O Pedro e eu...

Poderia cair na fácil tentação de dizer que falar do Pedro é difícil. Porque haveria sempre muito de bom a dizer. Mas essa é a razão que encontro para dizer exactamente o contrário. É bastante fácil falar do Pedro. Talvez o difícil seja dizer tudo, isso sim. Mas nunca será esse o meu propósito. Porque de um amigo como o Pedro, mesmo que me fosse possível, nunca diria tudo. Assim, à semelhança do que fazia Scheherazade para não perecer às mãos do Rei nas histórias das 1001 noites, também eu deixo aqui esta espécie de texto sempre inacabado...
As primeiras recordações que hoje me aparecem são de um tempo em que, ingenuamente, tinha por Arouca o mundo inteiro. Tínhamos ido ao ciclo para vermos as turmas juntamente com o Rui da Portela e o Tono (que acabou por ir mais tarde pois perdeu a camioneta). Estivemos na parte de trás onde tantas e tantas vezes joguei às "31 janeiras" e o Rui lembrou-se de se deitar na rede que já estava toda torta e gasta pelo tempo. Quando vínhamos embora lá ouvimos aquele barulho característico e ao olharmos para trás só me recordo de ver o Rui com o bolso das calças na mão e dizer: "C&%$&%, já me f%&$". Rimo-nos tanto, lembras-te? De tal forma que quando o Tono chegou queríamos-lhe contar e nem conseguíamos... Demais.
Também me lembro dos ensaios de teatro na garagem do Sr. Ferraz em que acompanhávamos as nossas mães e aproveitávamos para brincar. E os ensaios do Orfeão de Rossas onde começámos desde pequeninos.
Também me lembro das tardes que passávamos na serra durante as férias em que íamos no Toyota Corolla do meu pai com o meu irmão a conduzir ou na carrinha de caixa aberta do Sr. Isaías que o Carlos conduzia...
Outro episódio que recordo com um carinho especial é estar à porta do Café Lanterna à espera que chegasses com o teu pai para irmos para os ensaios da Banda à noite. Fecho os olhos e vejo-me a abrir a porta da 4L do teu pai, entrar e ainda pareço ouvir o teu pai a dizer: "Ai que requintinha nós temos... tarari tarari tararira tararirarirarirarirara". Ele dizia isso sempre que eu entrava. Todas as vezes. E nós ríamo-nos sempre. Dá uma saudade...
E quando nos juntávamos em casa da Sara num sábado à noite para ver um filme? Tenho saudades dessa malta...
Também me lembro que fomos os dois com o meu irmão, uma tarde, de propósito ao Porto, ao cinema Charlot apenas para ver o "Aonde é que pára a Polícia 33 1/3". Ou de quando fui fazer a Prova Específica de Matemática e tu foste comigo a Aveiro apenas pelo prazer de ir...
Podia ainda falar das inúmeras tardes e noites passadas a jogar Commodore Amiga que, ainda hoje, recordo até ao mais pequenino pormenor. Ou de quando compraste a tua bicicleta e chegaste com ela pela primeira vez à escola. Ou das nossas futeboladas, correiadas, escondidas, e todas as brincadeiras possíveis e imaginárias passadas no recinto da escola quando este, felizmente, ainda não tinha grades que nos pudessem deter. Ou os tempos passados no liceu em que, mesmo não sendo da mesma turma, passávamos grande parte do tempo juntos. Lembro-me, em particular, de um certo dia em que resolvemos fazer uma brincadeira com uma maçã: tu, de um lado do corredor e eu do outro. Quando passava uma rapariga lá atirávamos a maçã de um lado para o outro. Enfim... Isto para não falar nas infinitas vezes que fomos para o Cheiro Verde jogar bilhar (ai se a minha mãe sabia) onde me ganhavas quase sempre...
Podia ainda falar nos vários festivais em que participámos juntos ou nos ensaios da Banda às 18h em que o meu pai é que nos ia buscar. Ou à noite quando íamos para a cabine telefónica dar o sinal ao meu pai para nos vir buscar e depois fazíamos algumas chamadas a brincar: "Está?... Está..." É melhor nem continuar...
E aqueles ensaios do grupo coral ao domingo de manhã em que as nossas irmãs é que ensaiavam? Muitas vezes, no final, ainda passávamos pela Barroca para comprar o jornal e ver as análises a mais alguns jogos do Amiga...
Também me lembro de quando íamos ao centro comercial ver os filmes do clube de vídeo. Fazíamos isso praticamente todos os dias. E de quando trazias o teu vídeo a minha casa para gravarmos alguns filmes. Ou aqueles vídeoclips que gravávamos do Top+... Ou quando íamos a S. J. da Madeira comprar jogos para o Commodore Amiga e já tratávamos as funcionárias por "tu"...
E quando foste com a bicicleta de corrida do Francisco da Costa pela descida de Carvoeiro e te partiram os dois travões? Isso é que foi uma aventura...
E poderia continuar, continuar, continuar que nunca conseguiria dizer tudo o que passámos durante estes anos e que ainda trago aqui comigo...
Aos poucos, o tempo foi passando e o mundo foi crescendo muito para além das fronteiras de Arouca. Embora estejas sempre presente, a vida foi-nos levando por caminhos um pouco diferentes. É mesmo assim e não há mal nenhum nisso. Mas gostava que soubesses que sempre que me lembro de ti é como se tivesses acabado agora mesmo de chegar à escola de bicicleta ou de bater à porta de minha casa. Dizem que isso nos acontece sempre com as pessoas de coração bom. Acredito profundamente que sim.
Sabes... Nunca mais tive amigos como quando tinha 12 anos. Mas será que alguém tem?

Um abraço forte de parabéns.

Schmeichel (como carinhosamente me chamavas)

2 comentários:

sara disse...

As nossas melhores recordações são aquelas que continuam a cada momento fazer-nos sorrir como se acabássemos de as viver!
Ainda bem que tens e tenho muitas, muitas, muitas dessas!!! : )
E vai daqui um xi-coração ao Pedro e muitos Parabéns!
Para ti... " aquele abraço!" ... "aquele", sabes? ... "aquele" que eu ainda estou à espera! : ) he he he

Su disse...

...que sorte ter uma amizade assim..:)
São duas pessoas especiais :)