Longe

Longe.
Depois de um período de ausência justificado pelas férias da Páscoa onde aproveitei os poucos minutos livres para estar junto das minhas meninas, eis-me de regresso. Embora pareça um pouco paradoxal, apesar de ser um regresso, é quando volto a estar longe. Por coincidência, no mesmo dia em que o Abrunhosa nos convida a "ir longe". Saiu ontem e desde ontem que vai tocando aqui pela casa ou pelo carro nas curtas viagens até à escola.
Fala-se numa viragem na sonoridade. Nota-se. Mas é algo suave. Digamos que se desencosta de forma leve do Jazz e pousa de mansinho num som mais pop-rock. Mas nada de mudanças radicais numa fórmula que, tantas vezes, saiu vencedora. Talvez esteja a cometer uma heresia mas acaba por ser um disco que podia perfeitamente ser acompanhado pelos Bandemónio que quase nem se dava pela diferença.
Algumas melodias já me acompanham de forma carinhosa. No entanto, fica o "vazio" de não ter aparecido uma malha a fazer lembrar "Eu não sei quem te perdeu", "Tudo o que eu te dou" ou a "Balada de Gisberta". É pena... Digamos que não é o melhor disco do Abrunhosa mas também está longe de ser o pior. Não tem o nível, a novidade e a profundidade de "Viagens" ou "Tempo" mas está bem melhor do que "Silêncio", por exemplo.
Entretanto vou percorrendo todos estes novos caminhos que estes sons me parecem abrir. E não é difícil encontrar-me em alguns desses compassos...
Podia estar melhor mas não é por isso que deixa de ser recomendável.
Deixo-te com a letra de uma das canções que me tem acompanhado de forma mais próxima.
Prometo voltar amanhã, embora vá continuar bem "longe" por algum tempo...


Se houver um anjo da guarda
(Pedro Abrunhosa)

Um homem contou-me
Que da montanha
Se toca o céu,
Que se encontrou ao subi-la
Mas ao descê-la
Se perdeu.
Viu rastos de cobra
E pegadas de leão:
“Esta vida não sobra
Quando se olha só para o chão!”

E tentou fugir do trilho,
Beijou o tempo como a um filho,
Acordou numa alvorada,
Já sem nada pr’a esconder
E então falou assim:

“Se houver
Um Anjo da Guarda
Que me abrace
E se guarde dentro de mim,
É tão só estar só no fim”.

Outro homem contou-me
Que da cidade
Se vê o mundo,
Que é tão doce o desejo,
Que nenhum beijo
É profundo.
Viu escadas de ouro
E telhados de rubi,
Pensou que o maior tesouro
É cada qual saber de si.

E tentou fugir da sombra,
Dizer à luz que não se esconda,
Correu as ruas, uma a uma,
Já sem nada pr’a perder
E então gritou assim:

“Se houver
Um Anjo da Guarda,
Que me abrace
E se guarde dentro de mim,
É tão só estar só no fim”.
Porque é tão só estar só no fim.

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