Foi quando fizeram um jogo em que tínhamos de cantar sempre que nos tocavam nas costas. Fiquei em terceiro lugar mas dei alto show. De tal forma que mesmo não tendo ganho, no dia seguinte todos me davam os parabéns.
Lembro ainda com muita saudade a Alice, a nossa guia em Paris. De uma bondade difícil de igualar.
Francisco, lembras-te de termos "pedido emprestado" uma fotografia de uma rapariga na casa onde dormimos só para dizermos aos nossos colegas que tínhamos "engatado" uma rapariga?!... Ahahah! Inolvidável.
No meio de tanta brincadeira houve lugar para muitos momentos de partilha, de amizade, de encontro, de ressurreição. Ficaram na minha memória as conversas com a Nini e a Milu (muitas saudades) de quem recebi duas cartas já depois das JMJ terem terminado. Sim, ainda tenho tudo bem guardado numa daquelas gavetas em que só eu estou autorizado a mexer.
No Longchamp foi o êxtase. Lembram-se de gritarmos por Timor quando o Papa João Paulo II chamou por Portugal?
Depois... Bem, depois o tempo estava a chegar ao fim. A frase "infelizmente amanhã temos que ir embora" ainda hoje rasga cá por dentro.
Guardo muitas destas memórias no pequeno diário verde que escrevi nesses dias. Assim é mais fácil transportá-las na memória e no coração.
Foram 10 dos melhores dias da minha vida. Obrigado a todos.
Para quando um reencontro?

Miguel Brandão
(um verdadeiro Animal do Mar)


"Há dias que são mais dias que os outros porque os enchemos de paz e alegria".

1 comentários:

Sofia disse...

Lembro-me de tudo, os 10 dias que ficaram marcados para sempre.... Obrigada