Cá estou eu de regresso a este "Avião de Papel" com um post um pouco parecido com o anterior pois também dá papel de destaque às míticas chiclas Gorila. Por outro lado, um post um pouco diferente em termos de memórias, pessoas e momentos. As primeiras, embora igualmente queridas, são bastante mais antigas. As pessoas, por razões óbvias, são mais pequeninas. Os momentos, esses, são similarmente inesquecíveis.
De todas as colecções que fiz (e foram bastantes) esta é a mais marcante. Aquela pela qual tenho uma maior ternura. Esta é "a" colecção. E há uma razão especial para isso. Desde muito pequenino que estou familiarizado com a expressão "fazer colecção". Por essa altura o meu irmão era o meu maior ídolo e possuía uma gaveta lá em casa a que chamávamos carinhosamente a "gaveta das cadernetas". Penso que o nome diz tudo. Embora a grande maioria fosse dedicada ao futebol havia por lá uma grande variedade e quantidade de colecções. E foi assim que o vício se foi instalando: com a cumplicidade do meu irmão. Desde muito cedo eu tentava fazer trocas na escola primária para conseguir alguns cromos lá para as colecções que o meu irmão tanto queria completar. E como ele tinha todas aquelas cadernetas tão estimadas e arrumadinhas... De tal forma que, quando não estava em casa, eu tinha de pedir à minha mãe permissão para poder ir à "gaveta das cadernetas" apenas para ficar a contemplar aquele pequeno paraíso. E é desta forma que esta colecção de aviões ganha o seu lugar na História. Porque além de ser uma colecção de grande qualidade e além de ter mais de 800 cromos diferentes, foi a primeira colecção que fiz sem que estivesse a coleccionar cromos para o meu irmão. Esta era a minha colecção. E isso tem a sua importância. Pelo menos para mim...
Lembro-me que o meu primeiro contacto com um cromo destes aviões foi dentro da escola à porta da sala do meu pai, mesmo ao cimo das escadas, quando o Carlos "Coveiro" me deu a novidade da nova colecção que estava a começar e me mostrou ali mesmo o n.º 119. Não descansei enquanto ele não mo deu. Mesmo assim não foi fácil de convencer pelo que o primeiro cromo que consegui angariar foi o que me haveria de sair em sorte numa chicla que consegui cravar a um dos meus amigos. Era o n.º 8 e tinha a forma de um balão. No papelinho vinha o título: "Pioneiros (Aeronáutica)". Isto prometia...
Sei que a febre das chiclas Gorila haveria de durar por muito tempo. E o quão difícil era ampliar a colecção pois a minha mãe não deixava comprar chiclas pois dizia que eram "perigosas". Imaginem que só me deixava comprar rebuçados!
A "época alta" para aumentar a colecção acontecia aquando das Festas de Nossa Senhora do Campo em que parecia um doido a percorrer as ruas da festa vezes sem conta sempre de olhos postos no chão a apanhar tudo o que fosse invólucros de chiclas Gorila na esperança que tivesse pertencido a algum adulto que não ligasse nada a essas coisas. Conseguíamos juntar vários "maços" de cromos.
Como se pode ver na foto que vos deixo (se clicarem nela verão que aumenta substancialmente) a certa altura surgiu o desafio de juntar todos os aviões pertencentes à II Guerra Mundial. Foi a maior asneira que fiz na vida. Lembro-me que me faltavam apenas 3 cromos para conseguir tal façanha. Mesmo assim, na esperança de que os manda-chuva da Gorila não dessem conta, enviei tudo direitinho e passados uns dias recebi o meu álbum ilustrado com todos os aviões da II Guerra Mundial. Uma autêntica desilusão. Lembro-me de pensar: "Ai o álbum é isto?! Quero os meus cromos de volta!!!". Infelizmente já era tarde demais para reparar o erro. A desilusão foi tal que acabei por oferecer o álbum ao meu primo Ilídio que era um dos meus companheiros nessas andanças.
Hoje sobram algumas boas lembranças e todos os pequenos cromos que consegui juntar na altura. São bastantes mas sinto que a colecção está coxa. Contam-se apenas pelos dedos das mãos os aviões da II Guerra Mundial que resistiram ao passar dos anos. E tudo por causa de querer aquele maldito álbum...
Passaram quase 30 anos. À medida que vou passando os cromos um a um pelas minhas mãos sinto vários rostos cruzar comigo. Os cromos cheiram ainda a morango, banana ou até mesmo a poeira e alcatrão. E há alguns onde me demoro um pouco mais. Apertam mais na saudade. São precisamente aqueles que cheiram a Eduardo, Ilídio, Tono, Sérgio, Paulo Daniel, Pedro Vieira, Neca, Michel, sei lá...
E pensar que para lhes dar um abraço nem preciso de sair de casa. À sua maneira estão todos ali dentro, enfiados na minha "gaveta das cadernetas"...
6 comentários:
Boas! Ao ler os teus post's senti necessidade de deixar um comentário sobre as famosas chiclas gorila:)
(culpadas de eu me apelidar de Chiclas)....
No café lanterna que ficava por baixo da casa da minha tia Alzira e o tio Manel, mãe e pai de Odete que tu bem conheces, vendia se as Chiclas gorila que eu tanto adorava.
Nunca fui muito de colecções mas lembro me vagamente dos papelitos(cromos) que elas traziam, eu andava sempre com uma meia duzia no bolso, antes de ir pra escola passava pela caixa de chiclas e enchia os bolsos pra andar a mascar o dia todo e dar aos meus amigos... lol... daí vem o Chiclas...
Boas recordações Um Abraço
Oi,
Sera que conseguias scannar os avioezinhos numa imagem com maior resolucao? estou a tentar reconstruir a coleccao outra vez (perdi-a 'a muito tempo)...
Assim depois eu extraia individualmente ccada aviao e as caracteristicas ficavam legiveis :)
Thanks again,
Gizmo (gramps.gramps@gmail.com)
a colecção foi relançada pela gorila com as novas pastilhas negras chamadas de vintage. podes retomar a colecção como eu. boa sorte
eu lembro-me bem dessa coleção e de uma expressão q me ficou a martelar na cabeça q era; "entre duas guerras"; referia-se obviamnete ao período entre a I e a II guerras mundiais...essas chiclas eram veneno puro e duro...muita gente hoje deve andar desdentada graças a elas...lol
miguel do farreiro
Amigo Miguel...
Esta colecção faz-me lembrar os tempos de ouro da escola primária onde partilhei a sala com dois dos melhores amigos dessa altura: o Eduardo e o teu irmão.
Para além disso traz também à memória os treinos "das corridas" ao fim da tarde quando a Adélia do Trigal era a treinadora e vinham amigos da Portela, das Senras, das Silveiras, de Zendo, da Barroca e tantas foram as brincadeiras, alumas tão originais...
Um dia destes partilho algumas dessas boas memórias =)
Amigos, esses papelinhos trazem tantas saudades que até nos dias de hoje sinto necessidade de juntar mais alguns...em memória dos velhos tempos.
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