Scheherazade


Negro. Escuro como breu. De asas estendidas, atravesso, sem qualquer pressa, o negro céu que me pinta a cara. Lembro-me ainda de estar entalado entre dois azuis: o do céu, esborratado aqui e ali pelo branco de algumas nuvens; e o do mar, também ele sarapintado, de quando em vez, por um branco saltitante, provocado pela espuma das ondas que se fazem e desfazem onde lhes convém. Um branco de tal forma brilhante e belo, que causa a ilusão de serem pequenas “Moby Dick” a deambular por alto mar. Como se essas ondas apenas estivessem a nascer e a rebentar ali para serem admiradas por mim. Para me fazerem feliz a cada olhar meu. Eu a elas. E elas a mim. E eu lembro-me. Sempre.
É noite. Agora. Escura. Continuo entalado mas, desta vez, entre dois negros: o do céu e o do mar. E procuro por ti. De asas abertas. À espera de te encontrar, também assim… Para provares do meu abraço. Para voares do meu voo. E faço de ti, nesta noite acabada de nascer, a minha Scheherazade. Porque sinto nesta meia-luz do luar uma das tais 1001 noites que, certa altura, alguém se lembrou de contar. Porque te sinto princesa. E, à semelhança de Scheherazade, vejo-te a contar-me histórias antes de cada adormecer. Mesmo que não fales. Mesmo que nem sequer sussurres. Porque os teus cabelos largados ao vento são poemas. São pedaços de dança que embalam esta beleza de te sentir. A cada momento. A todo o momento. Porque dentro da menina dos teus olhos encontro mundos sem igual. Onde quero estar. Onde quero ser. Ser mais. Bem mais que os Aladinos das lâmpadas mágicas, os Ali-Babás atrelados a quarentenas de ladrões mágicos ou qualquer Sinbad das 7 viagens fantásticas pelo Mundo. Porque, a cada noite, sou mais que as 1001 noites dessas histórias fantásticas saídas da boca meiga de Scheherazade, enquanto adormecia o Rei. Porque te sinto. Cada pedaço de ti. Porque as minhas asas não sabem deixar-se levar pela parte do céu onde parece ser sempre mais noite. E é assim que adormeço e me deixo pousar. Num mundo que me dás. Sempre diferente. Sempre teu. Sempre meu. Sempre nosso. A cada noite. Todas as noites. Sempre.
Voa comigo. Por um sentir. Por mim. Por um dia. Por uma noite. Por 1001 noites. Por um segundo. O tempo que quiseres. Faço dele o nosso “sempre”…

1 comentários:

Anónimo disse...

nao tem só o dom da musica, tem também o da escrita... ja pensou juntar cada pedacinho dos seus textos e fazer um livrinho? como um diário.... eu comprava! comprava o livro, o cd, os bilhetes dos concertos, comprava o ceu, a lua, comprava tudo! e comprava de volta cada momento que tenho saudades.... aqueles momentos de "3x4=D"
aqui também eu consigo levantar voo!