"Das crianças" (Porque a Rita fez 2 anos)

Olá Rita.
Foi no sábado passado que fizeste 2 anos e só hoje te consigo escrever estas pequeninas linhas.
Espero que me perdoes mas hoje não me vou alongar muito. Não consigo. E é por isso que não te vou falar dos abraços fortes que te tenho dado nestes dias bem antes de adormeceres. Nem tão pouco te vou dizer a que sabem aqueles momentos em que roubas o pano da louça, meia dúzia de latas de conserva e ficas a "pôr a mesa" na tua mesa dos brinquedos. Acabas, pegas numa lata e, já virada para mim, lá dizes: "Queres papar, pai? Queres?"
Também não me posso demorar a falar de todas as nossas brincadeiras sobre o "pouco ou muito" e o famoso "A Rita vai esconder". É das minhas brincadeiras favoritas, sobretudo por realçar da forma mais carinhosa que pode haver o timbre grave que imprimes ao teu riso mais ou menos descontrolado.
Se tivesse tempo, claro que podia ainda falar das vezes em que queres tocar no piano do pai e que me deixam deliciado a ouvir. Ou de quando te lembras de contar praticamente até vinte quase sem te enganares. Delicioso.
Sabes, o tempo não é mesmo muito e não posso ficar aqui contigo o quanto gostaria. Mas acho que ainda te consigo dizer que eu e a mamã gostamos muito de ti. E é também por isso que te vamos trazer lá para Setembro um bebé a sério para brincar contigo.
Sabes, eu e a mamã nunca te vamos conseguir agradecer o quanto nos tens trazido. Embora de outra forma, também nós temos voltado a ser pequeninos com tudo o que isso implica de bom. Muito bom. Tenho chorado muitas vezes e, acredita, isso é o melhor que me poderia estar a acontecer.
A melhor forma que hoje encontro para te dizer obrigado é deixar-te com a última estrofe do poema "Das crianças" de Isa Mallof:

" (...)
As crianças olham as coisas
Como se não percebessem nada do que vêem
E têm com elas uma intimidade digital.
Eis a essência e também o Graal.
Mas o melhor da infância foi que eu era imortal."


Encontramo-nos daqui a pouco quando acordares do teu sono tranquilo a chamar por mim.
Um beijo do teu pai.

Miguel

5 comentários:

Catarina Pinho disse...

Nem sei bem o que te diga Miguel. Fiquei sem palavras com este teu texto maravilhoso. Tanto sentimento, tanta verdade, tanto encanto... Não te vou dizer o quanto gostei, pois ainda não foram inventadas as palavras para o descrever, apenas te digo: "Meu Deus!"

Ainda há quem diga que não há sentimentos verdadeiros, mas o de ser pai e o de ser filho (que nunca chega a metade, mas também é importante), são os sentimentos mais puros e verdadeiros que se podem ter. Sem zangas, sem traições, sem rasteiras, apenas com carinho e tudo o que há de bom.

Estou maravilhada com estas linhas, e um dia, se eu for mãe, vou concerteza lembrar-me destas palavras e tentar seguir-lhe o exemplo.

sara disse...

Quanta ternura!!!
Que papá babado : )
É o coração que se enche e quase salta do peito quando pensamos em tudo aquilo que um filho nos faz sentir!
Fico muito feliz por te saber feliz... Fico muito feliz pela Rita e pelo bebé que vem a caminho, pois sei que serão crianças que terão a oportunidade de crescerem rodeadas de afecto e de valores.
Parabéns papá e mamã : )
E um grande Xi-coração de parabens à Rita!

emilia vilar disse...

Estou amravilhada , com tanta ternura, tanta doçura, tanta maravilha, quem me dera ter agora tb um papá para o poder ouvir todos os dias e ser capaz tb de conseguir ser a mamã maravilhosa a esse ponto.... Bem-haja quem tanto tem para dar, obrigada, e as crianças gradecemmmmmm

Anónimo disse...

Bem Miguel, estas palavras mostram tanto de ti, da Odete e da Rita...já vos disse algumas vezes que vos admiro muito e depois, ao ler estes textos que aqui escreves fico maravilhada porque se percebe ainda mais a vossa relacção, a vossa cumplicidade, todo esse sentimento que é tão verdadeiro, tão único...tão vosso!

A Catarina tem toda a razão naquilo que diz, estes sentimentos que transparecem das tuas palavras são tão verdadeiros e puros porque na verdade reflectem o tanto que estas relacções significam, o quanto amas a Ritinha e a Odete...e é tão bom poder abrir o computador e entrar neste teu mundo e deliciar-me a ler estes textos maravilhosos...Ser-se pai ou mãe deve ser sem dúvida alguma das melhores coisas do mundo, "damos" tanto de nós, mas aquilo que "recebemos" é tão bom, tão maravilhoso...cada passo que aqueles seres maravilhosos que são as crianças dão, são uma vitória para "nós"!

Como diz a Catarina, se um dia eu for mãe certamente me vou lembrar destas palavras que aqui escreves e que mostram tanto!

Parabéns Miguel! E obrigado a ti e à Odete por serem as fantásticas pessoas que são! :)

Susana Almeida

curva dos grilos disse...

É sem dúvida um bonito texto. Sentido e bem escrito, de resto, como todos os outros com que nos presenteias.
Felizmente, também conheço esse sentimento...