De olhos fechados…
De olhos fechados vejo-te lá longe…
Vejo-te lá longe… Mas sinto-te tão perto. Sinto-te a gritar por mim quando a própria noite já há muito que descansa. Sinto-te a acorrentares-te a mim, de uma forma tão sentida e apertada que nem o próprio Houdini se conseguiria libertar de ti. Sinto-te a querer-me como a água do mar deseja a areia num “sem-parar” apaixonante. Sinto-te a caminhar-me nas veias de cada vez que me mostras que te lembras de mim. Sinto-te em cada sorriso que me dás e que nenhuma varinha de condão conseguirá apagar deste lugar que te criei e onde te guardo. Sinto-te em cada rajada de vento que me abraça num final de tarde à beira-mar. De olhos fechados, eu sinto-te… Sinto-te de tal maneira arraigada em mim como as heras se prendem às paredes de um pequeno casebre ao entardecer. Sim… Eu sinto-te… De olhos fechados…
De olhos abertos…
De olhos abertos vejo-te lá longe…
Vejo-te lá longe… E sinto-te tão longe. Porque não consigo espalhar magia. Não consigo…Porque me deixas aqui… Assim… Uma espécie de Houdini sem correntes ou rio sem leito… Porque te sinto como esta água que, em lugar de ser refresco para os meus lábios, se me escapa por entre os dedos… Porque, por muito bela e grandiosa que seja a minha ilusão, ela só ganha sentido quando estou de olhos fechados… Porque deste alto onde me encontro, pousado na leveza destas asas de papel que deito sobre o azul de todo o céu que te cobre, vejo-te longe… Muito longe… Cada vez mais longe… Assim como se estivesses prestes a tropeçar e todo eu a nada conseguir fazer… Nada… Porque não consigo espalhar magia… Não consigo…
Por ti, atravessei mil ventos e marés. Por ti, lavei-me com a água de inúmeras e rigorosas tempestades. Por ti, ofereci as minhas pobres asas a todo o tipo de granizo. Por ti, fiz das maiores tormentas os mais meigos cordeiros que conseguiria alguma vez desenhar na minha imaginação. Por ti… Por ti…
Sinto que não consegui…
Sinto que não consigo…
Sinto que não conseguirei…
1 comentários:
O significado das palavras está em quem as diz...Não nas próprias palavras. Continua assim Rui...
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