
No dia seguinte, muito envergonhado, lá entrei na sala de ensaio. Lembro-me de todos estarem curiosos para ver como se saía o "caloiro". Talvez por isso quando chegou a minha vez o silêncio na sala tenha sido sepulcral. Pois bem... A minha prestação acabaria por ser imaculada, sem qualquer engano e num andamento rápido demais para as habituais performances aí realizadas. A plateia tinha ficado convencida. "Este rapaz vai dar bom"... Uma profecia que, embora tarde, acredito que ainda seja alcançada.
E foram tantos os rostos que fizeram esses dias. Pena serem poucos os que ainda por lá andam. Mas os caminhos da vida são mesmo assim e acredito que todos eles ainda recordam com saudade esses tempos de ouro em que o Valdemar ainda tinha um renault 5 preto e o Neco vinha dar as aulas de bicicleta... Não me atrevo a enumerar os nomes pois iria certamente esquecer alguns. Um ano depois o Valdemar achou que eu já estava à altura de experimentar um instrumento. Sempre me aconselhou o bombardino. "Tu tens cara de bombardino", dizia ele. E eu só me ria. O que eu queria era um instrumento. Acabei por ficar com uma requinta, mais por influência do meu tio do que por vontade própria. Mesmo depois de já estar com a requinta, numa das aulas voltei a experimentar o bombardino. Tive o azar de nesse dia não conseguir tirar o dó grave. Ainda hoje o Valdemar pensa que fiz de propósito para ficar com a requinta. Não o censuro por isso. Mas foi apenas uma estranha coincidência. O que eu queria era levar um instrumento para casa. E até gostava bastante do bombardino. Paciência...
E porque vos venho falar hoje destas coisas?
Porque ontem, passados mais de vinte anos, entrei pela primeira vez na casa de ensaio da banda como professor de solfejo. A partir de agora serão outras as caras e serei eu a ensinar a contornar todas as pequenas armadilhas que o Fernand Fontaine deixou plantadas nos mais de 200 exercícios que o seu livro contém.
A História é feita de pessoas mas, o que me toca profundamente, é reparar (principalmente no que a mim diz respeito) que as pessoas também são feitas de História...
Um abraço.
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