Máquina do Tempo



Hoje é dia de partilhar mais umas quantas memórias. De forma diferente.
Há algum tempo atrás uma feliz casualidade levou-me até S. J. da Madeira onde demorei cerca de um quarto de hora a resolver algo que julgava ocupar-me toda a manhã. Com um par de horas pela frente resolvi satisfazer um desejo antigo e voltei a fazer caminhos e a olhar sítios cujas imagens gravadas em mim, em alguns casos, ultrapassavam os quinze anos.
Na primeira imagem que vos deixo pode ver-se a rua onde moravas por trás da igreja e onde todos os sábados eu passava. Voltei a fazê-lo. Mesmo passados todos estes anos continuou a aparecer aquele formigueiro nas pernas como se o meu destino continuasse a ser uma das tuas queridas aulas de piano. Em pouco mais de cem metros foram outras tantas as memórias que me invadiram a mente e que iam ficando mais nítidas à medida que me ia aproximando do portão da tua casa. Hoje, como há vinte anos atrás, vejo o sorriso da tua empregada, a tua irmã Rosália a deambular pela casa e ouço o teu "Adeus Rui" acompanhado com um aceno bem largo aquando da minha chegada. E parece que tudo ainda acontece...
Por momentos volto à realidade devido ao olhar curioso de um mecânico que se fixa na minha máquina fotográfica e me faz lembrar que o tempo passou. Enquanto eternizo a tua casa em dezenas de fotos tiradas da estrada uma senhora de idade pousa o saco das compras tentando perceber o que faço.
Pouco depois dou comigo a percorrer os jazigos do cemitério, um a um... Aquele telefonema da Sílvia não me sai da cabeça. Lembro-me que nesse dia, depois de pousar o telefone, agarrei-me ao livro das sonatas de Carlos Seixas a chorar compulsivamente. Encontrei-te. Durante meia hora fico a olhar-te, a lembrar-te e a chorar-te enquanto duas senhoras trocam sussurros apontando para mim.
A cidade está diferente. Os lugares são os mesmos mas já não são iguais. Há rotundas nos lugares dos semáforos. Vendem seguros e viagens onde antes vendiam roupa. O quiosque onde comprava a gazeta já não existe e os bancos onde antes conversava com a Sílvia e a Célia aos sábados de manhã deram lugar a uma gigantesca escada rolante. O Centro Comercial América é uma espécie de aglomerado de lojas vazias. A loja onde comprei os meus primeiros cds "morreu" e o salão de máquinas arcade onde algumas vezes joguei "toki" também desapareceu. Um pouco mais acima o Centro Comercial Santo António não passa de uma lembrança e a Epc Informática onde comprei grande parte dos meus jogos para Commodore Amiga é agora um espaço destinado a um fim bem diferente. Hoje fiquei por lá uns dez minutos a olhar através da montra e a imaginar o movimento de outrora. O letreiro "passa-se" da montra ao lado lembra-me que já não estás ao meu lado a apontar um qualquer jogo mais apelativo e dou-me conta que o melhor talvez seja mesmo regressar ao local de estacionamento. Enquanto não chego ao carro tento disfarçar algumas lágrimas para dispersar alguns olhares curiosos de pessoas estranhas. Pelo caminho encontro o amigo Beto a consertar um passeio e aproveito essa conversa para fazer uma espécie de "passagem suave" de volta ao presente.
De regresso a casa como que me despeço dessas imagens com um último olhar através do espelho retrovisor e desligo a máquina do tempo.
Foi muito bom mas soube a pouco. Muito pouco.
Voltarei outro dia. Com mais tempo.
Até sempre.

Miguel

2 comentários:

Parisiense disse...

Essa tua viagem a S.João fez-me lembrar a minha a Angola....boas recordações que nem o tempo as faz apagar.....mas resta sempre a tristesa do que já foi e não é mais, porque a vida continua e o rumo dela também mudou.
Também eu tenho muitas recordações de S.João da Madeira onde estudei durante 2 aninhos.
Beijokitas priminho.

sílvia disse...

É engraçado como uma simples aula de piano aos sabados de manhã nos mudou a vida .... e nos leva fazer a mesma coisa: volta e meia lá passo eu tambem por lá.....