Olá Rita.
Faz hoje um ano que nasceste.
Estava sentado à porta do bloco operatório quando resolveste aparecer embrulhada num cobertor, deitada no colo de uma enfermeira. Estavas linda. És, sem dúvida, a menina mais querida com quem alguma vez tive um encontro. Naquele instante, embora não tivesse sido trazido por nenhuma enfermeira, também eu nasci contigo. Ao tocar-te senti ter nascido ali para os melhores dias da minha vida.
Avisaram-me que iam chegar as noites mal dormidas. Confesso-te que ainda estou à espera delas. Foram muitas as que dormi pouco, isso sim. Mas dormir contigo é dormir sempre bem e nunca o contrário.
Gosto quando adormeces no meu colo ou quando fazes birra para dormir na cama do papá e da mamã. Gosto de te pegar na mãozinha pequenina e sentir-te apertar-me com força. Gosto quando gatinhas em cima da cama a chamar por mim para brincar contigo. Gosto quando te vejo dançar em frente à televisão. Gosto quando te vejo comer com a tua boquinha pequenina que mal sabe mastigar. Gosto quando começas a palrar como quem tem muito para dizer. Gosto quando me vês chegar às sextas à noite depois de uma semana ausente e abres os braços em direcção ao meu colo. Gosto quando queres ir ver o correio ou o cão. Gosto quando desarrumas os dvds pelo chão da casa. Gosto do teu cheiro, do teu sabor, do teu riso, de tudo o que vem de ti. Mesmo quando me dás a conhecer o "ai" das coisas.
E gosto muito de te ver dormir. Às vezes fico a ver-te dormir e a sorrir sozinho. Outras, vejo-te inquieta durante o sono e fico a imaginar que imagens são essas que vivem dentro de ti e que te levam a tranquilidade por alguns momentos. Dá vontade de saber tudo o que pensas...
Foi a pensar numa dessas noites que escrevi o seguinte poema que hoje te queria deixar de presente. Espero que gostes.
Muitos parabéns e dorme bem. A gente vê-se logo.
Amo-te muito. Assim como quem ama.
Estória da menina que dorme
(À minha querida filha Rita)
Era escuro como breu!
Era noite carregada.
Quando a noite adormeceu,
Trouxe uma estória assim contada:
São piratas e ladrões
E um palhaço espadachim;
Generais armados e seus batalhões
Todos a correr atrás de mim.
Gatos de barbas compridas
E com palas no canto do olho
Trocam as suas sete vidas
Pela vida onde me encolho.
São as bonecas de trapos
A desvendar os meus segredos.
E monstros cheios de papos
A quererem puxar-me os cabelos!
Até soldadinhos de chumbo,
Vestidos de azul e carmim,
Apontam as suas baionetas
Bem direitinhas a mim.
E eu corro, corro, corro,
Tropeço, pulo e avanço...
Se não paro: "ai que eu morro"
Mas eles não me dão descanso!
"Ai que me vão agarrar"!
Faltam-me as forças nos pés...
Se ao menos eu pudesse nadar!
Se esta estória tivesse marés!
Há outro que corre descalço,
E com sete pedras na mão,
É o que me faz saltar em falso
Mesmo para o meio da escuridão...
Pareço cair sem parar
Num céu que é feito de espuma,
Estendo os braços a voar,
Fico abraçada a coisa nenhuma...
E nesse vazio deslizante,
Com castelos feitos no ar,
Não há, nem por um instante,
Um monstro que consiga entrar!
E se vir algum à espreita,
Bem por detrás da muralha,
Não me fará qualquer desfeita,
Tenho um plano na calha...
Ao aproximar-se o regimento
Ansioso por me deitar a mão,
Zás... Espero o momento
E solto-lhes o bicho papão!
Abro os olhos à luz que acende:
É o colo da minha mamã...
Toda a "tropa" já se rende,
Mesmo antes de ser manhã.
Largo o grito, o choro e o medo,
E tudo o mais que não é diurno.
"Ó mamã, vem mais cedo..."
Ou então nunca mais durmo!
Faz hoje um ano que nasceste.
Estava sentado à porta do bloco operatório quando resolveste aparecer embrulhada num cobertor, deitada no colo de uma enfermeira. Estavas linda. És, sem dúvida, a menina mais querida com quem alguma vez tive um encontro. Naquele instante, embora não tivesse sido trazido por nenhuma enfermeira, também eu nasci contigo. Ao tocar-te senti ter nascido ali para os melhores dias da minha vida.
Avisaram-me que iam chegar as noites mal dormidas. Confesso-te que ainda estou à espera delas. Foram muitas as que dormi pouco, isso sim. Mas dormir contigo é dormir sempre bem e nunca o contrário.
Gosto quando adormeces no meu colo ou quando fazes birra para dormir na cama do papá e da mamã. Gosto de te pegar na mãozinha pequenina e sentir-te apertar-me com força. Gosto quando gatinhas em cima da cama a chamar por mim para brincar contigo. Gosto quando te vejo dançar em frente à televisão. Gosto quando te vejo comer com a tua boquinha pequenina que mal sabe mastigar. Gosto quando começas a palrar como quem tem muito para dizer. Gosto quando me vês chegar às sextas à noite depois de uma semana ausente e abres os braços em direcção ao meu colo. Gosto quando queres ir ver o correio ou o cão. Gosto quando desarrumas os dvds pelo chão da casa. Gosto do teu cheiro, do teu sabor, do teu riso, de tudo o que vem de ti. Mesmo quando me dás a conhecer o "ai" das coisas.
E gosto muito de te ver dormir. Às vezes fico a ver-te dormir e a sorrir sozinho. Outras, vejo-te inquieta durante o sono e fico a imaginar que imagens são essas que vivem dentro de ti e que te levam a tranquilidade por alguns momentos. Dá vontade de saber tudo o que pensas...
Foi a pensar numa dessas noites que escrevi o seguinte poema que hoje te queria deixar de presente. Espero que gostes.
Muitos parabéns e dorme bem. A gente vê-se logo.
Amo-te muito. Assim como quem ama.
Estória da menina que dorme
(À minha querida filha Rita)
Era escuro como breu!
Era noite carregada.
Quando a noite adormeceu,
Trouxe uma estória assim contada:
São piratas e ladrões
E um palhaço espadachim;
Generais armados e seus batalhões
Todos a correr atrás de mim.
Gatos de barbas compridas
E com palas no canto do olho
Trocam as suas sete vidas
Pela vida onde me encolho.
São as bonecas de trapos
A desvendar os meus segredos.
E monstros cheios de papos
A quererem puxar-me os cabelos!
Até soldadinhos de chumbo,
Vestidos de azul e carmim,
Apontam as suas baionetas
Bem direitinhas a mim.
E eu corro, corro, corro,
Tropeço, pulo e avanço...
Se não paro: "ai que eu morro"
Mas eles não me dão descanso!
"Ai que me vão agarrar"!
Faltam-me as forças nos pés...
Se ao menos eu pudesse nadar!
Se esta estória tivesse marés!
Há outro que corre descalço,
E com sete pedras na mão,
É o que me faz saltar em falso
Mesmo para o meio da escuridão...
Pareço cair sem parar
Num céu que é feito de espuma,
Estendo os braços a voar,
Fico abraçada a coisa nenhuma...
E nesse vazio deslizante,
Com castelos feitos no ar,
Não há, nem por um instante,
Um monstro que consiga entrar!
E se vir algum à espreita,
Bem por detrás da muralha,
Não me fará qualquer desfeita,
Tenho um plano na calha...
Ao aproximar-se o regimento
Ansioso por me deitar a mão,
Zás... Espero o momento
E solto-lhes o bicho papão!
Abro os olhos à luz que acende:
É o colo da minha mamã...
Toda a "tropa" já se rende,
Mesmo antes de ser manhã.
Largo o grito, o choro e o medo,
E tudo o mais que não é diurno.
"Ó mamã, vem mais cedo..."
Ou então nunca mais durmo!
5 comentários:
O poema está espectacularmente bem escrito e engraçado! Temos poeta! Tal como temos marido e pai! Obrigada por ti!
Odete
Papá, ainda não sou capaz de agradecer com palavras bonitas aquelas que me diriges hoje! Ensina-me a gostar de ler, a gostar de poesia, a gostar de histórias de encantar e de rimas. Sabes uma coisa que não vais precisar ensinar-me: a gostar de ti!
Um beijinho,
Rita
E muitos parabéns à Rita que está uma menina "catita"! : ) .... era para rimar mas é mesmo verdade!!! : )Agora, sem brincar, como é que a criança há-de dormir??? Num carro de mão?? : ) Não há sono que resista!! :) he he he
E muitos parabéns aos papás babados!
Eu também gostei muito da ESTÓRIA DA MENINA QUE DORME, e fico à espera da próxima... entretanto, vou contar esta à Bia... acho que ela vai adorar! Bj grande e ...estás também de parabéns!
Olá padrinho!
Está muito gira e engraçada a tua história.
E olá rita. Parabéns!
beijinhos da bia
Que delicia Miguel...
Estou com muitas saudades vossas!
Vocês são LINDOS!!!
Enviar um comentário